Continuação de sexta-feira
LOLA: Filantropia é uma
forma de mostrar desapego ao dinheiro? Ou é outra forma de apego?
Armstrong: No seu melhor, a filantropia mostra o
bem que o dinheiro pode alcançar. Mostra desapego no sentido de que o indivíduo
não está usando o dinheiro para seu próprio conforto. É claro que o filantropo
retira daí grande satisfação, mas isso não reduz seu mérito.
LOLA: A versão de que quem
herda muito dinheiro tende a não ter objetivos de vida faz sentido?
Armstrong: Sem dúvida. A herança de uma grande
quantia é algo bem difícil de lidar, embora muitas pessoas fantasiem a
respeito. Se você herda bastante dinheiro, poderá fazer o que bem entender. E a
liberdade completa é terrível para algumas pessoas. Então, elas enlouquecem,
porque satisfazem todos os desejos imediatamente. É receita para o desastre.
Famílias que conseguiram administrar bem grandes heranças ao longo de gerações
tiveram grande cuidado em educar seus filhos com responsabilidade social e
ensinar a eles como lidar com suas vantagens. Limitaram a quantidade de
dinheiro acessível, pensaram muito bem nos perigos da arrogância.
LOLA: Qual é o equilíbrio
entre poupar e gastar?
Armstrong: A verdadeira questão relevante é
sobre o equilíbrio entre as despesas e uma vida boa, tranquila. Gastar muito é
um desperdício, porque isso não contribui para o bem-estar a longo prazo. Mas,
se você apenas poupa e não gasta, qual é o propósito? O que devemos nos
perguntar é: "Quais são minhas reais e imediatas necessidades? E quais
serão as necessidades reais, outras, que eu terei no futuro?". A
habilidade de perceber o que precisaremos a longo prazo é uma das mais
importantes capacidades a serem desenvolvidas.
LOLA: As preocupações com
dinheiro variam de acordo com a faixa etária?
Armstrong: Sim – e com razão. Quando somos
jovens, não temos a noção do que irá acontecer em nossa vida. Não sabemos se
seremos bem-sucedidos na carreira, não temos certeza de nossos pontos fracos e
fortes. Um rapaz de 21 anos não sabe se terá uma casa grande ou se a economia
vai crescer em 20 anos. Quanto mais velhas, as pessoas são tomadas por um
sentimento de que desperdiçaram sua existência, de que têm cada vez menos a
oferecer ao mundo e estão ficando para trás. Então, tendem a usar o dinheiro
para tentar manter sua respeitabilidade: comprar um carro caro, ir a um
restaurante de luxo, por exemplo, para se sentirem aceitas no mundo.
LOLA: Homens e mulheres
lidam de maneiras diferentes com o dinheiro?
Armstrong: Sou um pouco cauteloso quanto à
generalização de gêneros, porque sempre existem exceções notáveis. De um modo
geral, acho que as mulheres tendem a ser mais realistas e sensatas. Tem a ver
com a maternidade e com o fato de que elas, muitas vezes, não são as principais
provedoras da casa. Então, preocupam-se mais com o dinheiro disponível e não
ficam tão presas ao pensamento de "Um dia, vou ganhar uma fortuna".
Muitos homens têm em mente que vão ganhá-la, e isso se torna não só uma
esperança, mas uma previsão, embora muitas vezes falsa. Isso, porém, não é uma
regra universal.
LOLA: Por que as mulheres,
quando não estão preocupadas com os filhos, estão preocupadas com o cartão de
crédito?
Armstrong: Cartão de crédito é uma invenção
infeliz. Ele combina duas coisas que deveriam ser mantidas separadas: a
facilidade de comprar e um empréstimo. Endividamento faz sentido para fins de
investimento, para gerar riqueza, não para consumo. Para a classe média, o
mundo está cheio de objetos desejáveis – sapatos que são realmente adoráveis,
hotéis que são agradáveis, e viajar de classe executiva é uma alegria: é
totalmente compreensível que queiramos essas coisas. Mas o cartão de crédito
nos dá a opção de comprar coisas que não podemos realmente pagar – e, portanto,
de sacrificar o futuro pelo presente. Em um mundo ideal, as pessoas não seriam
autorizadas a contrair empréstimos para consumo.
"Cartão de crédito é uma invenção infeliz"
"Dívidas fazem
sentido para investimento, para gerar riqueza. Não para consumo."
LOLA: Hoje, a maioria das
transações é virtual. Isso muda a noção das pessoas em relação ao dinheiro e a
maneira com que lidam com ele?
Armstrong: Sim. Quando temos de pagar em
dinheiro – em notas reais -, ficamos muito mais conscientes do que estamos
gastando. Transações virtuais diminuem a dor dos gastos, o que provavelmente é uma
coisa ruim, embora seja totalmente compreensível que queiramos diminuir essa
dor. A dor é, biologicamente falando, um sinal de alerta sobre o perigo. Então,
se você elimina a dor, você elimina o sinal de alerta.
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Será que
vale a pena refletir sobre o que é dito pelo filósofo John Armstrong? Ou será que
você pertence ao diminuto grupo composto por aqueles (as) que sabem lidar com
esse cultuado deus desta civilização (sic).
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