quarta-feira, 11 de agosto de 2021

O que é importante na vida? (I)

"O que é realmente importante na vida? É apenas a própria vida, vivendo-a bem, mergulhando-a na beleza, no amor e na reflexão."
(Joan Chittister)
A ideia espalhada por esta postagem foi extraída do livro Bem-vindo à sabedoria do mundo – O que as grandes religiões nos ensinam para viver melhor, de Joan Chittister, publicado em 2008. Um livro extraordinário do qual extraí a ideia espalhada em 30 de setembro de 2015 sob o título "Onde perdi meu idealismo?" e ainda pretendo extrair outras.
O que é importante na vida?
VÁRIAS COISAS ME INCOMODARAM ESTA MANHÃ - PRIMEIRO, AS manchetes de jornais; depois, as notícias da rádio CNN.
Em primeiro lugar, as manchetes disseram-me quatro coisas: (1) 1.500 pessoas tinham sido soterradas em um deslizamento de terra causado pela derrubada de árvores na montanha acima da aldeia em que moravam; (2) estávamos de volta ao ponto em que os Estados Unidos armavam um estado títere e a União Soviética armava outro contra eles; (3) um clérigo de determinado país ofereceu uma recompensa de um milhão de dólares pelo assassinato de um cartunista; e (4) o prêmio da loteria tinha alcançado um recorde alto de 365 milhões de dólares.
Em segundo lugar, as notícias econômicas da CNN informavam que os formandos nas faculdades de engenharia da computação podem começar a carreira com um salário inicial de 25 mil a 30 mil dólares maior do que aquele que profissionais liberais e psicólogos esperam ganhar.
Em meio a tudo isso, algo estremece a alma. É dessas coisas que a vida realmente deve tratar? E, se for, o que dizer das pessoas para quem essas tragédias estão acontecendo ou das pessoas que não receberão salários de nível mais alto da escala, deixadas apenas com a esperança de ganhar na loteria?
Como será a vida delas? Ou, de outra maneira, o que, na verdade, pode suavizar o lado cruel da vida para que, não importando o quanto a vida seja cruel, possamos sobreviver sem amargura, além da falta de esperança, com uma compreensão tranquila? Existe uma maneira de tornar a viagem pela vida mais digna, mais humana, mais significativa?
Certamente não é por acaso que a literatura religiosa de todas as tradições usa "viagem" como metáfora espiritual universal para a vida humana. Na verdade é, elas têm razão. Nenhum de nós nasceu terminado. Nenhuma vida é completamente estática, mesmo se for vivida no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas o tempo todo. Nenhuma vida escapa dos ganhos e das perdas que acompanham o ser humano.
A vida tem múltiplas fases, cada uma mais profunda e mais misteriosa do que a anterior. Quando pensamos que finalmente estamos "em nosso caminho" - seja o que for que isso signifique -, a estrada se eleva e faz uma curva, levando a uma mudança súbita, ou simplesmente ziguezagueia para um lugar em que nunca quisemos ir ou esperamos estar.
Lutamos de um período ao outro, ou flutuamos tão longe em algum tipo de órbita sem direção, que a vida parece ficar estancada ou esquecida ao longo do caminho.
Mas não existe tal coisa de ficar estancada ou esquecida. Em todo estado e em toda fase da vida, existe algo disfarçado, um tipo de inquietude ou questão universal. Do que tudo isso trata? O que eu quero de verdade? Em que eu deveria estar concentrado: dinheiro, fama, poder, posição, segurança, ordem, ou em quê? Quero ser um homem de negócios inteligente, um bom pai, uma esposa fiel, um cidadão influente, um surfista, uma mulher de carreira, um estudante? E se eu for qualquer um deles, o que sobra quando essas coisas terminam? Na realidade, existe algo que sobra, afinal, de uma fase para a outra?
O que realmente será importante quando todas as coisas importantes desaparecerem?
A juventude é importante. É o período da vida em que tudo é possível. A energia da mocidade nunca enfraquece, nunca termina. Ficamos na festa até as quatro da manhã, dormimos até o meio-dia e então nos levantamos e começamos tudo outra vez. E há uma fase para fazer isso. Sempre existe um senso de tempo ilimitado quando somos jovens. Temos tempo, pensamos, para comparar os preços da vida, até que possamos encontrar do que gostamos e o saqueamos.
A beleza é importante. A exuberância do savoir-faire que vem com a joia certa, com o corte perfeito do paletó, transmite-nos um sentimento imenso de segurança. As pessoas param e olham, admiram e são atraídas. Gastamos muito tempo e muito dinheiro para ficarmos bonitos. Deve ser importante.
