segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O Discurso Final

Em um blog em que, na maioria das vezes, a definição da próxima postagem é feita após a publicação da mais recente, após a terceira postagem da "trilogia" focalizando o tema desaceleração, fiz-me a pergunta – Qual será o tema da próxima? Pergunta que foi respondida por um e-mail que recebi no mesmo dia em que foi feita, e do qual reproduzo os seguintes trechos:
Na semana passada assisti novamente, depois de muito tempo, o filme O Grande Ditador do Charlie Chaplin. O filme termina com um discurso muito interessante e atual do Chaplin, principalmente agora, em época de eleições. Fiquei com vontade de enviá-lo para você. Acredito que você deve conhecer, pois já deve ter visto o filme. Mas resolvi enviar assim mesmo.
Acho que estou carente das nossas conversas, esse seria um bom tema para conversarmos.
O filme é de 1940 e é possível perceber que nada mudou de lá pra cá. Às vezes penso que realmente não existe esperança para a humanidade.
"Acredito que você deve conhecer, pois já deve ter visto o filme. Mas resolvi enviar assim mesmo.", diz a remetente do e-mail. Acredito que muitos devem conhecer, pois já devem ter visto o filme, mas acredito também que muitos ainda não o viram e que todos deveriam ver, e rever, digo eu.
"O filme é de 1940 e é possível perceber que nada mudou de lá pra cá. Às vezes penso que realmente não existe esperança para a humanidade.", diz a remetente do e-mail. E ao dizê-lo, levou-me a responder-lhe assim: "Creio que enquanto existirem pessoas que se interessem pela melhoria do mundo em que vivem, por menor que seja, a esperança jamais deixará de existir. Lembra da história do beija-flor diante do incêndio? Pois é. Por mais insignificante que possam parecer as nossas ações, no meu entender, devemos ter sempre em mente aquela atitude do beija-flor."
"Acho que estou carente das nossas conversas, esse seria um bom tema para conversarmos.", diz a remetente, após lembrar que "o filme O Grande Ditador termina com um discurso muito interessante e atual do Chaplin, principalmente agora, em época de eleições.".
Em 18 de junho de 2009, sob o título O Último Discurso, o antológico discurso foi enviado para a minha lista de destinatários de e-mails. Hoje, nove anos e três meses depois, instigado por um e-mail enviado por uma temporária colega de trabalho que tornou-se uma eterna amiga, sob o título O Discurso Final, espalho-o por meio deste blog por considerá-lo algo que necessite periodicamente ser lido até que algum dia consiga despertar em cada um de nós a consciência de que tornar melhor alguma coisa da qual somos parte é algo que jamais será possível sem a participação de cada um de nós.
Dito isto, para encerrar este longo preâmbulo seguem as palavras que, no e-mail que provocou esta postagem, precedem a apresentação do antológico discurso.
"Aí vai..."
O Discurso Final
Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, gentios... negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... a união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!". A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquinas! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o reino de deus está dentro do homem – não de um só homem ou de um grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos este poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e a prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que toda a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!
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A quem dispuser de 08:09 minutos, recomendo assistir o vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch?v=qPQ-hG7er8I. A quem não dispuser, recomendo esforçar-se para dispor. A todos, recomendo refletir sobre o que leram nesta postagem. 

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