segunda-feira, 8 de agosto de 2022

A sabedoria dos povos indígenas

"Não ande atrás de mim, talvez eu não saiba liderar. Não ande na minha frente, talvez eu não queira segui-lo. Ande ao meu lado, para podermos caminhar juntos."

  (Provérbio Ute)
Cumprindo o que foi prometido no último parágrafo da postagem anterior, segue um texto intitulado A sabedoria dos povos indígenas. Onde o obtive? Na edição número 69 da revista SOPHIA, referente a SET/OUT 2017. O autor? Fernando Mansur, radialista, escritor e membro da Sociedade Teosófica no Rio de Janeiro.
A sabedoria dos povos indígenas
'Os indígenas são guardiões do conhecimento divino, e é nesses ensinamentos ancestrais que vamos buscar refúgio, orientação e esperança de mudança'
Helena Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica, conviveu num certo período com índios norte-americanos, conforme conta a sua biografia. Não temos, porém, relatos sobre essa convivência nem sobre o tempo que durou. Blavatsky disse, em certa altura de sua vida, que alguns encontros que teve com certas pessoas de várias partes do mundo eram sagrados demais para serem profanados.
"Os povos indígenas são guardiões do conhecimento divino. Essa afirmação aparece na obra O Despertar do Eu Superior, de J. J. Hurtak: "Os Vigilantes têm-se ocultado e, no entanto, há gerações Eles têm estado em comunicação com os povos indígenas da Terra, que têm ajudado a proteger estas malhas sagradas até os dias de hoje."
Atualmente, mais uma vez, o planeta pede socorro, e é nesses ensinamentos ancestrais que vamos buscar refúgio, orientação e esperança de mudança. Este artigo surgiu a partir da leitura do livro Pés nus sobre a terra sagrada – um impressionante autorretrato dos índios norte-americanos, compilado por T. C. McLuhan.
Sua leitura me pareceu urgente, principalmente quando estamos começando a ter consciência do quanto nos afastamos da sabedoria essencial da natureza, da qual somos parte. À medida que a leitura transcorre, é possível recordar aquilo que fomos um dia e em que nos transformamos. Vejam, por exemplo, o depoimento de uma anciã índia: "O homem branco jamais se preocupou com a terra, nem com os animais. Quando nós, índios, queremos arrancar uma raiz, fazemos pequenos buracos no chão. Quando construímos casas, também fazemos pequenos buracos. Não derrubamos árvores. Usamos apenas madeira morta. Mas os brancos reviram a terra, arrancam as árvores, matam tudo. A árvore diz: 'Não! Eu sou sensível. Não me fira.'. Mas eles a derrubam e a cortam em pedaços. Os brancos explodem rochas e as espalham pelo chão. A pedra diz: 'Não! Você está me ferindo.' Mas eles não prestam atenção... Como é que o espírito da terra pode gostar do homem branco? Onde o branco põe a mão há sofrimento."
Os índios têm a consciência da vida que habita todas as formas e sabem que tudo está em evolução.
"Os chamados Mestres de Sabedoria, numa de suas cartas para o teósofo A. P. Sinnett, recomendam: "Sede muito ternos com as criancinhas e ainda mais ternos para com todos os que errarem, pouco conhecendo da sabedoria; e mais ternos ainda para com os animais, a fim de que eles passem para o próximo caminho pela porta do amor e não pela do ódio. Sede carinhosos com as flores e as árvores. Pertenceis todos ao mesmo sangue, à mesma origem, à mesma meta. Sabei desta verdade e vivei-a."
Estamos todos conectados. O que é feito a um filho da terra repercute nos demais. A situação do planeta e de seus habitantes é a parte manifesta do karma coletivo.
"Será que nosso afastamento da natureza favorece o esquecimento de suas leis? É o que mostra a sabedoria indígena, quando diz: "Montanhas são sempre mais belas que edifícios de pedra. Viver na cidade é uma existência artificial. Quantas pessoas jamais sentiram o solo real sob os pés, ou viram uma planta crescer a não ser nos vasos, ou se afastaram o suficiente da iluminação urbana para surpreender o encanto de uma noite estrelada? Quando as pessoas vivem longe das paisagens criadas pelo Grande Espírito, logo acabam por esquecer Suas leis."
