Neste dia "lembrativo" dos (as) que já partiram desta dimensão, segue um instigante texto
extraído do livro "O Que Fazemos
Neste Mundo?" de Richard Simonetti (1935 – 2018).
Partir com elegância
Não é de bom gosto,
nem prudente, deixar este mundo pela porta falsa do suicídio, que apenas nos
precipita em tormentos inenarráveis.
Há um aspecto
interessante sobre o assunto, que merece nossa consideração.
Em 17 de abril de
1955, Albert Einstein (1879 – 1955), o grande físico alemão, foi internado em
decorrência da ruptura de um aneurisma da aorta abdominal.
Anteriormente, em
1948, já havia sido operado por ameaça de problema semelhante.
Fazia-se necessária
nova cirurgia, com urgência, complicada e imprevisível, em face de sua idade,
mas Einstein recusou-se, dizendo:
É de mau gosto ficar prolongando a vida artificialmente.
Eu fiz a minha parte, é hora de partir e vou fazê-lo com elegância.
Na manhã do dia
seguinte desencarnou, aos setenta e seis anos, após uma existência dedicada à
ciência, trabalhando sempre, até o último suspiro.
Interessante e
sugestiva a expressão de Einstein: morrer
com elegância.
O leitor perguntará se
é possível ser elegante diante da grande ceifeira, já que as pessoas costumam
agarrar-se com unhas e dentes à vida física, em base de daqui não saio, daqui ninguém me tira. Terminam por serem
literalmente despejadas pela implacável senhora, que não dá a mínima para seus apelos, expulsando-as do corpo, situado como
uma casa em ruínas.
Lamentável essa inútil
resistência. Tudo o que o paciente conseguirá será prolongar a própria agonia.
Melhor soltar-se,
partir com elegância.
***
Na atualidade, os
recursos da Medicina, extremamente sofisticados, podem prolongar a vida de um
paciente terminal por dias, semanas e até meses, na UTI – Unidade de Terapia Intensiva.
Dificuldade para respirar?
Entubação.
Acúmulo de secreção,
ameaçando sufocar o paciente?
Traqueostomia.
Não consegue comer?
Alimentação parenteral.
Rins paralisando?
Hemodiálise.
Coração fibrilando?
Eletrochoque.
Isso tudo torturando o
paciente solitário na UTI, ambiente gelado, fios por todos os lados, tubos
garganta adentro, dores no corpo pela imobilidade, escaras apontando, sensação
de horror em momentos de despertar...
Por que tal empenho?
Por que essa batalha
inglória?
Resposta simples: É para
atender ao decantado respeito humano,
que impõem combate sem tréguas à indesejável senhora, mesmo sabendo que se está
investindo numa causa perdida, com ônus emocionais para todos, principalmente
para o paciente.
Se é terminal, por que
submetê-lo a torturas inúteis?
A UTI fica bem para
pacientes que podem estar correndo risco de morte em virtude de acidentes,
enfartos, infecção, ou que precisem desse tipo de assistência após uma
cirurgia. Não são terminais.
***
Diante de um paciente
idoso, câncer disseminado, prestes a sofrer falência múltipla dos órgãos, o
médico conversou com a família:
- Se o internarmos na
UTI poderemos mantê-lo vivo por algum tempo, mas em coma induzido, com toda a
parafernália ali utilizada. O que faremos?
A família,
acertadamente, optou por mantê-lo em casa.
Dois dias depois
faleceu, amparado pelo carinho e a solicitude de seus entes queridos.
Veja bem, leitor
amigo: não se trata de abreviar a vida de um paciente, em crime de eutanásia,
mas de não tentar reter alguém de partida.
Tal procedimento é
hoje admitido pela Medicina, caracterizado como ortotanásia, a morte sem dor.
Se o paciente é
terminal, que lhe proporcionemos o conforto necessário, minorando seus
padecimentos com medicação apropriada, mas suspendendo a utilização de recursos
que apenas prolongarão seus padecimentos.
É algo para pensar,
leitor amigo.
Se concorda comigo,
será interessante conversar com a família sobre o assunto, a fim de que, quando
chegar sua vez de bater as botas,
seus entes queridos superem o enganoso respeito
humano, com medidas desesperadas que apenas retardam a liberação da alma.
Assim você poderá
retornar ao mundo espiritual de forma elegante, como Einstein.
*************
Autor de mais de 60
livros que ajudaram, ajudam e continuarão ajudando milhares de pessoas a
responder à pergunta que intitula o 63º - "O que fazemos neste mundo?" -, publicado em outubro de 2017,
no dia 3 de outubro mais recente, aos 82 anos, Richard Simonetti partiu com
elegância para outra dimensão.
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