Após uma postagem
indagando – O
que fez você ser o que é? -, segue uma indagando - Quem você quer
ser?. O que levou-me a esta segunda indagação? O bom e velho método das
recordações sucessivas. Enquanto elaborava a
postagem anterior, ele trouxe-me à mente um livro lido em 2012, ano em que foi
publicado no Brasil. Intitulado "Quem você quer ser?", ele apresenta
o seguinte subtítulo: "Nunca é tarde para se tornar a pessoa que
você quer ser". Quem é o (a) autor (a) do livro? Maria Shriver. Quem é
Maria Shriver?
Segundo o que é dito pelas "orelhas"
do livro (em livros orelhas falam!), Maria Shriver é uma jornalista e escritora
americana, filha da criadora das Paraolimpíadas e do fundador do Peace Corps,
sobrinha do ex-presidente americano John Kennedy, esposa de um astro de
Hollywood que acabou se tornando primeira-dama do estado da Califórnia. Nossa! Ela
não é pouca coisa não, hein! Porém, segundo o que ela aprendera a partir de
duas coisas que lhe aconteceram, isso não descreve quem ela é, e sim o que
ela é.
Quais são as duas coisas? A primeira, sua
demissão, sugerida pela NBC News alegando que haveria um possível conflito de interesses entre seu emprego de
jornalista e o cargo político de seu marido. "Minha carreira se foi e, com
ela, se foi também a pessoa que eu tinha sido durante 25 anos.", diz Maria.
E ela diz mais: "Às vezes,
a vida dá uma reviravolta e – pronto! a ideia que você faz de si mesmo acaba
virando fumaça. Foi o que aconteceu comigo."
A segunda, um pedido
feito por seu sobrinho (pouco tempo após a demissão, bem no meio do que parecia
ser uma de suas piores crises de identidade) para que fosse a oradora na sua
cerimônia de formatura no ensino médio. Pedido inicialmente recusado com a
seguinte justificativa: "Você está brincando! Como posso dizer alguma
palavra de incentivo para os seus colegas, quando estou mergulhada em
problemas? Pedido imediatamente aceito após seu sobrinho fazer o que, segundo
ela, qualquer adolescente faria: apelar para a chantagem emocional.
Aceitação que lhe proporcionou alguns problemas
inesperados, como se pode deduzir a partir das seguintes palavras. "Como
passei boa parte da vida fazendo discursos para públicos grandes e pequenos,
qualquer um poderia achar que eu tiraria essa tarefa de letra. Mas nada disso,
Entrei em pânico. Por mais que tentasse, eu não conseguia imaginar o que
aqueles alunos queriam ouvir de mim.", diz Maria Shriver. "E o que eu poderia
lhes dizer?", ela indaga.
Problemas inesperados que lhe proporcionaram aprendizados
não menos inesperados, como se pode deduzir a partir das seguintes afirmações. "De
repente me dei conta de que escrever aquele discurso tinha sido muito
importante para mim também, pois me ajudou a dar uma nova direção na minha vida,
pois se estivermos seguindo na direção errada ou se a vida nos colocar em uma
posição difícil, como aconteceu comigo, fazer essa pergunta a nós mesmos pode
nos colocar no rumo certo.", diz Maria.
Perguntar a si mesmo - "Quem eu quero ser?" - pode nos
colocar no rumo certo, afirma Maria. E ela acrescenta: "Quando refleti
sobre essa pergunta percebi que durante toda a vida eu tinha dado uma resposta
errada. Respondi sempre apresentando meu currículo. Mas descobri que a
verdadeira resposta tem a ver com meu coração, meus valores e minha alma. Quem eu sou, não o que eu sou.".
E ao refletir sobre o que dito no parágrafo
anterior, ouso fazer aqui uma correção no que é dito por Maria Shriver. Não, o que
ela fez durante toda a vida não foi ter dado uma resposta errada, e sim ter
feito uma pergunta errada, conforme demonstra algo dito por ela mesma. "Desde pequenos nos perguntam 'O que você quer ser? ', mas ninguém – nem nós mesmos – faz a
pergunta mais importante: 'Quem você quer ser?'",
diz Maria.
"Aprendi que perguntar a nós mesmos não
somente o que queremos ser, mas quem desejamos ser, é importante em cada fase
da vida, e não apenas quando estamos dando os primeiros passos no mundo.",
diz Maria Shriver.
"Quem
eu quero ser?", eis a pergunta "cuja resposta é bem possível que seja
diferente aos 20, 30, 40 anos ou mais – é o meu caso -, mas tudo bem. Podemos
continuar a mudar, a crescer e a evoluir. Na verdade, é exatamente isso o que devemos fazer. (...) Talvez por isso o
discurso tenha servido tanto para os adultos quanto para mim.", disse
Maria. "Eu gostaria de ter
ouvido essa mensagem quando era jovem. E sabe de uma coisa? Eu precisava ouvi-la
agora também.", disseram os pais dos adolescentes.
E ao afirmar que "Continuar
a mudar, a crescer e a evoluir, na verdade, é exatamente o que devemos fazer.", ou seja, que a evolução é algo
interminável, Maria Shriver faz-me lembrar da afirmação que considero a mais significativa que vi nesta vida: "Não
somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais
vivendo uma experiência humana", disse o teólogo, filósofo e paleontólogo
francês Pierre Teilhard de Chardin (1881 – 1955).
Para quem não
acreditar no que disse Teilhard de Chardin, sugiro refletir sobre uma mensagem
interessantíssima passada pelo filme Cidade
dos Anjos.
"Escrito
para quem busca um significado na vida, Quem
você quer ser? revela que nossa identidade não é o trabalho, o sobrenome ou
a conta bancária. Somos um retrato do que está no nosso coração e é dentro dele
que encontramos a resposta a essa pergunta fundamental.", diz o último
parágrafo da contracapa do meu exemplar do referido livro.
E é a qualidade das
respostas que forem dadas a essa pergunta fundamental por todos os seus
componentes que define a qualidade de uma sociedade, digo eu.
"Desde pequenos nos
perguntam 'O que você quer ser? ', mas ninguém – nem nós mesmos – faz a
pergunta mais importante: 'Quem você quer ser?'",
diz Maria Shriver.
Por que a segunda
pergunta é mais importante que a primeira? – pergunto eu. Porque ao responder -
Quem você quer ser? -, você, consequentemente,
responde também à outra pergunta fundamental. Que sociedade você quer ter?
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