"O silêncio proporciona ao ser a
possibilidade de enxergar a vida por dentro."
(Trigueirinho
[1931 – 2018], filósofo-espiritualista)
Prosseguindo
com a prática de publicar mensagens alusivas a datas comemorativas que eu
considere significativas e concordando com Mario Sergio Cortella quando diz que
"Cabe destacar que nem tudo que
vem do passado é ultrapassado. Muita coisa que vem do passado precisa ser
levada adiante.", neste Dia
do Silêncio, segue um texto publicado na internet em 04 de março de 2013 no
endereço http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/conheca-a-importancia-do-silencio-e-como-cultivar-a-pausa.
Nove anos depois, considero-o tremendamente
atual, embora não seja mais encontrado no referido endereço.
Conheça a importância do silêncio e como cultivar a pausa
Em 1952, o
compositor John Cage apresentou uma peça de vanguarda ao público americano.
Entrou no palco, sentou-se à frente do piano, ligou um cronômetro e, durante
exatos 4 minutos e 33 segundos, ficou em... silêncio. Para o artista, a música
eram os leves murmúrios produzidos pela plateia atônita. Ao final desse tempo,
Cage levantou-se e agradeceu ao público como se tivesse acabado de apresentar
uma de suas obras convencionais. O que o músico queria? Provocar reflexão em
meio à ausência de som! Sua extravagante composição virou um clássico executado
até hoje, batizado de 4'33. Claro, o autor radicalizou uma experiência que, há
séculos, tem operado profundas transformações não só espirituais e mentais como
físicas na humanidade. Prática comum em todas as religiões, a meditação
tornou-se alvo de investigação até da comunidade científica como caminho de
cura para males de vários níveis. Não à toa! O silêncio é o início de tudo. De
onde surgem o bem-estar, a saúde física e mental, a criação.
Na pausa
entre os sons, a mente é ativada e se dá o pico da atividade cerebral. "Sem
dúvida, a prática diária de interiorização melhora a qualidade de vida",
assegura o psiquiatra Ramesh Manocha, da Sydney Medical School, na Austrália,
pioneira numa recente pesquisa sobre meditação. "Torna-se fonte de paz
interior e neutraliza as tensões da vida, aumentando a criatividade, a
produtividade e a autossatisfação." Em seus estudos, o médico encontrou
uma relação direta entre a boa saúde e o estado de silêncio mental. Já se sabe
que só a quietude leva a níveis profundos de autoconhecimento, permite a
construção de sentimentos positivos e fortalece a autoestima. Para examinar de forma
holística, e com metodologia científica, as qualidades incontestáveis do
silêncio, a universidade australiana abriu inclusive uma clínica de meditação
onde os pacientes praticam sahaja ioga e podem ser avaliados de perto. Depois
de algumas sessões, boa parte deles relatou melhoras significativas.
O que diz
quem ficou em silêncio?
Em alta
num mundo tomado por ruídos de vários níveis, o silêncio já é considerado
artigo de luxo. Em seu livro The World of Silence, de 1989, o filósofo suíço
Max Picard advertiu que nada mudou tanto a natureza do homem quanto a perda do
silêncio, uma lembrança fraca, como a privacidade e o mistério. Especialmente
entre os moradores das grandes metrópoles, envolvidos não apenas pelo crescente
barulho do trânsito como por aquele vindo dos aparelhos eletrônicos típicos da
vida moderna. Durante alguns meses, o escritor novaiorquino George Prochnik
percorreu o globo em busca de tranquilidade. Dessa jornada solitária resultou o
livro In Pursuit of Silence, de 2010, onde relata a passagem por monastérios e
conversas com estudiosos sobre o efeito do sossego no corpo e na mente. "Hoje
existem poucos lugares onde se encontra a quietude, mas há diferentes formas de
sair do barulho", opina.
A primeira
lição de George é justamente esta: aprender a se desplugar dos portais de
estimulação, os celulares, iPads etc. Plugados 24 horas por dia, matam o
sossego. A segunda, buscar o silêncio real – para ele, o equilíbrio entre som e
silêncio. Assim, é mais fácil identificar locais onde é possível experimentar
instantes de paz. "Hoje o silêncio é considerado uma commodity, uma
oportunidade de negócio por alguns. Acho um exagero, mas não tenho dúvida de
que, em termos de bem-estar, é um diferencial em crescente importância",
diz Guilherme Kosmann, gestor institucional da MCF, a primeira consultoria do
país especializada em gestão do segmento luxo. Não é preciso se isolar num
retiro em cima de uma montanha longínqua no Tibete nem ficar enclausurado num
templo no interior da Índia para alcançar essa calmaria. Mesmo em cidades
barulhentas como São Paulo, Tóquio ou Nova York, é possível um contato efetivo
com o silêncio. Basta ter vontade e disciplina."Não
precisamos nos desconectar do mundo", ensina a lama Sherab Drolma, do
Khadro Ling, um dos mais respeitados templos budistas tibetanos do Brasil,
situado no interior do Rio Grande do Sul. "Temos de manter a atenção,
observar tudo ao redor, porém, jamais perder o contato consigo mesmo."
