"O amor entre
humanos e robôs estaria mais perto de acontecer do que imaginamos? Ou o futuro
de indivíduos cada vez mais superconectados será se voltar para a essência
humana?"
Com a dúvida apresentada no parágrafo acima, Gabriela Viana e Sérgio
Matsuura iniciam a reportagem (que pode ser lida na postagem
anterior) na qual afirmam que "As
consequências dos avanços da inteligência artificial e da crescente interação
entre homem e máquina marcaram as reflexões do último dia (02 de dezembro de
2017) do Wired Festival Brasil.
Consequências essas que, no meu entender, devem marcar também as
reflexões de quem concorde com a seguinte afirmação de Alexis Carrel (1873-1944),
cirurgião, fisiologista, biólogo e sociólogo francês que, em 1912, recebeu o Prêmio
Nobel de Medicina e Fisiologia: "A civilização não tem como finalidade
o progresso das máquinas, mas, sim o do homem.".
Afinal, à luz da afirmação do autor de O Homem, Esse Desconhecido,
o que vejo no fascínio do homem com o estupendo progresso das máquinas é uma baita demonstração de uma das duas coisas que Albert Einstein considerava infinitas:
a estupidez humana. "Existem apenas duas coisas infinitas - o universo e a
estupidez humana. E não tenho tanta certeza quanto ao universo.", disse Einstein.
Estupidez humana! Será que há explicação melhor para o desejo de criar robôs
capazes de substituir - com vantagens (segundo o defensor da ideia no festival
supracitado) – os próprios (ou seriam impróprios?) humanos nas relações
afetivas e sexuais?
"O avanço da robótica e sua combinação com a inteligência artificial produzirá, no futuro próximo, máquinas avançadas capazes de se relacionar com os humanos de forma tão profunda a ponto de nos apaixonarmos por elas. Ao menos foi esta a provocação defendida no auditório principal pelo pesquisador britânico David Levy, autor do livro 'Amor e sexo com robôs'."
Inteligência artificial! Eis algo que empolga o pesquisador britânico;
e que atemoriza um físico e cosmólogo conterrâneo, nascido quatro anos antes do
empolgadão. "No curto prazo, o impacto da IA (Inteligência Artificial)
depende de quem a controla. No longo prazo, dependerá do fato de ser
controlável ou não.", eis a advertência feita por Stephen Hawking (1942 -
....), físico teórico e cosmólogo britânico.
Vivemos tempos realmente muito estranhos! Tempos em que um perigo
temido por Erich
Fromm (1900-1980), psicanalista, filósofo e sociólogo alemão já se tornou realidade. "O mal
do passado foi os homens se tornarem escravos. O perigo do futuro é que eles se
tornem robôs", disse Fromm. Algum
de vocês tem dúvidas de que tal futuro já chegou? Algum de vocês ainda não viu
homens agindo como se fossem robôs?
Vivemos tempos de séries. Tempos de Black Mirror. Tempos de
coisas invertidas. Tempos em que, passando a agir como se fossem robôs, humanos
passaram a ansiar pela criação de robôs que possam agir como se fossem humanos.
Tempos para vivenciar uma sinistra afirmação contida em uma belíssima canção da
banda Legião Urbana: "Nos perderemos entre monstros da nossa
própria criação".
Atingir um nível intelectual que a capacite para produzir bombas
capazes de extinguir a espécie humana, eis algo que ela já conseguiu há
bastante tempo. Atingir um nível intelectual que a capacite a produzir máquinas
e instrumentos capazes de substituir a si própria, eis algo que ela já
está bem próxima de conseguir. Considerando esses dois atingimentos, será que
faz algum sentido ela considerar-se a espécie inteligente do
universo?
Todas as coisas sinistras que até aqui foram ditas têm a ver com a
primeira das duas indagações que compõem a dúvida expressa no primeiro parágrafo
da reportagem de Gabriela Viana e Sérgio Matsuura (reproduzida no primeiro
parágrafo desta postagem). Porém, o trecho da reportagem localizado abaixo do subtítulo
FUTURO MENOS DIGITAL, que tem a ver com a
segunda das duas indagações, traz coisas bastante alentadoras.
"Na contramão dessa visão, Rohit Bhargava, professor da Universidade Georgetown e fundador da Non-Obvious Company, fez previsões de um futuro em que o contato humano será valorizado justamente por causa do avanço das máquinas e das ferramentas digitais.- Com cada vez mais automatização, a interação que envolve humanos ganha valor. Um supermercado americano, por exemplo, criou uma fila de caixa especial para as pessoas que gostam de conversar – contou.
Desde 2011 ele publica anualmente uma lista de tendências para o desenvolvimento de novos negócios. Num mundo cada vez mais conectado, Bhargava previu, por exemplo, que as pessoas começariam a procurar pelo silêncio. E isso realmente aconteceu. Surgiu o turismo para detox digital e uma cidade na Suíça chegou a proibir selfies. Para ele, o segredo de identificar essas tendências reside em ser curioso e ter hábitos que não têm nada a ver com máquinas:
- Tire a cara da tela do celular. Preste atenção no mundo ao redor, que verá coisas que as outras pessoas não veem."
Previsões de um
futuro em que o contato humano será valorizado justamente por causa do avanço
das máquinas e das ferramentas digitais, pois, "Com cada vez mais
automatização, a interação que envolve humanos ganha valor", diz Rohit
Bhargava.
Ou seja, será que
estamos diante de um novo episódio de uma série intitulada Só se dá valor ao
que se está prestes a perder? Será que a crescente probabilidade de passarmos
a interagir apenas com máquinas, finalmente, despertará em nós o desejo de conviver
harmoniosamente com humanos? Será que (como é indagado no primeiro parágrafo da
postagem) "O futuro de indivíduos cada vez mais superconectados será se
voltar para a essência humana"? Será que estamos nos aproximando dos tempos em que os seres da autodenominada espécie inteligente do universo,
finalmente, almejarão tornarem-se humanos?
Na condição de um ser
que almeja tornar-se humano, e viver em uma comunidade formada por humanos, entre
as previsões do pesquisador apaixonado por robôs e as do professor da
Universidade Georgetown, parece-me ser óbvia a minha predileção pela realização
das previsões do fundador da Non-Obvious Company. Sobre o que seja
tornar-se humano, sugiro a leitura da postagem A
Humana Idade publicada em 12 de setembro de 2011.
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