"Montanhas são sempre mais belas que edifícios de pedra. Viver na cidade é uma existência artificial. Quando as pessoas vivem longe das paisagens criadas pelo Grande Espírito, logo acabam por esquecer Suas leis."
São alertas oportunos para todos nós que vivemos sob o mesmo sol e as mesmas estrelas guias. As linguagens das diferentes tradições podem variar, mas o ensinamento é semelhante.
O livro continua: "Vocês sabiam que as árvores falam? Pois é verdade. Falam entre si e falarão com você se quiser escutar. O problema é que os brancos não escutam. Mas eu aprendi um bocado com as árvores: às vezes sobre o tempo, às vezes sobre os animais, às vezes sobre O Grande Espírito."
De vez em quando precisamos retirar os sapatos para pisar com "os pés nus sobre essa terra sagrada", como diz o título do livro.
Quando os colonizadores europeus invadiram terras indígenas e lhes impuseram vícios e crenças tortas, o resultado foi devastador. Por que alguns povos se achavam (e se acham) no direito de invadir outros povos, impondo seus padrões a pessoas que, no decorrer dos séculos, mostraram-se muito mais espiritualizadas do que os invasores?
Para essa pergunta inquietante encontrei uma explicação bem ampla num dos livros de H. P. Blavatsky, A Doutrina Secreta. A autora diz que, em função do extraordinário crescimento do intelecto no homem de nossa era, esse progresso vertiginoso paralisou nossas percepções espirituais. Ela explica que o intelecto geralmente sobrevive à custa da sabedoria e que a humanidade não está preparada, em nossa condição atual, "para compreender o terrível drama da desobediência humana às leis da natureza e a subseqüente queda como resultado".
Há muito o que refletir sobre o que Blavatsky escreveu. A situação atual do mundo comprova que avanços intelectuais e tecnológicos têm nos levado mais à destruição do que à construção de um caráter compatível com o propósito maior da vida.
Voltando ao relato dos índios, o que você vai ler a seguir é uma síntese preciosa de um modo de ser e de viver: "Quando criança eu sabia ser generoso; esqueci essa graça ao me tornar civilizado. Eu vivia a vida natural, quando agora vivo a artificial. Qualquer pedrinha colorida tinha valor para mim, toda árvore era um objeto de reverência. A arrogância espiritual sempre foi estranha à natureza do índio e aos seus ensinamentos. Jamais pretendeu que o poder do discurso articulado fosse uma prova de superioridade sobre a criação silenciosa."
E esta parte sobre o silêncio: "Se lhe perguntam: 'O que é o silêncio?', responderá: 'É o Grande Mistério! O sagrado silêncio é Sua voz!' Se lhe perguntam: 'Quais são os frutos do silêncio?', responderá: 'O autocontrole, a verdadeira coragem ou perseverança, a paciência, a dignidade e a reverência. O silêncio é a pedra angular do caráter. O silêncio é o absoluto repouso ou equilíbrio de corpo, mente e espírito.'"
Quando você puder, ouça de novo a canção "Um índio", de Caetano Veloso. Um trecho da letra diz assim: "Um índio (...) mais avançado que a mais avançada das tecnologias".
Caetano previu que o índio voltará, "e aquilo que nesse momento se revelará aos povos/surpreenderá a todos não por ser exótico/mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto/quanto terá sido o óbvio".
É dito que no índio mora o espírito da terra. Se o espírito do índio tivesse sido subjugado como foi seu corpo, eles já teriam desaparecido. E nós também.
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"Quando você puder, ouça de novo a canção 'Um índio', de Caetano Veloso (lançada em 1977). Um trecho da letra diz assim: 'Um índio (...) mais avançado que a mais avançada das tecnologias'", eis a recomendação feita por Fernando Mansur.
Quando você puder, reflita sobre tudo o que é dito no excelente texto de Fernando Mansur.

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