quarta-feira, 18 de maio de 2022

Reflexões provocadas por "Conheça a importância do silêncio e como cultivar a pausa"

Após a "intromissão" da postagem alusiva ao Dia Internacional da Enfermagem na sequência de postagens, seguem algumas reflexões provocadas pela postagem alusiva ao Dia do Silêncio.

"O silêncio é o início de tudo. De onde surgem o bem-estar, a saúde física e mental. (...) Em seus estudos, o psiquiatra Ramesh Manocha encontrou uma relação direta entre a boa saúde e o estado de silêncio mental. (...) Em seu livro The World of Silence, de 1989, o filósofo suíço Max Picard advertiu que nada mudou tanto a natureza do homem quanto a perda do silêncio. Especialmente entre os moradores das grandes metrópoles, envolvidos não apenas pelo crescente barulho do trânsito como por aquele vindo dos aparelhos eletrônicos típicos da vida moderna."
Será que faz sentido associar o que é dito no parágrafo anterior ao estado em que se encontra a saúde mental da autodenominada espécie do universo? Será que faz sentido associar, depressão, ansiedade, angústia, estresse, paranóia, medo de tudo e de todos à incapacidade da referida espécie em lidar adequadamente com o silêncio? Incapacidade que não é algo recente. Há quatro séculos, Blaise Pascal, um brilhante filósofo e matemático francês de curta passagem por esta dimensão (1623 – 1662), já dizia o seguinte: "Todos os problemas da humanidade decorrem da incapacidade humana de se sentar em um quarto sozinho e em silêncio". O tempo passou, a tecnologia avançou e em decorrência da estonteante quantidade de distrações por ela produzida tal incapacidade só piorou!
"Em alta num mundo tomado por ruídos de vários níveis, o silêncio já é considerado artigo de luxo. (...) 'Hoje o silêncio é considerado uma commodity, uma oportunidade de negócio por alguns. Acho um exagero, mas não tenho dúvida de que, em termos de bem-estar, é um diferencial em crescente importância', diz Guilherme Kosmann, gestor institucional da MCF, a primeira consultoria do país especializada em gestão do segmento luxo."
Lembrando que o texto do qual foi extraído o parágrafo acima foi publicado em março de 2013, o hoje a que ele se refere já tem nove anos. De lá para cá, tive oportunidade de tomar conhecimento de várias reportagens segundo as quais, em países mais avançados (sabe-se lá em que) deste planeta em que tudo se vende, já existem lugares em que paga-se para passar algum tempo em silêncio.
"Não é preciso se isolar num retiro em cima de uma montanha longínqua no Tibete nem ficar enclausurado num templo no interior da Índia para alcançar essa calmaria. Mesmo em cidades barulhentas como São Paulo, Tóquio ou Nova York, é possível um contato efetivo com o silêncio. Basta ter vontade e disciplina."
"Não é preciso ... Basta ter vontade e disciplina.", eis uma afirmação sinistra considerando que "basta" significa: é suficiente, é o bastante, é o necessário, é só. Usando a última opção (que aparecerá grifada), algo que é dito no parágrafo acima parece-me ainda mais sinistro. "Não é preciso ... para alcançar essa calmaria, é só ter vontade e disciplina." Ou seja, é algo muito fácil: é só! Como assim cara pálida?!
"Durante alguns meses, o escritor novaiorquino George Prochnik percorreu o globo em busca de tranquilidade. Dessa jornada solitária resultou o livro In Pursuit of Silence, de 2010, onde relata a passagem por monastérios e conversas com estudiosos sobre o efeito do sossego no corpo e na mente. 'Hoje existem poucos lugares onde se encontra a quietude, mas há diferentes formas de sair do barulho', opina."
"A primeira lição de George é justamente esta: aprender a se desplugar dos portais de estimulação, os celulares, iPads etc. Plugados 24 horas por dia, matam o sossego. A segunda, buscar o silêncio real – para ele, o equilíbrio entre som e silêncio. Assim, é mais fácil identificar locais onde é possível experimentar instantes de paz."
"Buscar o silêncio real – o equilíbrio ente som e silêncio.", eis a segunda lição de George, e a minha primeira. Por que inverto a ordem das duas lições? Porque, no meu entender, é a partir do momento em que se perceber a imprescindibilidade de buscar o equilíbrio entre som e silêncio que surgirá a vontade de aprender a se desplugar dos portais de estimulação.
"Não precisamos nos desconectar do mundo", ensina a lama Sherab Drolma, do Khadro Ling, um dos mais respeitados templos budistas tibetanos do Brasil, situado no interior do Rio Grande do Sul. "Temos de manter a atenção, observar tudo ao redor, porém, jamais perder o contato consigo mesmo."
Sim, "Não precisamos, nem devemos (acrescento eu), nos desconectar do mundo", pois se nele estamos é para nele atuar. Atuar em prol de nossa transformação em indivíduos melhores e, consequentemente, contribuirmos para transformar o coletivo (o mundo) em algo melhor. É a partir das partes que se transforma o todo - para melhor ou para pior.
Sim, "Temos de manter a atenção, observar tudo ao redor, porém, jamais perder o contato consigo mesmo." E ao falar em "observar tudo ao redor", a lama Sherab Drolma faz-me lembrar o seguinte provérbio aborígene: "Somos todos visitantes deste tempo, deste lugar. Estamos só de passagem. O nosso objetivo é observar, crescer, amar. E depois vamos para casa." Sim, depois vamos para casa - melhores ou piores, e deixando este lugar - melhor ou pior, dependendo do que aqui fizermos enquanto aqui estivermos.
Para terminar estas reflexões insiro nesta postagem a cópia de uma gravura que, inspirado por algo dito pela lama Sherab Drolma, o velho método das recordações foi buscar nos meus guardados. Pedindo desculpas pela qualidade da cópia (devida ao fato de ter sido copiada de um livro com a intenção de não danificá-lo com uma abertura exagerada ao colocá-lo no scanner), segue uma gravura que associo ao trecho final da afirmação da lama: "jamais perder o contato consigo mesmo."
 
 
Ou seja, o problema de manter-se ligado consigo mesmo é antigo. O tempo passou, o mundo mudou e a dificuldade aumentou, pois, hoje, o serviço de telefonista acabou. Hoje, manter o contato consigo mesmo é algo que cabe exclusivamente a cada um de nós. E que só será possível se conhecermos a importância do silêncio e se soubermos como cultivar a pausa. Compreendido?

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