sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Reflexões provocadas por "A sabedoria dos povos indígenas" (I)

Após a "intromissão" da postagem alusiva ao Dia dos Pais na sequência das postagens, seguem algumas reflexões provocadas pela postagem intitulada A sabedoria dos povos indígenas. Porém, antes de iniciá-las, segue uma explicação que considero conveniente. Um comentário sobre a postagem A sabedoria dos povos indígenas enviado por e-mail começa assim:
"Infelizmente estes índios brasileiros não conversam mais com os espíritos. Apenas tentam conversar com o governo em troca de mais verbas..."
E após algumas afirmações desqualificando "estes índios brasileiros" o comentário termina assim:
"Resta apenas aos brancos falarem com seus espíritos para terem uma melhor evolução, pois a humanidade estará condenada se não o fizer."
A resposta ao referido e-mail começa assim:
"Ao reproduzir um texto intitulado A sabedoria dos povos indígenas, minha intenção não é espalhar as atuais práticas "destes índios brasileiros" aos quais você se refere, e sim a sabedoria ancestral desenvolvida por povos indígenas de vários países ao longo de vários séculos."
E prossegue dizendo, entre outras coisas, que existem inúmeras publicações nas quais autores brancos citam a utilização da sabedoria dos povos indígenas como algo imprescindível à transformação deste planeta em algo que faça jus ao termo civilização.
Por que decidi citar o referido comentário nestas reflexões? Porque acredito que mais pessoas tenham tido reação semelhante ao ler a referida postagem. Sendo assim, considerei conveniente esclarecer qual é a minha intenção ao espalhar as ideias contidas no texto de Fernando Mansur. Como diz uma afirmação do psicanalista Jacques Lacan da qual gosto muito, "Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou". Feito este preâmbulo, iniciemos as reflexões.
"Os índios têm a consciência da vida que habita todas as formas e sabem que tudo está em evolução. (...) Estamos todos conectados. O que é feito a um filho da terra repercute nos demais.".
Extraído do texto de Fernando Mansur, o parágrafo acima apresenta alguns aspectos da visão de mundo encontrável na ancestral sabedoria dos povos indígenas. Extraído do livro de Peter Senge intitulado A Quinta Disciplina, o parágrafo abaixo apresenta alguns aspectos da visão de mundo encontrável na atual sei lá o que dos homens brancos.
"Desde a mais tenra idade, nos ensinam a dividir os problemas, a fragmentar o mundo, o que parece ter o dom de facilitar tarefas e questões complexas. Mas o preço que pagamos por isso é enorme, pois deixamos de ver as consequências de nossos atos e perdemos a noção de integração com o todo maior. Quando queremos 'enxergar o quadro inteiro', tentamos remontar os fragmentos em nossa mente, relacionar e organizar todas as peças. Contudo, sendo esse um trabalho inútil – o mesmo que tentar juntar os fragmentos de um espelho quebrado para ver o reflexo verdadeiro -, depois de algum tempo desistimos de ver o conjunto global."
Diante do que é dito acima, será que é difícil perceber que, mais do que diferentes, as visões de mundo de indígenas e de homens brancos chegam a ser antagônicas? Antagonismo do qual resultam ações e consequências deploráveis como as descritas por Fernando Mansur no texto que provocou estas reflexões, e  reproduzidas no próximo parágrafo.
"Quando os colonizadores europeus invadiram terras indígenas e lhes impuseram vícios e crenças tortas, o resultado foi devastador."
Um resultado devastador que leva Fernando Mansur a formular a seguinte pergunta:
"Por que alguns povos se achavam (e se acham) no direito de invadir outros povos, impondo seus padrões a pessoas que, no decorrer dos séculos, mostraram-se muito mais espiritualizadas do que os invasores?"
Pergunta para a qual ele diz ter encontrado uma explicação bem ampla num dos livros de H. P. Blavatsky, A Doutrina Secreta. Explicação reproduzida no parágrafo abaixo.
