sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O futuro da relação entre humanos e máquinas

"A civilização não tem como finalidade o progresso das máquinas, mas, sim o do homem."
(Alexis Carrel)
A afirmação de Alexis Carrel (1873-1944), cirurgião, fisiologista, biólogo e sociólogo francês que, em 1912, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia e, em 1935, publicou um livro intitulado O Homem, Esse Desconhecido que foi traduzido e reeditado transformando-se num grande êxito mundial até a década de 1950, é algo que me vem à mente sempre que leio qualquer coisa enaltecendo o estonteante progresso das máquinas.
Feito esse preâmbulo, segue uma reportagem de Gabriela Viana e Sérgio Matsuura publicada na edição de 03 de dezembro de 2017 do jornal O Globo sob o título 'O futuro da relação entre humanos e máquinas'.
O futuro da relação entre humanos e máquinas
Evento debate cenários do avanço da inteligência artificial, como sexo e até casamentos com robôs
O amor entre humanos e robôs estaria mais perto de acontecer do que imaginamos? Ou o futuro de indivíduos cada vez mais superconectados será se voltar para a essência humana? As consequências dos avanços da inteligência artificial e da crescente interação entre homem e máquina marcaram as reflexões do último dia do Wired Festival Brasil, ontem, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. O festival – realizado pelas Edições Globo Condé Nast e O Globo, com patrocínio de Petrobras, Embratel, Grupo Pão de Açúcar e Braskem, apoio da Cerveja Sol e apoio institucional da Cidade das Artes – reuniu no Rio personalidades nacionais e internacionais do mundo da inovação em torno do tema "Futuro do Presente, Futuro do Amanhã".
O avanço da robótica e sua combinação com a inteligência artificial produzirá, no futuro próximo, máquinas avançadas capazes de se relacionar com os humanos de forma tão profunda a ponto de nos apaixonarmos por elas. Ao menos foi esta a provocação defendida no auditório principal pelo pesquisador britânico David Levy, autor do livro "Amor e sexo com robôs".
Analisando estudos sobre relações afetivas e sexuais, Levy concluiu que serão uma realidade entre humanos e robôs quando as máquinas conseguirem interagir de forma natural por causa do efeito provocado pelo afeto recíproco. Uma pessoa é mais propensa a se apaixonar por outra se ela souber que o sentimento é mútuo. Robôs podem ser programados para agir dessa forma, assim como compartilhar nossas ideias e valores?
- O que vai significar para a Humanidade, quando a inteligência artificial for capaz de expressar emoções humanas, alcançar a consciência humana? E quando os robôs reconhecerem o que queremos falar e seguir conversando? Como a sociedade vai reagir a robôs que dizem "eu te amo"?
Segundo o pesquisador, os principais motivos que levam as pessoas a pagarem por sexo são a busca por variedade de parceiros e o prazer físico em si. Robôs podem saciar todos esses desejos, ele diz, citando empresas que já produzem bonecos sexuais realistas, capazes de conversar com os donos. Faltam sistemas robóticos que simulem movimentos.
- Mas robôs já podem subir escadas, reger orquestras... E quando eles puderem se mover na cama como um ser humano? Qual será o efeito sobre nós?
Para o pesquisador, a resposta é simples: os humanos irão se apaixonar e fazer sexo com os robôs. Ele vai além: acredita que, nos próximos anos, parlamentos em todo o mundo terão que se debruçar sobre uma nova questão: a legalidade do casamento com robôs.
FUTURO MENOS DIGITAL
Na contramão dessa visão, Rohit Bhargava, professor da Universidade Georgetown e fundador da Non-Obvious Company, fez previsões de um futuro em que o contato humano será valorizado justamente por causa do avanço das máquinas e das ferramentas digitais. Desde 2011 ele publica anualmente uma lista de tendências para o desenvolvimento de novos negócios. Num mundo cada vez mais conectado, Bhargava previu, por exemplo, que as pessoas começariam a procurar pelo silêncio. E isso realmente aconteceu. Surgiu o turismo para detox digital e uma cidade na Suíça chegou a proibir selfies.
- Com cada vez mais automatização, a interação que envolve humanos ganha valor. Um supermercado americano, por exemplo, criou uma fila de caixa especial para as pessoas que gostam de conversar – contou.
Para ele, o segredo de identificar essas tendências reside em ser curioso e ter hábitos que não têm nada a ver com máquinas:
- Tire a cara da tela do celular. Preste atenção no mundo ao redor, que verá coisas que as outras pessoas não veem.
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Será que, lida à luz da afirmação do autor de O Homem, Esse Desconhecido citada em epígrafe, a reportagem apresentada nesta postagem dá o que pensar?

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