O problema é que, conforme a vida passa, a beleza se desloca de fora para dentro de nós. A beleza verdadeira não é aquela com a qual nascemos, mas aquilo em que nos transformamos. Caso contrário, quando os cosméticos e os cortes de cabelo já não puderem disfarçar as rugas ou os cabelos brancos, não existirá nada para atrair, encantar ou intimidar o outro.
O dinheiro é importante. Dá-nos o direito a mudar de vida. Exala o aroma da competência exigida para conquistá-lo, para mantê-lo. Indica e torna uma vida agradável. Compra viagens e experiências, amigos e distância, conforto e autossuficiência.
O problema é que o dinheiro pode apenas nos dar coisas. Os amigos que compramos com ele desaparecem na medida em que o dinheiro desaparece. Quando o dinheiro se for, esses amigos se vão. Ou então mudam conforme a casa, o trabalho, os círculos aos quais nos unimos, de acordo com os caprichos da vida.
Os relacionamentos são importantes. Uma mulher sob o braço, um homem do qual depender, um amigo com quem se divertir e um grupo de contatos que fomentam nosso caminho pela vida podem ser o símbolo máximo de prestígio. E se não forem um símbolo de status, pelo menos serão os elementos que contribuem para a autoconfiança em situações incomuns.
Mas os relacionamentos construídos sobre a artificialidade e as redes sociais públicas quase nunca sobrevivem aos acontecimentos ocultos da vida. Quando vêm a dor e o trabalho de manter um relacionamento, esses amigos encontram outros relacionamentos, uma demonstração mais impressionante do ego. Eles surgem quando o show começa e desaparecem quando o show acaba.
A segurança é importante. Qualquer coisa pode acontecer a qualquer um e a qualquer momento: doença, desemprego, até mesmo uma investida fantasiosa que nos leva a uma orientação ruim, interessante no princípio, mas que pode desviar os melhores planejamentos de vida.
Mas a segurança é uma companheira insípida. Fala do que é tranquilo e do que é certo. Pressagia contra o risco e a experiência. Acautela-nos o tempo todo. Adverte-nos para não irmos muito além, temendo que não nos encontremos vivendo sobre a areia e a água. Previne-nos a não sermos seduzidos pela vida.
O poder e a influência certamente são importantes. São o elixir da vida. Eles fazem as coisas acontecerem, sim, mas, mais importante que isso, pelo menos em algumas situações, fazem eu me sentir significativo. Eles são o gosto do sucesso de uma vida vivida a partir da saciedade da ambição.
Mas o poder é algo pelo que as pessoas vivem; raramente é algo que pode ser amontoado. Os presidentes vivem para serem ex-presidentes; os governos vêm e vão. A manchete de hoje é a lembrança de amanhã.
Evidentemente, a vida é fugaz, passageira. Como o mercúrio, desliza por nossos dedos antes que pensemos em engarrafá-lo. Assim, em que empregaremos nossa vida? O que pode nos sustentar no curso da vida e nos confortar no fim dela?
E como podemos estar certos?
Todas as tradições religiosas importantes tratam da natureza e do propósito da vida. Para todas elas, tem algo a ver com libertação ou liberação da escravidão do corpo e de todas as suas dores e lutas.
Ao mesmo tempo, existe a pergunta sobre como tomar boas decisões na vida ou como compensar as ruins enquanto estamos aqui.
Há uma necessidade de definir as prioridades da vida, sem importar o quanto as outras dimensões do viver - beleza, relacionamentos, segurança, influência e dinheiro - devem ser, ou deveriam ser, organizadas ao redor delas. Na realidade, estabelecer as prioridades da vida por nós mesmos é em geral a coisa mais difícil de fazer. Tomar decisões sobre todas sobre as pequenas coisas que faremos com nossa vida, fora todas as possíveis que a vida tem a oferecer, é uma coisa. Decidir o que queremos nos tornar como pessoas conforme o fazemos é outra completamente diferente. O que passaremos nossa vida fazendo é em geral uma pergunta muito menos importante do que o que queremos acabar sendo enquanto fazemos tudo o que fazemos com o tanto de tempo que temos.
Todas as grandes tradições espirituais nos advertem a fazer uma distinção entre as duas. Por exemplo, os sufis nos contam esta história:
Termina na próxima terça-feira

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