segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

O mundo invisível

"A nós parece que o trabalho mais importante do mundo é o trabalho visível, mas nosso trabalho invisível para o aprimoramento da alma é o trabalho mais importante do mundo, e todas as outras formas só são úteis quando o realizamos."
(Leon Tolstoi [1828 - 1910], escritor russo reconhecido como um dos maiores de todos os tempos, pensador social e moral)  
Conforme prometido no último parágrafo da postagem anterior, esta focaliza outro grande equívoco da pretensa espécie inteligente do universo: a falta de interesse em buscar conhecimentos sobre o mundo invisível. O texto intitulado O mundo invisível, reproduzido a seguir, foi publicado na edição de JUL / AGO 2020 de Sophia, uma revista que focaliza Ciência, Religião e Filosofia. O autor? D. P. Sabnis, Membro da Loja Blavatsky, Mumbai, Sociedade Teosófica na Índia.
O mundo invisível
Existe similitude entre guerra e morte. A guerra mutila uma civilização; a morte, o corpo. Homens e mulheres aos milhares parecem não ter aprendido, com as repetidas lições da história, que as guerras são desintegradoras da sociedade. A razão é óbvia: o mau cheiro dos corpos em decomposição é reconhecido como sinônimo de morte; o de uma sociedade em decomposição não o é.
Após a morte de uma pessoa, os sobreviventes remodelam suas vidas; o mesmo fazem povos e nações após uma guerra. Mas, ao assim fazerem, povos e nações não aplicam a lição da morte mais que os sobreviventes de um parente ou amigo, a maior parte dos quais não indaga a respeito do significado e propósito da morte. Num dos casos, a morte é a morte do corpo, mas quem fala da alma daquele que partiu? Quantos buscam conhecimentos sobre o assunto? De modo semelhante, após um horrível massacre, quantas pessoas se perguntam a respeito do lado espiritual das coisas, do que o poeta A. E. chamou de "ser nacional", a alma da nação?
Devido à nossa educação, estamos preparados para olhar apenas para o lado material e visível de todos os fenômenos - até mesmo dos fenômenos psicológicos. Doença é doença do corpo, morte é morte do corpo. Nos afazeres nacionais, são a economia e os aspectos visíveis da ordem social corporativa que não apenas tomam precedência, mas são a única base de pensamento e consideração. A higiene do corpo é desproporcionalmente valorizada em comparação com a higiene da mente, assim como as palavras são usadas cautelosamente porque são ouvidas pelos outros, enquanto homens e mulheres permitem que os pensamentos criem fossas por imaginarem que pensamentos invisíveis não deixam odores atrás de si.
O invisível ocupa, no Cosmo, um lugar muito maior do que o visível. O oceano de ar é invisível, mas desempenha papel vital na vida. Centenas de animálculos são invisíveis num copo d'água, mas causam vida ou morte, doença ou saúde, a toda pessoa que beber daquela água. A eletricidade é invisível, mas fornece luz e calor; pode curar e matar. Se as pessoas ao menos olhassem ao redor, logo descobririam que em sua própria existência o invisível representa não apenas um papel vital, mas é também mais importante que a parte representada pelo que é visível. No modo como vemos e ouvimos, o invisível representa uma parte maior do que os objetos que vemos e as vozes que ouvimos. A fala, que nos põe em contato com nossos semelhantes, é um processo quase que totalmente invisível, sendo o único aspecto visível o movimento dos lábios e da língua. 
'O invisível ocupa, no Cosmo, um lugar muito maior do que o visível. O oceano de ar é invisível, mas desempenha papel vital na vida. Centenas de animálculos são invisíveis num copo d'água, mas causam vida ou morte, doença ou saúde, a toda pessoa que beber daquela água.'
  "A eletricidade é invisível, mas fornece luz e calor; pode curar e matar. Se as pessoas olhassem ao redor, descobririam que em sua própria existência o invisível representa não apenas um papel vital, mas é também mais importante que a parte visível"
Um dos objetivos do trabalho teosófico é mostrar a importância do invisível - enquanto demolimos as superstições a seu respeito, que têm raízes no falso conhecimento. A ausência do verdadeiro conhecimento causa danos. A ignorância é ruim, mas o falso conhecimento é pior.
Como a pessoa começa a adquirir um correto conhecimento consigo mesma? O que ela é? Apenas um corpo de carne e sangue? O que é a mente? Qual é a relação entre cérebro e mente? O que são as emoções? De onde vêm a depressão e a alegria, a torpeza e a magnanimidade? Como se pode vencer o ciúme e desenvolver a gentileza? Já que o dinheiro não pode comprar a paz da mente, o que pode proporcioná-la? Se a agitação emocional afasta o sono, o que pode ser invocado para abençoar aquele que está agitado e trazer calma e repouso? Aqui estão alguns aspectos do invisível que nos tocam até a medula; é com eles que a pessoa deve começar.
Antigamente, a religião não era uma matéria de fé cega; buscava-se o conhecimento da religião, e os homens pios a ensinavam de inúmeras maneiras diferentes. Os antigos textos religiosos indicam que existia um conhecimento inestimável. Temos que aprender não apenas as linguagens antigas, nas quais os livros foram escritos, mas também os moldes nos quais grandes ideias foram lançadas. Pois os antigos, estando mais próximos da natureza invisível do que estamos no século XXI, usavam alegorias, símbolos e comparações que nos parecem bizarros. Uma das razões porque homens e mulheres de hoje não estudam as escrituras de sua própria religião é que a linguagem não lhes é compreensível.
A morte é uma experiência universal e está tão próxima de nós que não lhe damos atenção; nem sequer nos esforçamos para saber se existe conhecimento disponível a respeito. Igualmente universal é o fenômeno da vida, com seus prazeres e dores diários; entre nascimento e morte as pessoas riem e choram, mas não sabem o que precede o nascimento, o que se segue à morte, o que é o riso e como as lágrimas são formadas. "Tudo é mistério", dizem as pessoas, com um aceno da cabeça que acreditam ser um aceno de sabedoria e humildade, mas que na maioria das vezes é apenas um aceno de ignorância e preguiça mental.
Este conhecimento pode ser encontrado na Religião-Sabedoria dos antigos; para o mundo moderno ele está disponível através da Teosofia - a religião científica, a ciência religiosa. Nos autênticos livros teosóficos, homens e mulheres encontraram informação disponível a respeito do espírito, da alma, do corpo; a respeito do bem em si mesmos e do mal que envolve aquele bem; a respeito de seus humores causados por sentimentos feridos ou intoxicações causadas por egoísmo inflado. Mas sabemos que, em nossa civilização, as pessoas não têm tempo para ler e estudar, estão sempre ocupadas ganhando dinheiro - mas não perguntam o que farão quando vierem a possuí-lo; não sabem como se sentirão quando tiverem alcançado o topo. Somente as verdades fundamentais da genuína ciência da alma podem ajudar a evolução do ser humano e o desabrochar da visão espiritual. Poderes espirituais e divinos estão adormecidos em cada pessoa; quanto maior o alcance de sua visão espiritual, mais poderoso será o deus dentro dela.
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Será que a leitura do belo texto de D. P. Sabnis provocará reflexões capazes de fazer enxergar que, diferentemente do que supõe a imensa maioria dos integrantes visíveis deste planeta, invisibilidade e inexistência são duas coisas diferentes? E que, se conseguir fazê-lo, poderá despertar interesse em buscar conhecimentos sobre o mundo invisível?

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