Em um blog em que, na maioria das vezes, a
definição da próxima postagem é feita após a publicação da mais recente, após a
terceira postagem da "trilogia" focalizando o tema desaceleração, fiz-me a pergunta – Qual
será o tema da próxima? Pergunta que foi respondida por um e-mail que recebi no
mesmo dia em que foi feita, e do qual reproduzo os seguintes trechos:
Na semana passada assisti novamente, depois de muito tempo, o filme O Grande Ditador do Charlie Chaplin. O filme termina com um discurso muito interessante e atual do Chaplin, principalmente agora, em época de eleições. Fiquei com vontade de enviá-lo para você. Acredito que você deve conhecer, pois já deve ter visto o filme. Mas resolvi enviar assim mesmo.
Acho que estou carente das nossas conversas, esse seria um bom tema para conversarmos.
O filme é de 1940 e é possível perceber que nada mudou de lá pra cá. Às vezes penso que realmente não existe esperança para a humanidade.
"Acredito que você deve conhecer, pois já deve
ter visto o filme. Mas resolvi enviar assim mesmo.", diz a remetente do e-mail. Acredito que
muitos devem conhecer, pois já devem ter visto o filme, mas acredito também que
muitos ainda não o viram e que todos deveriam ver, e rever, digo eu.
"O filme é de 1940 e é possível perceber que
nada mudou de lá pra cá. Às vezes penso que realmente não existe esperança para
a humanidade.", diz a remetente do e-mail. E ao dizê-lo, levou-me a
responder-lhe assim: "Creio que enquanto existirem pessoas que se
interessem pela melhoria do mundo em que vivem, por menor que seja, a esperança
jamais deixará de existir. Lembra da história do beija-flor diante do incêndio?
Pois é. Por mais insignificante que possam parecer as nossas ações, no meu
entender, devemos ter sempre em mente aquela atitude do beija-flor."
"Acho que estou carente das nossas conversas,
esse seria um bom tema para conversarmos.", diz a remetente, após
lembrar que "o filme O Grande Ditador termina com um discurso
muito interessante e atual do Chaplin, principalmente agora, em época de
eleições.".
Em 18 de junho de
2009, sob o título O Último Discurso, o antológico discurso foi enviado
para a minha lista de destinatários de e-mails. Hoje, nove anos e três meses
depois, instigado por um e-mail enviado por uma temporária colega de trabalho
que tornou-se uma eterna amiga, sob o título O Discurso Final, espalho-o por meio deste blog por considerá-lo algo que necessite periodicamente
ser lido até que algum dia consiga despertar em cada um de nós a consciência de
que tornar melhor alguma coisa da qual somos parte é algo que jamais será
possível sem a participação de cada um de nós.
Dito isto, para encerrar
este longo preâmbulo seguem as palavras que, no e-mail que provocou esta
postagem, precedem a apresentação do antológico discurso.
"Aí vai..."
O Discurso Final
Sinto muito, mas não pretendo ser um
imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem
quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, gentios... negros...
brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos
outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do
próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns
aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode
prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da
liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos
homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a
passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade,
mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância,
tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa
inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos
em demasia e sentimos bem pouco. Mais
do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem
essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos
muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do
homem... um apelo à fraternidade universal... a união de todos nós. Neste mesmo
instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... milhões de
desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que
tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!". A desgraça que tem caído
sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de
homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam
desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de
retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses
brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as
vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos
sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma
alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como
carne para canhão! Não sois máquinas!
Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não
odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os
inumanos!
Soldados! Não batalheis pela
escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é
escrito que o reino de deus está dentro do homem – não de um só homem ou de um
grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder
– o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o
poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa.
Portanto – em nome da democracia – usemos este poder, unamo-nos todos nós.
Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de
trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que
desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem.
Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos
agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância,
ao ódio e a prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que toda a
ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da
democracia, unamo-nos!
Hannah, estás me ouvindo? Onde te
encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se
dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo –
um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da
brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal
começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos,
Hannah! Ergue os olhos!
*************
A quem dispuser de 08:09 minutos, recomendo
assistir o vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch?v=qPQ-hG7er8I.
A quem não dispuser, recomendo esforçar-se para dispor. A todos, recomendo
refletir sobre o que leram nesta postagem.
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