quarta-feira, 20 de julho de 2022

A eterna dificuldade de se viver em sociedade

 "Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que a fez tão importante."

  (Antoine de Saint-Exupéry, em uma obra prima intitulada O Pequeno Príncipe)
Em meio a tantas datas comemorativas, muitas delas eminentemente comerciais, existem algumas sobre as quais gosto de publicar mensagens e a de hoje é uma delas. Mas existe também um problema: após vários anos publicando postagens sobre uma determinada data, chega um dia em que fica difícil obter ou elaborar um bom texto que a focalize diretamente. Sendo assim, neste Dia do Amigo, a ideia que me ocorreu foi publicar um texto que, embora inicialmente pareça nada ter a ver com o tema amizade, poderá, ao término de sua leitura, levar quem o leu a concluir que tem.
O texto é a transcrição de um vídeo da escritora Carolina Vila Nova, publicado em seu canal no You Tube sob o título A eterna dificuldade de se viver em sociedade. Um vídeo em que ela fala sobre um texto homônimo publicado anteriormente em seu site. Por que escolhi fazer a transcrição do vídeo em vez da simples reprodução do texto escrito? Não, não foi porque gosto de complicar as coisas, e sim porque, embora sejam coisas bastante parecidas, em termos de uso como mensagem alusiva ao Dia do Amigo, o que Carolina fala no vídeo toca-me mais do que o que ela escreveu no texto.
Para quem quiser avaliar a minha escolha, seguem os endereços do vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=gK-z65v8H10) e do texto (https://www.carolinavilanova.com.br/a-eterna-dificuldade-de-se-viver-em-sociedade/). Os grifos são meus e têm a finalidade de associar o texto espalhado à data que hoje é comemorada.
 A eterna dificuldade de se viver em sociedade
Nós vamos falar sobre um texto que se chama A eterna dificuldade de se viver em sociedade. Quando escrevi esse texto eu estava pensando assim: na nossa família, muitas vezes, já é difícil a gente se relacionar bem com todas as pessoas. Por quê? Ah, existem pessoas erradas? Não. Existem pessoas que divergem um pouco da personalidade que nós temos; as afinidades são diferentes. E quando você pensa nisso num âmbito maior: nos meus vizinhos, onde eu estudo, no meu local de trabalho, onde eu pratico um esporte, num curso que eu faço, no trânsito, nos desconhecidos na rua. Quanto maior o ambiente em que eu convivo, a sociedade que eu tenho ao meu redor, mais dificuldade de convivência eu vou ter.
Um ponto muito interessante pra gente pensar é assim: na sociedade em que a gente vive hoje a nossa comunicação se tornou muito mais fácil, muito mais rápida, porém, muito mais acelerada. Nós temos uma quantidade maior, mas ela é feita de maneira superficial. Por exemplo: seu eu tenho um amigo, uma amiga, eu acabo me conectando com essa pessoa não mais por telefone, não mais pessoalmente, não tem mais aquele encontro em que eu vou sentar e falar: "oi, tudo bem?", "como é que você está?", e realmente ouvir essa pessoa. Nós estamos fazendo isso de uma maneira assim: eu entro no facebook, curto, faço um comentário, pronto, nem ponto final, pra não perder tempo. Mando uma mensagem no whatsapp ou um áudio, mas telefonema, por exemplo, é uma coisa que eu já não faço mais.
Eu vou passar na casa da minha amiga, pra visitar ela, no fim de semana? Eu vou ter mais tempo pra minha família? Nós não temos mais feito isso. Essa modernidade nos proporcionou um número maior de conexões, numa velocidade muito maior, mas muito mais superficial. Nós não paramos mais para ter uma relação profunda com alguém. Quem usa o telefone hoje, pra conversar com um amigo? E perguntar, e ouvir, - como você está? E ouvir; não ficar assistindo televisão ao mesmo tempo, ouvindo e mexendo no facebook. Nós não fazemos mais isso. E o que está acontecendo é que as nossas relações ficam cada vez mais superficiais, eu me distancio das pessoas, e acabo me contentando com uma mensagenzinha no whatsapp, que às vezes nem foi mandada realmente com uma intenção de carinho, quantas pessoas curtiram a minha foto. Eu começo a me satisfazer com outras coisas que também são superficiais, mas que não me preenchem de verdade.
E o que me preocupa, que me faz refletir é que estamos caminhando para algo ainda pior do que isso, mais superficial, cada vez mais rápido, mais pessoas e menos investimento nas pessoas que realmente nos dão atenção. Poucos são os amigos, inclusive eu, confesso, que têm o hábito de realmente ligar para as pessoas que gostam. Tem amizades que duram porque felizmente tem algumas pessoas que se esforçam pra isso, mas são muito poucas.
E quando eu penso no futuro, eu penso que estamos caminhando para algo cada vez mais superficial, e vamos sempre nos adaptar, vamos aceitar sim cada vez menos, porque por menos que seja sempre precisaremos uns dos outros, senão sozinhos nem subsistiríamos.
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"Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que a fez tão importante.", diz Antoine Saint-Exupéry, em seu extraordinário livro O Pequeno Príncipe.
"Essa modernidade nos proporcionou um número maior de conexões, numa velocidade muito maior, mas muito mais superficial. Nós não paramos mais para ter uma relação profunda com alguém. (...) Cada vez mais rápido, mais pessoas e menos investimento nas pessoas que realmente nos dão atenção. (...) Tem amizades que duram porque felizmente tem algumas pessoas que se esforçam pra isso, mas são muito poucas.", diz Carolina Vila Nova.
"Ou seja, se considerarmos que é o tempo que lhe é dedicado que torna algo importante, parece-me óbvio que desenvolver amizades é algo que deixou de ser importante para a imensa maioria dos integrantes desta insana sociedade.
"E o que está acontecendo é que as nossas relações ficam cada vez mais superficiais, eu me distancio das pessoas, e acabo me contentando com uma mensagenzinha no whatsapp, que às vezes nem foi mandada realmente com uma intenção de carinho, quantas pessoas curtiram a minha foto. Eu começo a me satisfazer com outras coisas que também são superficiais, mas que não me preenchem de verdade.", diz Carolina Vila Nova.
"Satisfazer-se com coisas superficiais que não as preenchem de verdade!" Será que faz sentido considerar uma espécie cujos seres satisfazem-se dessa forma como a espécie inteligente do universo?
"E quando eu penso no futuro, eu penso que estamos caminhando para algo cada vez mais superficial, e vamos sempre nos adaptar, vamos aceitar sim cada vez menos, porque por menos que seja sempre precisaremos uns dos outros, senão sozinhos nem subsistiríamos.", diz Carolina Vila Nova.

