quarta-feira, 14 de março de 2018

O analógico é o novo chique (I)

"Adjetivo de dois gêneros com origem no termo em francês chic, que significa uma coisa ou pessoa formosa, airosa, estilosa, bonita. Adjetivo usado muitas vezes para descrever uma coisa sofisticada ou que demonstra elegância. O conceito de chique nem sempre está ligado a coisas materiais que um indivíduo pode adquirir. Em muitas ocasiões, ser chique está relacionado com o requinte de uma pessoa, e a forma elegante e fina como essa pessoa se comporta em diferentes contextos.", eis o significado de chique encontrado em https://www.significados.com.br. Os negritos foram trazidos pela consulta.
Feito este preâmbulo, segue a primeira de duas partes de uma matéria de Lívia Breves publicada na edição de 14 de janeiro de 2018 na revista O Globo (que acompanha a edição dominical do jornal O Globo) sob o título 'O analógico é o novo chique'.
O analógico é o novo chique
Pessoas que abrem mão de estarem 100% conectadas contam suas experiências e inspiram quem deseja (ou precisa) ficar menos on-line. Aproveite o novo ano para fazer uma detox digital
Não foram poucas as respostas automáticas recebidas durante a apuração desta matéria. Os remetentes avisavam sobre a quase nenhuma frequência na internet. As mensagens eram mais diretas ("Não uso mais o WhatsApp. Se quiser falar, me ligue") ou mais prolixas ("Obrigada por me procurar. Estou fora da rede, escrevendo meu livro no Camboja. Estarei off-line, sem acesso ao e-mail ou telefone"). Depois de todos os vícios digitais tomarem conta da vida da maioria das pessoas, muitas têm buscado desacelerar. Os movimentos podem começar de leve, desativando o Facebook do celular, ou mais intensos, deixando o smartphone de lado e comprando um aparelho que só liga e recebe SMS. E tem aqueles que aproveitam o comecinho do ano para fazer uma detox digital.
O movimento chamado dry-fi January começou na Inglaterra, mas já se espalhou mundo afora e está estimulando muita gente a viver sem internet até o fim do mês. E tem também os que preferem algo menos drástico, aqueles que decidiram ficar alguns dias livres de qualquer rede social, que passaram a desligar o celular durante horas e estão aproveitando mais a vida fora da rede. Em tempo, eles garantem que é muito bom.
DRY-FI: A arte e a glória de se desconectar
A publicitária Catarina Castro, de 28 anos, fez uma detox no meio do ano passado. Percebeu que estava dependente demais da internet, que passava o dia olhando a tela do celular, conferindo se tinha uma nova notificação, curtida, mensagem, solicitação de amizade, crush, match e por aí vai. Respirou fundo e pausou. Foi ver o pôr do sol, andar de bicicleta e até usou o telefone fixo.
- Li mais naquele período do que nos últimos seis meses. Encontrei amigas por acaso, vi cenas engraçadas na rua e dormi muito melhor. Agora, nesse comecinho de ano, estou fazendo de novo. Acho importante para dar uma reciclada, eu já estava viciadinha de novo – percebe ela, uma típica jovem que admite sofrer da síndrome moderna F.O.M.O., sigla para Fear of Missing Out, que é o medo de estar por fora de algo.
Um ano inteirinho. Esse foi o período que a fotógrafa gaúcha Ana Rovati, de 32 anos, ficou sem entrar na internet. Tudo para um projeto de arte em uma pós-graduação que fazia em Madri. Ainda este ano, a experiência vira livro. No começo, se viu isolada, pouco querida pelos amigos, com a autoestima em baixa. Até que passou da fase da dependência e se percebeu mais disposta a ver o mundo, mais segura.
- As relações contemporâneas me interessam. E a internet tomou uma proporção enorme na vida da gente. No começo, pensava em entrevistar velhinhos que representam uma última geração que não se rendeu à internet. Mudei no meio e resolvi eu mesma experimentar ficar off-line. Inicialmente, foi apavorante. Até então, eu estava em todas as redes e tinha o último modelo de iPhone. Desapeguei de tudo. A lógica da minha vida mudou. Percebi que a internet nos priva de arriscar, de improvisar, afinal, ela nos dá, em segundos, todas as respostas – conta Ana.
No dia anterior ao fim da detox, Ana ficou tão tensa quanto um ano antes:
- Estava com medo e muito emocionada por ter conseguido cumprir a meta. Ainda fiquei uns dias sem me conectar. A primeira coisa que fiz foi ver meu e-mail. Não tinha tanta coisa assim. Quando voltei para o WhatsApp, fiquei chocada com a quantidade de bobagens que recebi. Em outros tempos, elas me fariam perder horas lendo, assistindo e respondendo. Ganhei tempo de vida.
Hoje, ela voltou para o Instagram e usa sempre a Internet. Mas com a frequência bem menor do que antes.
- Me assustei como a intoxicação é muito rápida e a desintoxicação, lentíssima – alerta ela.
Esta semana, foi o cantor Tiago Iorc, de 32 anos, que anunciou aos seus mais de 3 milhões de seguidores no Instagram que daria um tempo nas postagens: "Concluí que um descanso vai me fazer bem. Me ausentar dessa nossa vida instagrâmica que nos consome e me permitir viver sem calcular tanto, me descobrir em novos medos, voltar a ter certeza do que é improvável". O recado recebeu mais de 170 mil likes e diversas mensagens de apoio. Chegou o tempo que estar off-line faz tanto sucesso quanto tirar uma selfie.
Continua na próxima terça-feira

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