domingo, 2 de dezembro de 2018

O que o fez ser o que você é?

Prosseguindo com a ideia de aproveitar este período do ano em que muitas pessoas costumam prometer a si mesmas mudanças comportamentais no ano seguinte, com a intenção de estimular tais mudanças, compartilho com vocês um interessante texto que encontrei em um livro intitulado Trajetória de sucesso, de autoria de Delair Zermiani. Um texto que mostra que aquilo que nos tornamos não resulta dos exemplos que nos foram dados, e sim do que fazemos a partir de tais exemplos.
Exerça seu poder de escolha
"É pouco conhecida entre nós uma história clássica entre os americanos: a de um pai, bandido, que morreu e deixou dois filhos. Um saiu igual ao pai, 'cuspido e escarrado', como diriam alguns, um criminoso idêntico ao pai; e o outro, um empresário bem-sucedido. É claro que isso despertou a curiosidade de alguns estudiosos do comportamento. Então, foi dirigida aos irmãos a mesma pergunta: 'O que o fez ser o que você é?'. O primeiro, bandido, respondeu: 'O que você queria que eu fosse tendo um pai como o meu?'. Ok, resposta anotada. E compreendida, visto que o menino cresceu num ambiente tumultuado, sem grandes valores, e presenciou muitas cenas que o conduziram a ser assim. O pai foi um modelo a ser seguido. O segundo filho, pessoa honesta e bem-sucedida, quando indagado , deu idêntica resposta: 'O que você queria que eu fosse tendo um pai como o meu?'. Estranho não é?"
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"Estranho, não é?"-, eis a pergunta que encerra a história. Sim, estranho, pois tudo o que é raro costuma causar estranheza e o comportamento do segundo filho é algo raro se for comparado ao da imensa maioria dos nascidos neste país, e eu explico. Algum de vocês nunca ouviu uma lenda que diz que "o Brasil é do jeito que é porque foi descoberto pelos portugueses"? Lenda que, no meu entender, pode ser interpretada como a extensão para um país da desculpa dada pelo primeiro filho na história contada acima. Lenda que leva a maioria dos nascidos neste país a seguir pela vida justificando (sic) seu comportamento com o fato de ter nascido aqui.
Sobre a referida lenda, reproduzo aqui algo dito por Elio Gaspari na edição de 19 de abril de 2015 do jornal Folha de S.Paulo. "Há uma velha lenda segundo a qual o Brasil seria outro se os holandeses tivessem colonizado o Nordeste. Darcy Ribeiro matou essa charada respondendo: "Seria um Suriname".
Dito isso, esqueçamos a lenda envolvendo os portugueses; esqueçamos a ilusão envolvendo os holandeses; deixemos de lado o comportamento passivo do primeiro filho que viu no pai um exemplo a ser imitado; e reflitamos um pouco sobre o estranho comportamento do segundo filho que viu no pai um exemplo a ser rejeitado.
Rejeição que me faz lembrar uma afirmação do historiador inglês Edward Gibbon (1737 – 1794), autor de A História do Declínio e Queda do Império Romano, que diz que "O homem recebe duas classes de educação. Uma que lhe dão os demais; outra a mais importante, que ele dá a si mesmo."? Vocês concordam que o comportamento do segundo filho está em conformidade com tal afirmação?
"O que o fez ser o que você é?", eis a pergunta dirigida aos dois filhos do bandido morto? Pergunta que me faz lembrar uma afirmação de Howard Hendricks (1924 - 2013) que, por considerá-la importante demais, uso-a como ilustração neste blog. Qual é a afirmação? "Daqui a cinco anos você estará bem próximo de ser a mesma pessoa que é hoje, exceto por duas coisas: os livros que ler e as pessoas de quem se aproximar". Ou seja, o que faz um indivíduo ser o que é são suas escolhas sobre duas coisas capazes de mostrarem-lhe o mundo de outras formas.
"Por que criei um blog?", eis o título da primeira postagem deste blog. Pergunta, inicialmente, respondida assim: "Porque acredito em uma afirmação atribuída a Caio Graco: 'Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas'". E cuja resposta é complementada assim: "E mais pessoas acreditam. Em entrevista concedida ao jornal literário 'Rascunho' e publicada no livro 'As melhores entrevistas do rascunho', Luiz Ruffato diz: 'Ainda acredito na capacidade da literatura de modificar o mundo modificando cada um dos leitores. Foi assim comigo'".
Modificar o mundo – para melhor -, eis algo desejado por muitos, mas assumido por poucos, pois como disse Tolstói (1828 - 1910), um escritor russo considerado um dos maiores autores de todos os tempos, "Cada um pensa em mudar a humanidade, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo."
Mudar a si mesmo – para melhor, eis, não a melhor; e sim a única opção para, consequentemente, mudar o mundo - para melhor. E com a intenção de reforçar essa opção única, segue uma afirmação feita pelo médico e filósofo Celso Charuri (1940 – 1981) que em 1978 criou a Pró – Vida.
"Homens que são produto do meio são homens pequenos, minúsculos e imperfeitos. Se vocês pretendem um Mundo Melhor, é necessário que homens melhores sejam preparados, pois o meio é produto do homem e não o homem produto do meio. Modifiquem o homem e o HOMEM modificará o meio."
Portanto, "Se vocês pretendem um Mundo Melhor, (...) modifiquem o homem e o HOMEM modificará o meio", é o que nos diz Celso Charuri. Mas a quem cabe modificar o homem, pergunto eu? A todos e a cada um dos homens que fazem parte do Mundo, respondo, pois como é dito no Quem sou eu (espaço para descrever o perfil do mantenedor do blog), sou alguém que acredita que a qualidade de uma sociedade é resultado das ações de todos os seus componentes.
Diante de tudo o que é dito acima, será que faz sentido teimar em atribuir aos pais e / ou aos descobridores do país em que nascemos a responsabilidade pelo nosso comportamento equivocado? Ou será que o que a única coisa que faz sentido é seguir o exemplo dado pelo segundo filho e assumir que cabe a cada um a responsabilidade por ser aquilo que é?
Assumir que cabe a cada um a responsabilidade por ser aquilo que é! Será que esse é um item que merece ser incluído na relação de promessas de mudanças comportamentais a serem adotadas no próximo ano? Pensem nisso com carinho, ok? Até porque, como diz Dumbledore, o mago barbudo do filme Harry Potter e o Cálice de Fogo, "Tempos difíceis estão por vir. Em breve, teremos que escolher entre o que é certo e o que é fácil." Entre o que é certo, como fez o segundo filho e o que é fácil, como fez o primeiro. Compreendido?
E para encerrar bem esta postagem, segue uma afirmação do extraordinário escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940 – 2015) da qual gosto demais. "Somos o que somos e ao mesmo tempo o que fazemos para mudar o que somos."

Um comentário:

Unknown disse...

Mais uma ótima postagem, Guedes!
Nesse período propício à reflexão, marcado pela proximidade do final de um ano e pela expectativa de um novo recomeço, cabe a cada um refletir sobre a responsabilidade por ser aquilo que é e por aquilo que deseja ser.