"Os cidadãos
muitas vezes demoram a compreender que sua democracia está sendo desmantelada –
mesmo que isso esteja acontecendo bem debaixo do seu nariz."
(Steven Levitsky [1968], cientista político americano)
Integrante de uma sociedade (sic)
pródiga na criação de datas comemorativas, de vez em quando encontro alguma que
desperta minha atenção. A última delas foi encontrada no dia dezessete deste
mês. Tendo saído para ir a um mercado localizado em uma praça próxima a minha
residência, fiquei surpreso ao encontrá-lo fechado naquela segunda-feira. Caminhando
por ruas adjacentes e encontrando outros estabelecimentos comerciais fechados,
conclui que estava diante de um feriado no qual não havia me ligado. Tentando descobrir
qual seria, lembrei do Dia do Comerciário. Retornando à residência, fui ao
Google para pesquisar as datas comemorativas do mês de outubro e no endereço https://www.datascomemorativas.me/ não encontrei, no dia 17, o Dia do Comerciário.
Procurando-o nos outros dias, encontrei-o no dia 30, o que foi uma surpresa, porém
a procura trouxe-me outra surpresa. O dia 25 como Dia da Democracia. Prosseguindo
nas pesquisas, usando Dia da Democracia como argumento, obtive quatro
resultados interessantes que relaciono a seguir.
25 de outubro, Dia da Democracia: direito de voto é conquista democrática https://www.tre-sp.jus.br/comunicacao/noticias/2021/Outubro/25-de-outubro-dia-da-democracia-direito-de-voto-e-conquista-democratica25 de outubro: Dia da Democracia no Brasil https://www.psb40.org.br/noticias/25-de-outubro-dia-da-democracia-no-brasil/O que é o Dia Internacional da Democracia? – Politize https://www.politize.com.br/dia-internacional-da-democracia/Dia Internacional da Democracia é celebrado nesta quinta em 128 nações https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2022/09/14/ dia-internacional-da- democracia-e-celebrado-nesta- quinta-em-128-nacoes
Feito
este preâmbulo segue um texto elaborado a partir dos referidos textos.
Quando foi criado o Dia Internacional da Democracia?
Em 2007, dez anos após a assinatura da
Declaração Universal da Democracia aprovada em 16 de setembro de 1997 pela União
Interparlamentar (UIP). Declaração cuja intenção é contribuir para um melhor
entendimento sobre o que é democracia e, sendo assim, abrange princípios e
características de uma conduta democrática, incluindo governos e sociedade,
como forma de uniformizar os conceitos indispensáveis para o desenvolvimento humano.
Declaração Universal da Democracia que entre seus princípios inclui o reproduzido
a seguir.
"A democracia é um ideal universalmente reconhecido, uma meta que se baseia em valores comuns partilhados pelos povos de todo o mundo, independentemente de diferenças culturais, políticas, sociais e econômicas. É, portanto, um direito básico de cidadania a ser exercido em condições de liberdade, igualdade, transparência e responsabilidade, com o devido respeito à pluralidade de pontos de vista, no interesse da comunidade."
O dia
definido como Dia Internacional da Democracia foi 15 de setembro e a data é celebrada
anualmente nos 128 Estados que assinaram a Declaração e se comprometeram com o
avanço da democracia, entre eles o Brasil.
Por que celebrar a democracia?
Porque a
democracia é o ponto de partida para o desenvolvimento de qualquer sociedade,
baseada no respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais, como a
liberdade de imprensa e de pensamento. Conforme exposto na Declaração Universal
da Democracia:
"Como ideal, a democracia destina-se essencialmente a preservar e promover a dignidade e os direitos fundamentais do indivíduo; alcançar a justiça social; e fomentar o desenvolvimento econômico e social da coletividade, reforçando a coesão social e a tranquilidade da nação, proporcionando o equilíbrio interno, para criar um ambiente favorável à paz internacional. Como forma de governo, a democracia é a melhor forma de se alcançarem esses objetivos e também o único sistema político que tem a capacidade de promover sua correção."
Portanto, celebrar
a democracia é relembrar, e reforçar, a importância que ela tem para que os cidadãos
consigam exercer seus direitos e suas liberdades, seja no âmbito econômico,
político, social ou cultural. É também trazer à tona o debate sobre
a necessidade de defender e proteger os regimes democráticos pelo mundo. Em
outras palavras, é enfatizar a importância que têm os regimes democráticos como
parte fundamental da engrenagem que move o mundo.
