Será que, diante da abundante
publicação de postagens do tipo "Reflexões
provocadas por ...", faz sentido publicar uma postagem focalizando o
tema Reflexão? Será que, nestes
tempos em que qualquer texto que excede 140 caracteres é considerado "textão",
a imprescindibilidade da reflexão é algo sobre o qual a maioria das pessoas perdeu
a noção? Será que faz algum sentido acreditar que é possível construir algo que
faça jus ao termo civilização negligenciando as práticas do questionamento e da
reflexão?
Pelo sim pelo não
(embora não estejamos em um centro de depilação) que imagino que podem surgir em
respostas às questões acima, creio que vale a pena dar uma lida no texto
extraído do livro Diálogo – Redescobrindo o Poder
Transformador da Conversa de autoria de Linda Ellinor e Glenna Gerard e reproduzido a
seguir.
Reflexão
refletir: devolver uma imagem, pensar cuidadosamente
-
Funk And Wagnall Standard Dictionary
"E
se você fizer mil perguntas e, entretanto, não parar para ouvir e refletir
sobre o que surge em resposta, como aprenderá?"
- The Dialogue Group
O questionamento trata sobre fazer perguntas e
manter uma atitude de curiosidade, abrindo a porta para novas percepções. A
reflexão diz respeito a manter a porta aberta por tempo suficiente para que
novas percepções aflorem.
A reflexão diz respeito a separar tempo para
observar mais de um evento e pensar sobre as conexões entre eles, para formular
as perguntas que o levarão ao próximo nível. A reflexão também diz respeito a
reservar tempo para tentar ouvir a resposta da pergunta que emergir. Para que
um reflexo claro se forme em uma poça d’água, a superfície deve estar parada.
Quanto mais pudermos desenvolver esse tipo de quietude em nossas mentes, mais
provavelmente poderemos fazer perguntas poderosas e ouvir as respostas em
retorno.
O questionamento e a reflexão, combinados, nos
ajudam a penetrar mais profundamente em quaisquer que sejam as questões
importantes que nos preocupam, a ver novos padrões e maneiras de prosseguir.
Você já teve a experiência de ler um livro bem
volumoso e dar graças a Deus por poder deixá-lo de lado quando bem entendesse?
Ao contrário de assistir a uma palestra ou comparecer a uma reunião sobre
alguma questão crítica, você pode se dar o luxo de parar e pensar sobre aquilo
que esteve lendo. Às vezes, poderá até mesmo parar após um só parágrafo e
pensar: "O que isso significa para mim?". "Como isso poderá
mudar minha maneira de ver e fazer as coisas?". "Isso é realmente
possível?".
Esse desejo de parar e pensar um pouco diz
respeito à necessidade de reflexão. Quer esteja lendo um livro volumoso, quer
esteja envolvido em uma conversação sobre a reorganização de seu departamento,
pensar e responder eficazmente requer tempo para que aquilo que as pessoas
estão dizendo seja assimilado. Somente então poderá refletir sobre o que ouve,
desempenhar uma espécie de processo interno de inquirição ou questionamento e
formular sua próxima pergunta ou afirmação. Sem isso, o proverbial 'entra por
um ouvido e sai pelo outro' assume o comando.
Nos Estados Unidos, dá-se pouca atenção à
reflexão. Na verdade, estatisticamente falando, nossa cultura ocidental é
primariamente extrovertida, exteriorizada e falante. Por ser tão forte essa
tendência extrovertida, passamos rapidamente de um assunto para outro,
raramente parando para refletir ou fazer perguntas que nos ajudariam a penetrar
águas mais profundas.
Também vivemos em uma cultura em que se espera
que tenhamos respostas prontas e, com sorte, certas. Isso pode ser tão forte,
que nos leva a falar com certeza sobre algo a respeito do qual podemos saber
muito pouco. É claro que uma conversa em ritmo acelerado, com pouco silêncio
entre os participantes, reduz a probabilidade de alguém pensar profundamente
sobre o que estamos dizendo e nos desafiar.
A necessidade de termos uma resposta, de
estarmos certos e de nos movermos rapidamente, influencia a maneira pela qual
nos comunicamos e é contrária às condições de que necessitamos para uma
conversação perceptiva, que fomente a reflexão e a aprendizagem.
"Vá
mais devagar, você anda depressa demais. Você tem que fazer a manhã
durar..."
A reflexão está diretamente relacionada ao
ritmo da conversação. No diálogo, frequentemente há pausas, algumas bastante
grandes, entre as pessoas que falam. As palavras são proferidas com maior
deliberação; poderá até haver pausas entre frases. Para um observador, tudo
pode parecer como se estivesse em câmara lenta.
O que está ocorrendo durante essas pausas
entre as pessoas que falam? Por que são importantes? Para que ocorra a
aprendizagem, novas informações têm que ser processadas. Isso envolve
relacioná-las àquilo que já é conhecido, extraindo significado ou sentido dos
novos dados pela conexão ao nosso sistema de conhecimento.
Esse processo é similar em indivíduos e
grupos. O número de níveis em que somos capazes de estabelecer conexões depende
da velocidade em que estamos nos movimentando. Com mais tempo, somos capazes de
estabelecer conexões em níveis múltiplos, e nossa aprendizagem individual e
coletiva se aprofunda. Ir mais devagar também nos dá a oportunidade de desligar
nossos pilotos automáticos e responder mais eficazmente ao que está acontecendo
em nosso redor.
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"Para que ocorra a aprendizagem, novas
informações têm que ser processadas. Isso envolve relacioná-las àquilo que já é
conhecido, extraindo significado ou sentido dos novos dados pela conexão ao
nosso sistema de conhecimento.", afirmam Linda Ellinor
e Glenna Gerard em seu livro.
Relacionar novas informações àquilo que já é conhecido! Vocês percebem nas postagens do tipo "Reflexões provocadas por ..." a prática de tal relacionamento?
Será que esta postagem lhes possibilitará entenderem o porquê da abundância de
postagens do tipo citado? Será que ela os (as) estimulará a refletirem mais
sobre o que lêem e sobre o que ouvem?
Reflexões e questionamentos, eis duas coisas
sem as quais, no meu entender, jamais se conseguirá construir uma sociedade que
preste. Dito isto, para encerrar esta postagem em que é focalizada a reflexão, deixo-lhes a seguinte questão. Será que a afirmação feita pelo
sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman [1925 – 2017] de que "Nenhuma
sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar encontrar respostas
para os problemas que a afligem." faz sentido?
Considerando que encontrar respostas para os
problemas que afligem uma sociedade é tarefa da qual nenhum dos que a compõem
deve se eximir, meus desejos neste final de ano, digo, neste final de
postagem, são de que cada um consiga refletir sobre a afirmação de Bauman e fazer
seus próprios questionamentos.
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