"Quando nada parece dar certo, vou ver o cortador de pedras martelando sua
rocha talvez 100 vezes, sem que uma única rachadura apareça. Mas na centésima
primeira martelada a pedra se abre em duas, e eu sei que não foi aquela que
conseguiu isso, mas todas as que vieram antes."
De quem são as palavras acima? De Jacob Riis (1849 – 1914), um
dinamarquês-americano que atuou como fotógrafo de documentários sociais e
jornalista "muckraking". O que significa
"muckraking"? Segundo a wikipédia, "O termo muckraker foi
usado na Era Progressiva para caracterizar os jornalistas americanos
preocupados com a reforma social que atacavam instituições e líderes
estabelecidos como corruptos. Eles normalmente tinham grandes audiências em
algumas revistas populares.".
Nossa! Naquela época já existiam instituições e líderes estabelecidos como corruptos
nos Estados Unidos?! E nós aqui pensando que isso seja coisa recente inventada há
poucos anos neste país! Surpreendente, não?!
Jacob Riis sabia que - se após ser martelada talvez 100 vezes sem que uma
única rachadura apareça, na centésima primeira a pedra se abre em duas - o
resultado não é consequência da última martelada, mas de todas as que vieram
antes.
Por que decidi espalhar o que Jacob Riis sabia? Porque, à luz do que
ele sabia, creio que seja fácil compreender corretamente porque a sociedade da
qual somos parte está aberta em duas. Porque, à luz do que Riis sabia,
creio que seja fácil entender porque a sociedade que existe hoje não resulta apenas das ações nela praticadas ontem, ou seja, de ações
mais recentes, mas sim de todas as ações praticadas até ontem. Porque, à luz do
que ele sabia, eu sei que a sociedade que almejarmos ter em qualquer dia
vindouro não resultará do que fizermos na véspera desse dia, e sim de tudo que
fizermos de hoje até tal dia.
Compreender que a sociedade que temos hoje é resultante de tudo o que
todos fizeram desde seu início até ontem, e não apenas do que alguns fizeram ontem,
eis a questão!
E nessa conversa
envolvendo o ontem e o hoje, aplicando o método das recordações sucessivas, segue uma
afirmação de outro dinamarquês. De quem? Do filósofo, teólogo, poeta e crítico
social Søren Kierkegaard (1813 – 1855). O que
afirma ele? "A vida só pode ser compreendida
olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente".
E de recordação em recordação, segue a
primeira citação que ilustra este blog. "Melhor
vive quem melhor conhece; e melhor conhece quem melhor interpreta. Daí a
necessidade de esforços cada vez maiores na iluminação do raciocínio.", diz Ariston Santana Teles.
Citação
que, aplicada na interpretação da afirmação de Kierkegaard, leva-me a afirmar que embora a vida só possa
ser vivida olhando-se para frente, se não olharmos para trás para compreender
como chegamos ao deplorável estágio em que nos encontramos, jamais
conseguiremos atingir um estágio em que estejamos livres dos males que hoje nos
afligem. Afirmação a partir da qual ouso fazer a seguinte inversão: a vida só pode ser bem
vivida se for compreendida.
Compreender a vida para poder vivê-la bem, eis a questão!
E voltando ao que é
dito sobre Jacob Riis na wikipédia,
segue o seguinte trecho:
"Enquanto
morava em Nova York, Jacob Riis experimentou a pobreza e se tornou um repórter
policial escrevendo sobre a qualidade de vida nas favelas. Ele tentou aliviar as más condições de vida das pessoas
pobres, expondo suas condições de vida às classes média e alta."
E as surpresas não param, hein! Descobrir que há mais de cem anos, alguém
que "morava em Nova York, tentou aliviar as más
condições de vida das pessoas pobres, expondo suas condições de vida às classes
média e alta", deve ser uma enorme surpresa
para quem imagine que tal coisa seja uma novidade introduzida no mundo por este
país.
Dito isto, seguem algumas indagações provocadas pelo que disseram Jacob
Riis, Søren Kierkegaard e Ariston Santana Teles.
Será que, assim como
não faz sentido atribuir à última martelada a quebra da pedra em duas partes,
também não faz sentido atribuir ao que foi feito nos anos mais recentes a
quebra da sociedade em duas partes.
Será que, se a vida só
pode ser compreendida olhando-se para trás, faz algum sentido tomarmos qualquer
decisão com base apenas no passado mais recente?
Será que, se melhor
vive quem melhor conhece; e melhor conhece quem
melhor interpreta, daí resulta a necessidade de esforços
cada vez maiores na iluminação do raciocínio?
E as indagações prosseguem.
Será que, à luz do que é dito acima, é possível enxergar que a quebra
de qualquer coisa, inclusive a de uma sociedade, é causada pelas marteladas recebidas
ao longo do tempo e não apenas pela última martelada?
Será que como diz
aquela bela canção da Legião Urbana -
"Nos
perderemos entre monstros da nossa própria criação"?
E como indagação
final, segue mais uma trazida pela bela canção da Legião Urbana - Será que vamos ter de responder pelos erros a mais,
eu e você?
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