Dia da Democracia no Brasil
Segundo dois textos citados no início desta postagem (25 de
outubro, Dia da Democracia: direito de voto é conquista democrática e 25 de outubro: Dia da Democracia no Brasil), há no
Brasil o Dia da Democracia, celebrado em 25 de outubro. Quando tal dia foi criado
é algo que não consegui descobrir, porém, ainda segundo os referidos textos, a
escolha de 25 de outubro como Dia da Democracia deve-se a um triste episódio na história deste
país: a morte do jornalista Vladimir Herzog, ocorrida nesta data, em 1975.
Militante na luta pelo fim da ditadura militar, Herzog foi torturado e morto.
Sua morte causou indignação popular e tornou-se um marco na luta pela
redemocratização do Brasil, consolidada com a Constituição Federal de 1988. E
ameaçada pela Eleição Presidencial de 2022.
Diante do que é dito até aqui, entendo que o que nos cabe
fazer no próximo dia 30 não é apenas escolher quem ocupará o cargo de
presidente deste país nos próximos quatro anos, e sim fazer várias outras escolhas,
dentre elas as relacionadas a seguir:
- Se o final do Hino Nacional continuará sendo "Pátria
amada, Brasil" ou passará a ser "Pátria armada, Brasil".
- Se, na condição de indivíduos declarados cristãos, seguiremos
a recomendação do Cristo – amai-vos uns aos outros – ou a recomendação de um indivíduo
que, alegando ser cristão, propaga o – armai-vos
uns contra os outros.
- Se, na condição de indivíduos declarados cristãos, seguiremos
a recomendação do Cristo – "A
César o que é de César, e a Deus o que é Deus" – e separaremos a política
da religião ou apoiaremos vendilhões do templo que usam a religião com fins
políticos. Para ajudá-los a escolherem entre as duas opções, cabe lembrar que atuar
como vendilhão do templo é algo tão grave que, pelo que consta nos Evangelhos,
embora Jesus tenha sido capaz de perdoar a traição daquele que o entregou aos
seus carrascos, ele não fez o mesmo em relação aos que comercializavam no
templo.
- Se, na condição de indivíduos que dizem acreditar na
existência de Deus, acreditaremos em um Deus que, segundo os Evangelhos, está
no meio de nós ou em um Deus que, segundo a "pregação" feita por
um político que propositalmente mistura política com religião, está acima de
todos, e de quem ele é um enviado (sic).
- Se, na condição de indivíduos que dizem seguir
religiões inspiradas em alguém que morreu torturado, escolheremos votar em
alguém que idolatra um torturador.
- Se desejamos continuar escolhendo quem durante quatro
anos ocupará a presidência deste país, pois ele pertence a todos os que nele
vivem ou se permitiremos que ela seja ocupada, sabe-se lá por quantos anos, por
alguém que considera que este país pertence a ele e aos seus familiares. Para
aqueles que não sabem ou não lembram, durante 25 anos (entre 1964 e 1989) a
escolha do ocupante da presidência deste país não foi permitida aos seus
integrantes. Compreendido?
- Se queremos ou não continuar comemorando o Dia da
Democracia. O Nacional em 25 de outubro e o Internacional em 15 de setembro.
Sim, são muitas as escolhas a serem
feitas. Escolhas difíceis, pois vivemos tempos sombrios e sinistros! Tempos para
os quais, em um livro abrangente, esclarecedor e
assustadoramente oportuno intitulado Como
as democracias morrem, publicado em 2018, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt
– dois conceituados professores de Harvard fazem o seguinte alerta:
"A democracia atualmente não termina com uma ruptura violenta nos moldes de uma revolução ou de um golpe militar; agora, a escalada do autoritarismo se dá com o enfraquecimento lento e constante de instituições críticas – como o judiciário e a imprensa – e a erosão gradual de normas políticas de longa data."
Não, qualquer semelhança entre o que é dito acima e o que,
quem tem olhos de ver, vê neste país não é mera coincidência, é trágica
ocorrência. Sim, agora, a democracia termina pela eleição do autoritário,
fazendo-me lembrar as seguintes palavras de Albert Einstein, considerado um dos
maiores gênios da humanidade: "Existem apenas duas coisas infinitas – o
universo e a estupidez humana. E não tenho tanta certeza quanto ao
universo.". Dito isto, deixo como considerações finais a seguinte
mensagem:
Escolher não escolher, ou
seja, votar nulo, votar branco ou abster-se, pode até ser uma escolha, porém, é
algo que jamais deverá ser usado como desculpa para eximir-se de
responsabilidade pelo que de pior vier a ocorrer num país em que se vive e no
qual se tem um título de eleitor, pois, se tivesse sido feita a escolha, o
resultado poderia ser outro. Portanto, é hora de pensar muito bem para que
depois não se venha a chorar sobre a democracia derramada! Compreendido?
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