Cumprindo o prometido
no último parágrafo da postagem anterior, segue mais uma parte imperdível da
reportagem de Rosane Serro. Intitulada Outras
formas de compartilhar tal parte não esgota a excelente reportagem, porém
encerra as transcrições de conteúdo dela realizadas para as postagens neste
blog.
Outras formas de compartilhar
Se o ciberespaço hoje
aparenta ser um lugar ameaçador, a solução para voltarmos a habitar um local
seguro e livre pode ser resumida em uma única palavra: conscientização. Richard
Stallman, em seu libelo em favor das liberdades individuais, duvida que as
empresas desistam de seus lucros para racionalizar o que estão fazendo. Ele
aponta uma saída simples e objetiva:
- Depende de nós.
Precisamos nos recusar a usar programas e plataformas abusivas. A maneira de
acabar com o poder das empresas sobre os usuários é insistir em que eles usem
software livre. Assim, eles próprios controlariam os programas e poderiam
alterá-los. Quando seus amigos disserem que não querem mais usar Facebook, WhatsApp,
Skype ou qualquer outro sistema de comunicação viciante, por favor, faça um
esforço e coopere. Não descarte a amizade, encontre outras formas de dividir
com eles informações sobre eventos sociais – diz Stallman.
Já Jaron Lanier sugere
"voltar o relógio" e reinventar a participação nas redes sociais. Não
mais aceitar um ambiente de oferta de conteúdo aparentemente gratuito, mas
ajudar a financiar espaços de concentração de conhecimento, em que
especialistas de fato possam emitir suas opiniões.
- Essa mudança
eliminaria as notícias falsas e, no caso de aconselhamento médico, por exemplo,
pagaria-se por pareceres de um verdadeiro profissional. Sonho com isso, e acho
sim que a transformação é possível – defende ele.
Tristan Harris, 33,
ex-designer de Ética do Google, para onde trabalhou até 2016, se tornou uma
espécie de mascote para o time dos radicais livres, ao fundar o Centro de
Tecnologia Humana. Ele aposta em quatro soluções: as empresas precisam
redesenhar suas interfaces para minimizar nosso tempo de tela; os governos têm
de pressionar as empresas de tecnologia para adotarem modelos de negócios
humanitários; consumidores se defrontam com a tarefa de assumir o controle de
suas vidas digitais através de uma conscientização; e os funcionários das
empresas de tecnologia devem se capacitar para construir soluções que melhorem
a sociedade.
E como se dará isso no
Brasil, que vive a realidade de uma cultura digital especialmente disseminada?
Segundo o último levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel),
o país conta com uma base instalada de 235,5 milhões de aparelhos celulares
(densidade de 112,6 aparelhos para cada 100 habitantes) e 116 milhões de
usuários de Internet.
CONTATOS PERDIDOS
Para a professora da UFRJ
e teórica da Comunicação Raquel Paiva, a conscientização só poderia ocorrer se
(ou quando) o usuário brasileiro perceber que está se relacionando mais com
máquinas do que com pessoas.
- Somos um povo
gregário, que necessita de vinculação, precisa do olhar do outro para se ver. O
que temo é que as pessoas demorem muito a perceber que não cuidaram do seu
entorno, que perderam a sociabilidade e deterioraram o seu convívio e sua
capacidade de comunicação – diz.
Ao descobrir que as
informações pessoais dos usuários do Facebook eram vazadas para terceiros,
Paiva fechou, de bate-pronto, a conta que tinha na rede social.
- Acabei sendo eu a
punida, pois perdi o acesso à maioria dos serviços que utilizava no cotidiano,
como a compra de produtos orgânicos e roupas alternativas. Também me vi privada
do contato com alguns colegas acadêmicos, uma vez que eles passaram a "existir"
apenas no âmbito do Facebook – conta a professora.
O documentarista
canadense Geoff D'Eon, diretor de "As vítimas do Facebook" diz
simpatizar com a crítica dura dos digerati,
mas faz ponderação pertinente:
- A desconexão em
massa, na prática, não vai acontecer. E não iremos resolver problemas sérios,
como a explosão de notícias falsas, cyber-bullying,
revenge porn, perda de privacidade e
vazamento indiscriminado de informação, apenas com a elite intelectual se
retirando das redes sociais. O restante da população seguirá, e as corporações
vão continuar ganhando dinheiro. É muito tarde para um caminho de volta. Talvez
a saída seja pensar melhor no que postar, ser mais consciente e cauteloso em
relação ao que e com quem dividimos nossa vida online.
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Para quem gosta de
refletir sobre o que lê, juntando Radicais livres e Outras formas de
compartilhar o que se tem é mais do que um prato cheio. É um prato
transbordante!
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