"A autora diz que, em função do extraordinário crescimento do intelecto no homem de nossa era, esse progresso vertiginoso paralisou nossas percepções espirituais. Ela explica que o intelecto geralmente sobrevive à custa da sabedoria e que a humanidade não está preparada, em nossa condição atual, 'para compreender o terrível drama da desobediência humana às leis da natureza e a subsequente queda como resultado'".
Explicação sobre a qual Fernando Mansur diz o seguinte:
"Há muito o que refletir sobre o que Blavatsky escreveu. A situação atual do  mundo comprova que avanços intelectuais e tecnológicos têm nos levado mais à destruição do que à construção de um caráter compatível com o propósito maior da vida."
"O intelecto geralmente sobrevive à custa da sabedoria", diz H. P. Blavatsky em uma afirmação que deveria nos dar o que pensar. Sim, a situação atual do mundo comprova que não é com avanços intelectuais e tecnológicos que solucionaremos a encrenca em que nos metemos, pois como disse Albert Einstein: "Não podemos resolver nossos problemas usando o mesmo tipo de pensamento que os criou." Ou seja, não será com os avanços que têm nos levado à destruição que tornaremos possível a construção de alguma coisa que preste. Intelecto e sabedoria, eis duas coisas que precisam conviver em harmonia. E com a sabedoria orientando o intelecto. Dito isto, revisitemos mais um trecho do texto de Fernando Mansur.
"Atualmente, mais uma vez, o planeta pede socorro, e é nesses ensinamentos ancestrais que vamos buscar refúgio, orientação e esperança de mudança. Este artigo surgiu a partir da leitura do livro Pés nus sobre a terra sagrada – um impressionante autorretrato dos índios norte-americanos, compilado por T. C. McLuhan." Livro no qual há um depoimento de uma anciã índia do qual extraí os seguintes trechos: "O homem branco jamais se preocupou com a terra, nem com os animais. (...) Como é que o espírito da terra pode gostar do homem branco? Onde o branco põe a mão há sofrimento."
"O homem branco jamais se preocupou com a terra, nem com os animais.", ou seja, o homem branco jamais se preocupou com a natureza, e agindo assim, consequentemente, dela se afastou. Afastamento que leva Fernando Mansur ao seguinte questionamento: "Será que nosso afastamento da natureza favorece o esquecimento de suas leis?". Questionamento respondido por ele mesmo no parágrafo de seu texto reproduzido a seguir.
"É o que mostra a sabedoria indígena, quando diz: 'Montanhas são sempre mais belas que edifícios de pedra. Viver na cidade é uma existência artificial. Quantas pessoas jamais sentiram o solo real sob os pés, ou viram uma planta crescer a não ser nos vasos, ou se afastaram o suficiente da iluminação urbana para surpreender o encanto de uma noite estrelada? Quando as pessoas vivem longe das paisagens criadas pelo Grande Espírito, logo acabam por esquecer Suas leis.'"
Considerando que o esquecimento das leis criadas pelo Grande Espírito não exime os esquecidos das consequências de sua inobservância, lamentavelmente, o resultado é esse que aí está.
"Os povos indígenas são guardiões do conhecimento divino. Essa afirmação aparece na obra O Despertar do Eu Superior, de J. J. Hurtak: 'Os Vigilantes têm-se ocultado e, no entanto, há gerações Eles têm estado em comunicação com os povos indígenas da Terra, que têm ajudado a proteger estas malhas sagradas até os dias de hoje'."
"O parágrafo acima é a reprodução do segundo parágrafo do instigante texto de Fernando Mansur. Texto que termina com a seguinte afirmação:
"É dito que no índio mora o espírito da terra. Se o espírito do índio tivesse sido subjugado como foi seu corpo, eles já teriam desaparecido. E nós também."
Quanto às reflexões provocadas pelo texto, elas prosseguirão após a postagem alusiva a uma data comemorativa, pois ainda existem várias associações a serem feitas a coisas ditas no instigante texto.

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