sexta-feira, 17 de maio de 2019

Reflexões provocadas por "A doença da ganância"

É impressionante a quantidade de trechos do texto A doença da ganância que chamam minha atenção. Trechos que em sua maioria levam-me a associações com coisas que li, e jamais esqueci. Considerando que associar ideias é uma das melhores maneiras de absorvê-las, compartilho com vocês algumas das associações que fiz a partir do elucidativo texto de Jan Nicolaas Kind.
"Todos nós temos potencial para tendências gananciosas", diz Jan Kind. Tendências que, no meu entender, têm enorme probabilidade de tornarem-se práticas, pois o sentimento de não possuir o suficiente é algo que não está relacionado apenas a uma coisa, mas sim a várias, como se pode ver na seguinte afirmação de Jan: "Essa coisa pode ser dinheiro, poder, sexo, comida, atenção, conhecimento..."
"Quando olhamos para a nossa história relativamente recente (os últimos dois mil anos), concluímos que, apesar de todos os nossos avanços tecnológicos e materiais, ainda nos comportamos como perdulários tolos e egoístas.", diz Jan Kind, fazendo-me lembrar algo que li no livro intitulado O Ato da Vontade, de Roberto Assagioli.
"Se um homem de uma civilização anterior à nossa – um grego da Antiguidade, digamos, ou um romano – aparecesse de súbito entre os seres humanos do presente, suas primeiras impressões o levariam a considerá-los uma raça de mágicos, de semideuses. Mas fosse um Platão ou um Marco Aurélio e se recusasse a ficar deslumbrado ante as maravilhas materiais criadas pela tecnologia avançada e examinasse a condição humana com mais cuidado, suas primeiras impressões dariam lugar a uma grande consternação.
Notaria logo que o homem, não obstante o imponente grau de domínio sobre a natureza, possui um controle muito limitado sobre o seu interior. (...) Verificaria que esse pretenso semideus que controla grandes forças elétricas com o mover de um dedo e inunda o ar de sons e imagens para divertimento de milhões de pessoas – é incapaz de lidar com as próprias emoções, impulsos e desejos."
"Por sermos gananciosos, perdemos a noção de quem realmente somos. (...) Mas, por causa da possessividade, as pessoas pensam que possuem a terra onde temporariamente vivem. Para que os apropriadores de terras se tornem 'proprietários de terras', incontáveis povos indígenas foram dizimados. Como representantes da vida una, não possuímos nada. Nós pertencemos às terras da mãe Terra, somos parte dela. É contra as leis que regem a natureza construir muros para manter "os outros" de fora.", diz Jan Kind.
Sim, "perdemos a noção de quem realmente somos", e equivocados dizimamos muitos daqueles que não a perderam. "Incontáveis povos indígenas foram dizimados.", diz Jan Kind, fazendo-me lembrar A Carta do Cacique Seattle. Carta espalhada por este blog em 24 de fevereiro de 2011 em sua nona postagem. Postagem que julguei conveniente ser antecedida por A história de uma certa carta (21 de fevereiro de 2011), e da qual extraí o trecho apresentado a seguir.
"O grande chefe de Washington deverá ensinar às suas crianças que o solo sob seus pés contém as cinzas dos nossos avós. Assim elas aprenderão a respeitar a terra. E deve ensinar a elas o que temos ensinado às nossas: que a terra é nossa mãe. O que acontece com a terra, acontece com os filhos da terra."
Vocês concordam que o Cacique Seattle não perdeu a noção de quem realmente somos?
"A Grande Muralha da China foi construída para proteger os chineses dos ataques do norte. Mesmo assim os mongóis, em 1211, simplesmente a rodearam e invadiram partes do território, infligindo uma terrível derrota ao imperador e seus exércitos.", diz Jan Kind. E aqui, em vez de associação, uso uma paráfrase para fazer uma previsão: Os grandes condomínios fechados são construídos para proteger os que têm dos ataques dos que não têm. Mesmo assim os que não têm, em algum ano, simplesmente os rodearão e invadirão partes do território, infligindo uma terrível derrota aos que imaginavam que neles estariam protegidos. "É contra as leis que regem a natureza construir muros para manter 'os outros' de fora.", diz Jan.
"Quando uma parede é construída e uma solução permanente é adiada, seus construtores correm o risco de que a correção temporária agrave o problema.", diz Jan Kind, fazendo-me lembrar algo dito por Friedrich Nieztsche: "O que não me mata me fortalece".
"Sabemos, teosoficamente, que estamos todos interligados.", diz Jan Kind. Sabemos, "indigenamente", que todas as coisa estão ligadas, digo eu, com base nas seguintes palavras do Cacique Seattle. "O que seria dos homens sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma imensa solidão de espírito. O que quer que aconteça com os animais, logo acontece com os homens. Todas as coisas estão ligadas."
Sabemos, "indigenamente", que tudo está interligado, digo eu, com base no seguinte trecho da introdução de um livro intitulado Flua, de Louis Burlamaqui.
Certa vez, uma pessoa perguntou a um pajé e xamã americano de 101 anos.
- O que você faz?
- Ensino meu povo.
- O que você ensina?
- Quatro coisas: primeiro, a escutar; segundo, que tudo está interligado; terceiro, que tudo está em transformação; quarto, que a Terra não é nossa, nós é que somos da Terra.
Sabemos, "cientificamente", que tudo está interligado, digo eu, com base nas seguintes palavras de Fritjof Capra no livro intitulado Pertencendo ao Universo. "Qualquer que seja o problema (...) ele tem de ser percebido como algo que está ligado aos outros. Para resolver qualquer problema isolado, precisamos de um pensamento sistêmico, pois todos os problemas são sistêmicos, interligados e interdependentes. E ao falar em pensamento sistêmico, recomendo a leitura da quinta postagem deste blog - O Raciocínio Sistêmico (14 de fevereiro de 2011).
"É claro que é hora de acabar com a ganância. (...) O dinheiro não deve controlar nossas vidas.", diz Jan Kinde. "Reduzir o valor da vida ao dinheiro mata toda possibilidade de idealizar um mundo melhor.", afirma Nuccio Ordine, professor de literatura italiana da Universidade da Calábria, em artigo intitulado Democracia líquida, publicado na edição de 16.02.2014 do jornal O Estado de S. Paulo. Tudo a ver, não?!
"É claro que é hora de acabar com a ganância. (...) Em um mundo com tanto sofrimento e dor, é essencial irradiar bondade, compartilhar e demonstrar compaixão, banindo para sempre a ganância de nossas vidas.", diz Jan Kind. O que precisamos fazer para banir para sempre a ganância de nossas vidas? Segundo Jan, "Precisamos colocar em prática o primeiro objetivo da Sociedade Teosofia, formando um núcleo de fraternidade universal: um núcleo capaz de estabelecer os exemplos corretos (segundo Blavatsky)."
"Formar um núcleo capaz de estabelecer os exemplos corretos"! Ou seja, dispormo-nos a comportarmo-nos de forma contrária a da imensa maioria dos integrantes da pretensa espécie inteligente do universo. Como assim? Em vez de esperarmos que os outros nos dêem os exemplos corretos de como comportar-se na vida, sejamos nós a dar aos outros tais exemplos.
"Vamos dar o exemplo.", eis a conclamação expressa na frase final de Jan Kind, em seu elucidativo texto. "Seja a mudança que você quer ver no mundo.", eis a conclamação de Gandhi que uso como última associação feita nestas reflexões.

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