segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Nosso futuro será um chip?

"Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual; somos seres espirituais vivendo uma experiência humana."
(Teilhard de Chardin [1881 - 1955], teólogo, filósofo e paleontólogo francês)
Após uma postagem espalhando uma reportagem que começa com uma dúvida em relação ao futuro da relação entre humanos e máquinas publicada no jornal O Globo em 03 de dezembro de 2017, este blog espalha a parte final de um artigo publicado em 08 de janeiro de 2018 no jornal O Estado de S. Paulo intitulado por uma indagação: "Nosso futuro será um chip?".
Assinado por Flávio Tavares, jornalista e escritor, Prêmio Jabuti de Literatura em 2000 e 2005, Prêmio APCA em 2004, ex-professor da Universidade de Brasília, até chegar ao trecho selecionado, em uma comparação entre mudanças que algumas coisas fizeram e que outras deixaram de fazer, o artigo é um enaltecimento à tecnologia.
Nosso futuro será um chip?
(...) Chegamos, porém, ao limiar perigoso e perverso criado pela própria tecnologia. A chamada era digital pode nos transformar em bonecos, em robôs de aparência inteligente, mas – de fato – simples bonecos burros e estúpidos, sem iniciativa, sem volição nem inteligência ou capacidade de criar.
A era digital pode nos transformar em bonecos, em robôs de aparência inteligente
A continuar assim, só saberemos apertar botões para viver. Já não vamos raciocinar nem pensar, menos ainda indagar ou saber discernir ou analisar. Os botões ligados a um chip dirão como vamos pensar, discernir, analisar ou saborear.
A seguir assim, talvez até amor se faça apertando botões. Do amor de ternura ao amor do orgasmo, tudo num minúsculo chip...
O desenvolvimento tecnológico criou uma situação de perigo. A noção de humanidade desaparece, levando de roldão a solidariedade, a fraternidade e a visão do transcendente que a vida tem em si. Só a cobiça e a penúria dos políticos donos do poder não veem que caminhamos como servos para o novo despotismo da exacerbação tecnológica, que nos transformará em tolos idiotas e ignorantes.
E, pior ainda, guiados pelo espírito de lucro e cobiça de um grupo ínfimo em número, que organizado em grandes empresas – fez da ciência um caminho para destruir a iniciativa individual. Assim, vão nos confinar num mundo em que o "chip" irá pensar e agir por todos nós.
Não haverá espaço para a espiritualidade que o jesuíta e teólogo Teilhard de Chardin catalogou como ponto essencial da condição humana, acima das religiões. Esse profeta (que uniu ciência e fé) e todo o pensamento humano darão lugar a um chip...
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"Já não vamos raciocinar nem pensar, menos ainda indagar ou saber discernir ou analisar.", diz Flávio Tavares externando sua opinião sobre nosso futuro. Será que para muitos o futuro imaginado por Flávio já chegou? Será que algum de vocês nunca se deparou com indivíduos cujo comportamento encaixa-se perfeitamente no futuro imaginado pelo jornalista e escritor?
"Os botões ligados a um chip dirão como vamos pensar, discernir, analisar ou saborear. A seguir assim, talvez até amor se faça apertando botões. Do amor de ternura ao amor do orgasmo, tudo num minúsculo chip...", diz Flávio Tavares referindo-se a "um talvez" que, para o autor do livro intitulado 'Amor e sexo com robôs', já está perto de se tornar realidade, conforme citado na recente postagem O futuro da relação entre humanos e máquinas.
"O desenvolvimento tecnológico criou uma situação de perigo. A noção de humanidade desaparece, levando de roldão a solidariedade, a fraternidade e a visão do transcendente que a vida tem em si.", diz Flávio Tavares.
Ou seja, ao atingir um ponto em que a tecnologia passa a ser usada não para auxiliar o homem, e sim para substituí-lo, creio que, indubitavelmente, o desenvolvimento tecnológico criou uma situação de perigo. Uma situação em que indivíduos nitidamente desprovidos da "desaparecida noção de humanidade" passam a trabalhar no desenvolvimento de máquinas que, segundo eles (devido a sua imensa semelhança com os humanos), serão capazes de substituir (com vantagem) os próprios (por eles considerados impróprios) humanos. Resumindo: indivíduos desprovidos da "noção de humanidade" desenvolvendo máquinas semelhantes a "humanos"! Surreal, não?!
"Não haverá espaço para a espiritualidade que o jesuíta e teólogo Teilhard de Chardin catalogou como ponto essencial da condição humana, acima das religiões. Esse profeta (que uniu ciência e fé) e todo o pensamento humano darão lugar a um chip...", diz Flávio Tavares.
Espiritualidade catalogada por Teilhard de Chardin como ponto essencial da condição humana – diz Flávio. Que espiritualidade será essa? - pergunto eu. Será que é aquela expressa na afirmação que epigrafa esta postagem - "Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual; somos seres espirituais vivendo uma experiência humana."? Afirmação que, por considerar uma das mais significativas que já vi, uso como a primeira citação apresentada abaixo do título E, para o restante da vida.... (uma das ilustrações deste blog). Uma ilustração que criei com a intenção de lembrar coisas que devem estar durante todo o tempo em nossa tela mental. Sim, no meu entender, é essa a espiritualidade a que se refere Flávio Tavares.
Espiritualidade que jamais poderá ser colocada em um chip, pois espiritualidade é algo que está ligado ao progresso do homem, e não ao progresso das máquinas. Ligação que leva-me a citar aqui à segunda afirmação apresentada abaixo do título E, para o restante da vida.... "A civilização não tem como finalidade o progresso das máquinas, mas, sim o do homem.", diz (Alexis Carrel [1873 - 1944], biologista francês).
E ao falar em civilização, o método das recordações sucessivas leva-me a fazer aqui uma referência a um artigo de Hilário Franco Júnior, professor do Departamento de História da USP e autor de A Idade Média, Nascimento do Ocidente (Brasiliense) publicado na edição de 01 de janeiro de 2017 no jornal O Estado de S. Paulo.
Um artigo intitulado "As civilizações também morrem" e subtitulado assim: "Egito faraônico, Mesopotâmia, Grécia e Roma antigas, astecas, incas e maias. Todos se lembram das culturas que sumiram, mas poucos aceitam que o Ocidente pode estar caminhando a passos largos para isso".
Por que será que poucos aceitam tal coisa? Porque, para a imensa maioria, talvez já tenha chegado o sinistro futuro imaginado por Flávio Tavares. Futuro em que "Já não vamos raciocinar nem pensar, menos ainda indagar ou saber discernir ou analisar.".

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