"A humanidade não é ruim, está apenas desinformada."
(Professor Charles Xavier , em X-Men)
O que a afirmação do Professor Xavier (usada,
inclusive, para divulgação do primeiro filme da série X-Men) tem a ver com uma postagem intitulada Reflexões provocadas por "Os ausentes"? O fato de entre as provocações provocadas
estar incluída uma comparação entre as práticas de informar e de desinformar. Enquanto
os meios de comunicação a serviço dos que se consideram donos do mundo buscam
nos desinformar defendendo a ideia da imprescindibilidade da presença dos ricos
para que os pobres consigam sobreviver, o conto de Eduardo Cassús busca nos
informar defendendo uma ideia oposta: a da imprescindibilidade do trabalho dos
pobres para a sobrevivência não apenas dos ricos, mas também dos equivocados
integrantes de uma classe denominada média. A passagem do documentário "Park Avenue: Dinheiro,
Poder e o Sonho Americano – Por que Pobreza?" reproduzida no próximo
parágrafo serve como um exemplo de desinformação.
"A Revolta de Atlas" (filme lançado no cinema americano em abril de 2011) é contada como uma história de terror, uma visão aterrorizante do que aconteceria aos EUA se americanos ricos como David Koch e Stephen Schwarzman nos deixassem abandonados à própria sorte. Os grifos são meus.
Em linhas
gerais, o mito de Atlas significa o castigo de - para sempre - ter que
sustentar o céu sobre seus ombros. No filme citado no parágrafo anterior, a
figura de Atlas é usada para representar um reduzido grupo de sacrificados
ricos que carregam em suas costas uma imensidão de pobres ingratos. Ou seja, um
filme que, no meu entender, deve ter deixado Leon Tolstói perplexo, onde quer
que esteja, pois, segundo ele, o que ocorre neste planeta é exatamente o oposto:
são os pobres que carregam os ricos nas costas. Como é mostrado no final da
postagem anterior, até moradores de uma favela no Ceará já foram informados
sobre quem carrega quem.
Em seus inúmeros vídeos, Eduardo Marinho já informou
várias vezes que os pobres é que fazem o mundo funcionar, e agora outro
Eduardo, o Cassús, vem nos informar de tal fato por meio de seu excelente
conto. Vocês perceberam quem foi considerado essencial durante a fase mais
desesperadora desta pandemia? Quem teve que arriscar sua vida para preservar as
vidas daqueles que puderam (e quiseram) ficar isolados socialmente com a
intenção de diminuir a probabilidade de serem pegos pelo vírus da COVID 19? Pois é! Foram eles: os pobres.
É impressionante a desinformação que nos é impingida em termos
de qual seja a classe social imprescindível à preservação da vida neste planeta.
Até porque o critério para determinar tal imprescindibilidade é estabelecido
por uma das classes, a dos endinheirados. Critério que, no meu entender, é
contestado por Eduardo Cassús em seu conto. Conto no qual ele evidencia a
incompetência dos mais ricos para lidar com a situação de não disporem da
presença dos trabalhadores para servi-los e para atendê-los em suas
necessidades mais elementares, como se pode constatar no trecho reproduzido no
próximo parágrafo.
"Sem ter como preparar o próprio desjejum, restava apenas tentar conseguir algo na padaria. (...) Ao olhar para a padaria da esquina, outrora sempre movimentada, viu apenas a silhueta do dono desolado atrás do balcão, iluminado por uma lamparina."
Eis a
situação em que ficou o rico e arrogante empresário Roberto Escaravelho, com a
ausência da "trabalhadora doméstica Neide, aquela ingrata que ele sempre
tratou tão bem".
"Tomarem
conta de si mesmos, produzirem para si mesmos, alimentarem a si mesmos,
limparem a própria sujeira, cuidarem da própria água, da própria eletricidade,
da própria internet. Quanto tempo essas pessoas durariam, se não tivesse gente
servindo-as, atendendo suas necessidades mais elementares.", indaga Eduardo
Cassús no trecho final do vídeo intitulado Os
ausentes - A história por trás do conto (https://www.youtube.com/watch?v=XeBp2RcPTKA), publicado
em seu canal no You Tube.
Será que a classe dos endinheirados é realmente a imprescindível
à preservação da vida neste planeta? E também a mais corajosa? Para ajudar a responder
a segunda indagação, a postagem publicada em 05 de
setembro de 2017 no blog lendoeopinando
sob o título "Para onde estão indo os megarricos" pode ser bastante
útil. Ela reproduz uma reportagem
publicada em dois jornais que tem como título: "Megarricos buscam refúgio na Nova Zelândia contra colapso capitalista".
E como subtítulo: "Temor de ricos é que ocorra revolta popular
devido à desigualdade em alta; Trump é outro fator para interesse".
Sugestivos, não?
Ou seja,
para classes sociais diferentes, problemas diferentes, e consequentemente
tentativas de solução diferentes. Enquanto para os trabalhadores, a tentativa
de solução é o abandono da localidade em que sobrevivem para livrarem-se da
exploração; para os exploradores é a fuga com medo da revolta. Não daquela propagada
pelo filme "A Revolta de Atlas", e sim da revolta provocada pela absurda desigualdade.