E quando eu penso no futuro, eu penso que estamos caminhando para tornar realidade algo dito em uma linda canção da banda Legião Urbana: "Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação".

E quando Carolina diz "vamos sempre nos adaptar", vem-me à lembrança algo que ouvi o extraordinário Sebastião Salgado dizer em um antigo programa de entrevistas, e que é mais ou menos assim: a capacidade do ser humano adaptar-se a tudo é vista como uma vantagem, porém ela pode ser vista também como uma desvantagem: a de adaptar-se a coisas contra as quais ele deveria se rebelar. Concordo plenamente com ele.

Sim, "sempre precisaremos uns dos outros, senão não subsistiremos.". E já que sempre precisaremos uns dos outros, que tal tentarmos tornarmo-nos amigos uns dos outros?
"Após vários anos publicando postagens sobre uma determinada data, chega um dia em que fica difícil obter ou elaborar um bom texto que a focalize diretamente. Sendo assim, neste Dia do Amigo, a ideia que me ocorreu foi publicar um texto que, embora inicialmente pareça nada ter a ver com o tema amizade, poderá, ao término de sua leitura, levar quem o leu a concluir que tem.", diz o trecho final do primeiro parágrafo da postagem.
Será que a ideia foi boa? Será que a postagem elaborada a partir da transcrição do vídeo da escritora Carolina Vila Nova pode ser considerada uma postagem que indiretamente faz alusão ao Dia do Amigo? – indaga o penúltimo parágrafo da postagem.
Diante de tudo que é dito acima, será que o Dia do Amigo deve ser tratado mais como um dia de reflexão do que de comemoração? Será que a eterna dificuldade de se viver em sociedade tem alguma coisa a ver com a dificuldade de enxergarmos a verdadeira dimensão do espaço que a amizade deve ocupar em nossas vidas?
 
 

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