Isso significa criar uma relação diferente e inovadora com o universo exterior,
muito mais aberta e flexível, na qual não se é dominado por sentimentos,
julgamentos e preconceitos, apenas constata-se a existência deles. "Sem
expectativas, entramos num estado de quietude que modifica a realidade, muitas
vezes imprimindo nela uma leveza antes inexistente", garante a religiosa.
Liberdade. Talvez seja essa a palavra mais adequada para expressar a sensação
de um estado mais profundo de calmaria. É exatamente como o arquiteto Décio
Navarro se sente ao reviver, por meio da meditação, as práticas aprendidas em
um retiro terapêutico do qual participou há alguns anos. Décio e mais 15
pessoas se isolaram em uma chácara nos arredores de São Paulo por uma semana.
Ali,
conviveram sem falar uma palavra sequer. "Para um ansioso convicto como eu,
foi uma experiência redentora." Ele teve de encarar suas constantes
atribulações mentais e, pouco a pouco, percebeu a importância do silêncio para
manter-se por longos períodos em harmonia com os mundos interno e externo. "Minha
vida mudou depois disso", revela. O que antes era inconcebível passou a
ser hábito em seu cotidiano. Hoje o arquiteto pratica ioga duas vezes por
semana e faz meditação zazen – sentado na posição de lótus, entra em
recolhimento profundo e encontra o silêncio. De acordo com os princípios do
zen-budismo, nesse estado, os sons entram e saem, ruídos atravessam, mas o
sossego permanece.
Assim como
o som, o ruído e os pensamentos, o silêncio é da natureza da mente. Todas as
pessoas o reconhecem. Mas, entre tantos estímulos sonoros, quase não se
respeitam os momentos de interrupção – imprescindíveis para uma vivência mais
harmoniosa. A exemplo da música, a pausa existe para torná-la mais bela. "Nas
composições pop e eletrônica, por exemplo, não há esse tempo precioso que faz o
ouvinte ter uma apreciação mais qualitativa do som", diz o violonista
Fabio Ramazzina, do Quaternaglia Guitar Quartet, renomado grupo de música de
câmara paulistano.
"Já
as obras clássicas são permeadas por um tempo onde não acontece nada, mas contêm
todas as possibilidades de notas musicais." Não é fácil notar o nada, o
vazio, a ausência de sons, segundo o músico, pois o silêncio absoluto só existe
dentro de cada um. "O ritmo da vida contemporânea leva ao caminho inverso,
aquele que não pressupõe paradas, como num texto construído sem vírgulas,
parágrafos e pontos." No cotidiano, Fabio sabe muito bem cultivar as
pausas. Todos os dias, ele pratica 50 minutos de meditação, conforme prega o
grupo de estudos filosóficos do qual faz parte há cerca de 25 anos. "Isso
me ajuda inclusive a aperfeiçoar cada vez mais meu jeito de tocar o violão e a
compor melhor", revela o instrumentista. Prova incontestável de que a
ausência de sons é fonte de boa música, a Nona Sinfonia, uma das maiores
obras-primas de todos os tempos, foi composta no século 19 pelo alemão Ludwig
van Beethoven, à época praticamente surdo. Ele não só criou como regeu a
orquestra que pela primeira vez interpretou a genial peça do romantismo.
Esse é
apenas um dos exemplos conhecidos do valor do silêncio. O estado profundo de
mansidão, porém, está na base de todas as religiões e na maioria das crenças
como um instrumento valioso de aprimoramento do ser humano. No Egito antigo,
era empregado na prática de devoção. As sacerdotisas de Ísis chegavam a
permanecer caladas por anos a fio para demonstrar seu amor incondicional à
deusa. Em tempos atuais, continua sendo porta de entrada do mundo astral. "A
iniciação xamânica ocorre através do silêncio, especialmente quando o objetivo
é ter acesso a outras dimensões de realidade," revela Felipe Guidi, respeitado
xamã de São Paulo. Agora pare, respire sem pressa e resgate a serenidade que
está no fundo do seu ser.
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Prevista para quinta-feira, a
próxima postagem será mais uma alusiva a uma data comemorativa. Sendo assim, as
reflexões provocadas por este instigante texto deverão ser espalhadas depois
dela.
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