domingo, 9 de dezembro de 2018

Quem você quer ser?

Após uma postagem indagando – O que fez você ser o que é? -, segue uma indagando - Quem você quer ser?. O que levou-me a esta segunda indagação? O bom e velho método das recordações sucessivas. Enquanto elaborava a postagem anterior, ele trouxe-me à mente um livro lido em 2012, ano em que foi publicado no Brasil. Intitulado "Quem você quer ser?", ele apresenta o seguinte subtítulo: "Nunca é tarde para se tornar a pessoa que você quer ser". Quem é o (a) autor (a) do livro? Maria Shriver. Quem é Maria Shriver?
Segundo o que é dito pelas "orelhas" do livro (em livros orelhas falam!), Maria Shriver é uma jornalista e escritora americana, filha da criadora das Paraolimpíadas e do fundador do Peace Corps, sobrinha do ex-presidente americano John Kennedy, esposa de um astro de Hollywood que acabou se tornando primeira-dama do estado da Califórnia. Nossa! Ela não é pouca coisa não, hein! Porém, segundo o que ela aprendera a partir de duas coisas que lhe aconteceram, isso não descreve quem ela é, e sim o que ela é.
Quais são as duas coisas? A primeira, sua demissão, sugerida pela NBC News alegando que haveria um possível conflito de interesses entre seu emprego de jornalista e o cargo político de seu marido. "Minha carreira se foi e, com ela, se foi também a pessoa que eu tinha sido durante 25 anos.", diz Maria. E ela diz mais: "Às vezes, a vida dá uma reviravolta e – pronto! a ideia que você faz de si mesmo acaba virando fumaça. Foi o que aconteceu comigo."
A segunda, um pedido feito por seu sobrinho (pouco tempo após a demissão, bem no meio do que parecia ser uma de suas piores crises de identidade) para que fosse a oradora na sua cerimônia de formatura no ensino médio. Pedido inicialmente recusado com a seguinte justificativa: "Você está brincando! Como posso dizer alguma palavra de incentivo para os seus colegas, quando estou mergulhada em problemas? Pedido imediatamente aceito após seu sobrinho fazer o que, segundo ela, qualquer adolescente faria: apelar para a chantagem emocional.
Aceitação que lhe proporcionou alguns problemas inesperados, como se pode deduzir a partir das seguintes palavras. "Como passei boa parte da vida fazendo discursos para públicos grandes e pequenos, qualquer um poderia achar que eu tiraria essa tarefa de letra. Mas nada disso, Entrei em pânico. Por mais que tentasse, eu não conseguia imaginar o que aqueles alunos queriam ouvir de mim.", diz Maria Shriver. "E o que eu poderia lhes dizer?", ela indaga.
Problemas inesperados que lhe proporcionaram aprendizados não menos inesperados, como se pode deduzir a partir das seguintes afirmações. "De repente me dei conta de que escrever aquele discurso tinha sido muito importante para mim também, pois me ajudou a dar uma nova direção na minha vida, pois se estivermos seguindo na direção errada ou se a vida nos colocar em uma posição difícil, como aconteceu comigo, fazer essa pergunta a nós mesmos pode nos colocar no rumo certo.", diz Maria.
Perguntar a si mesmo - "Quem eu quero ser?" - pode nos colocar no rumo certo, afirma Maria. E ela acrescenta: "Quando refleti sobre essa pergunta percebi que durante toda a vida eu tinha dado uma resposta errada. Respondi sempre apresentando meu currículo. Mas descobri que a verdadeira resposta tem a ver com meu coração, meus valores e minha alma. Quem eu sou, não o que eu sou.".
E ao refletir sobre o que dito no parágrafo anterior, ouso fazer aqui uma correção no que é dito por Maria Shriver. Não, o que ela fez durante toda a vida não foi ter dado uma resposta errada, e sim ter feito uma pergunta errada, conforme demonstra algo dito por ela mesma. "Desde pequenos nos perguntam 'O que você quer ser? ', mas ninguém – nem nós mesmos – faz a pergunta mais importante: 'Quem você quer ser?'", diz Maria.
"Aprendi que perguntar a nós mesmos não somente o que queremos ser, mas quem desejamos ser, é importante em cada fase da vida, e não apenas quando estamos dando os primeiros passos no mundo.", diz Maria Shriver.
"Quem eu quero ser?", eis a pergunta "cuja resposta é bem possível que seja diferente aos 20, 30, 40 anos ou mais – é o meu caso -, mas tudo bem. Podemos continuar a mudar, a crescer e a evoluir. Na verdade, é exatamente isso o que devemos fazer. (...) Talvez por isso o discurso tenha servido tanto para os adultos quanto para mim.", disse Maria. "Eu gostaria de ter ouvido essa mensagem quando era jovem. E sabe de uma coisa? Eu precisava ouvi-la agora também.", disseram os pais dos adolescentes.
E ao afirmar que "Continuar a mudar, a crescer e a evoluir, na verdade, é exatamente o que devemos fazer.", ou seja, que a evolução é algo interminável, Maria Shriver faz-me lembrar da afirmação que considero a mais significativa que vi nesta vida: "Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana", disse o teólogo, filósofo e paleontólogo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881 – 1955).
Para quem não acreditar no que disse Teilhard de Chardin, sugiro refletir sobre uma mensagem interessantíssima passada pelo filme Cidade dos Anjos.


"Escrito para quem busca um significado na vida, Quem você quer ser? revela que nossa identidade não é o trabalho, o sobrenome ou a conta bancária. Somos um retrato do que está no nosso coração e é dentro dele que encontramos a resposta a essa pergunta fundamental.", diz o último parágrafo da contracapa do meu exemplar do referido livro.
E é a qualidade das respostas que forem dadas a essa pergunta fundamental por todos os seus componentes que define a qualidade de uma sociedade, digo eu.
"Desde pequenos nos perguntam 'O que você quer ser? ', mas ninguém – nem nós mesmos – faz a pergunta mais importante: 'Quem você quer ser?'", diz Maria Shriver.
Por que a segunda pergunta é mais importante que a primeira? – pergunto eu. Porque ao responder - Quem você quer ser? -, você, consequentemente, responde também à outra pergunta fundamental. Que sociedade você quer ter?

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