Uma
reflexão que considero interessante fazer é sobre que personagem do conto
representa cada um de nós. Roberto, o empresário; Neide, a ingrata trabalhadora
doméstica; o dono da padaria ou do posto de combustível; um dos manifestantes
que foram tomar satisfações do governador; a vizinha que convocava os moradores
do bairro para uma manifestação em prol dos cidadãos de bem do país, levando um
abaixo-assinado endereçado ao comandante do quartel instalado no bairro; o
filho do desembargador; um dos trabalhadores ausentes?
Entender o
papel que cada um desempenha em uma sociedade, eis algo fundamental para
perceber o bem e / ou o mal com que se contribui para torná-la melhor ou pior,
pois como é dito no espaço reservado ao perfil do mantenedor do blog, "a
qualidade de uma sociedade é resultado das ações de todos os seus
componentes". O problema é que, lamentavelmente, a imensa maioria não
enxerga tal coisa, como demonstra um comentário sobre a postagem anterior enviado
por e-mail, por um ex-colega de trabalho e eterno amigo, e reproduzido a
seguir.
"Essa realidade depende de nós, seres mortais, mas aqueles que estão por cima ou em berço esplêndido nunca aceitarão mudar essa condição. Li num livro capitalismo, comunismo e o fim do mundo, um trecho em que o autor fala sobre essa condição e não acredita que um dia, ao menos nessa geração ou nesse mundo, os poderosos pensem de forma diferente e que essa geração consiga mudar esse destino."
Sim, como diz o Professor
Xavier, "A humanidade não é ruim, está apenas mal informada", e o comentário
reproduzido acima é uma validação de tal afirmação. Ele é uma mistura de
ingenuidade e desinformação. Infelizmente, meu ex-colega de trabalho e eterno
amigo, assim como a imensa maioria, está mais afetado pela desinformação
propagada pelo filme "A
Revolta de Atlas" do que pela informação dada por Leon Tolstói. E mal informada ela, ingenuamente, segue acreditando
que cabe aos que se beneficiam da situação atual alterá-la para favorecer
aqueles que por ela são prejudicados e considerando utópicas coisas que são
simplesmente imprescindíveis à mudança da situação atual a seu favor.
"Quando me dizem 'você é um utópico', digo: 'a única utopia de fato é acreditar que as coisas podem seguir indefinidamente seu curso atual'.", diz o filósofo Slavoj Zizek.
Sim, as coisas não podem ser mantidas como
estão; as coisas não podem seguir indefinidamente seu curso atual, pois
acreditar nisso é a única utopia de fato. Precisamos, urgentemente, deixar de
classificar como utopia coisas que precisam ser feitas.
Sim, como diz Eduardo Cassús, em seu já citado vídeo no You Tube, outro
mundo é possível. É, e sempre será,
pois, usando conceitos da Física, entendo que o mundo pode ser visto
como a resultante de um sistema de forças cujas componentes são as ações e as inações
de todos os seus integrantes. Ou seja, a cada mudança em tais ações e nas
inações, outra resultante automaticamente surgirá; outro mundo automaticamente surgirá.
E mudar é algo ininterrupto, pois, segundo uma afirmação atribuída a um
filósofo pré-socrático de nome Heráclito (entre os anos 535 a.C e 475 a.C). Afirmação oriunda
da expressão "Panta Rei" a ele atribuída e que significa tudo flui;
tudo segue um grande fluxo perene no qual nada permanece como está, pois a
única coisa permanente é o estado de contínua mutação.
Entendendo
que mudar seja algo inevitável, o próximo passo é fazer o que recomenda Eduardo
Cassús, em seu já citado vídeo no You
Tube.
"Refletir sobre a vida que nós estamos vivendo, a sociedade que nós estamos criando, o tipo de exploração no ambiente de trabalho e o que nós podemos fazer como trabalhadores para mudar nossa realidade. É preciso antes de tudo que nós nos organizemos, talvez como a plebe romana se organizou, lá na antiga república."
Por entender que a maioria dos que lerão esta
postagem não se enquadra entre "os ausentes" (os trabalhadores mais
prejudicados nesta sociedade extremamente desigual), creio que seja pertinente
acrescentar que cabe a tal maioria apoiar qualquer movimento no sentido de
melhorar a vida "dos ausentes". Até porque no ritmo em que segue a
exploração dos trabalhadores é conveniente ter sempre em mente aquela afirmação
de Bertolt Brecht em um texto intitulado "Aos que virão depois de nós:"
"É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver. Mas acreditem: é por acaso. (...) Por acaso eu estou sendo poupado (Se a minha sorte me deixa, estou perdido)."
A postagem publicada em 31 de agosto de
2011 reproduz o texto "Aos que virão depois de nós". "Desobediência:
a virtude original do homem", publicada em 02 de dezembro de 2011, é mais
uma postagem que na minha insuspeita (!) opinião vale a pena ler.
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