domingo, 14 de janeiro de 2018

Vai viajar? Encha sua mala com informação

"A maior parte da gente não se interessa muito pelo outro mundo, mas nele acredita; para mim é o contrário: não acredito, mas me interessa."
(J. L. Borges)
A segunda postagem deste ano foi instigada pela leitura do título de uma reportagem publicada no jornal O Globo em sua edição do dia da virada. Sob o título – Vai viajar? Encha sua mala com informação – Ione Luques assina uma reportagem na qual recomenda alguns cuidados a serem tomados por quem deseje ter uma boa viagem e uma boa estada no lugar para onde escolheu viajar. Especialistas orientam sobre cuidados e direitos em serviços relacionados a voos, bagagens, hotéis e cruzeiros, diz o subtítulo da reportagem.
Lidos apenas o titulo e o subtítulo, imediatamente me veio à mente a ideia de aproveitá-los para elaborar uma postagem focalizando não as viagens originadas por escolhas feitas pelos próprios viajantes, e sim aquela viagem obrigatória que todas as pessoas farão um dia e sobre a qual a imensa maioria não quer nem ouvir falar. Será que também para essa é recomendável encher sua mala com informação? Será que as palavras de Blaise Pascal (1623 – 1662), matemático, físico, inventor, filósofo e teólogo católico francês, apresentadas no próximo parágrafo, respondem essa indagação?
"O mais importante, pois, é saber se a alma é mortal ou imortal. A imortalidade da alma é uma coisa que nos interessa tanto, que nos toca tão profundamente, que seria preciso haver perdido todo sentimento para permanecer na indiferença de saber o que há a respeito. Todas as nossas ações e todos os nossos pensamentos seguem caminhos tão diferentes, conforme haja ou não bens eternos a esperar, que é impossível dar um passo com sentido e juízo, sem regulá-lo pela mira desse ponto, que deve ser nosso último objetivo. Assim, nosso primeiro interesse e nosso primeiro dever estão em esclarecer esse ponto, do qual depende toda a nossa conduta."
Será que ao afirmar que toda a nossa conduta depende do nosso interesse e do nosso dever em saber o que há a respeito da imortalidade da alma a intenção de Pascal foi nos alertar para a imprescindibilidade de enchermos nossa mala com informações sobre o lugar para onde iremos após a inevitável viagem que todos seremos obrigados a fazer?
Será que ao dizer que "A maior parte da gente não se interessa muito pelo outro mundo, mas nele acredita; para mim é o contrário: não acredito, mas me interessa." a intenção do escritor, poeta, tradutor e ensaísta argentino Jorge Luis Borges (1899 – 1986) também foi nos alertar para a imprescindibilidade de enchermos nossa mala com informações sobre a nossa inevitável viagem para o outro mundo? Será que o que diz Borges com "a maior parte da gente não se interessa muito pelo outro mundo" não é exatamente o que diz Pascal com "permanecer na indiferença de saber o que há a respeito da imortalidade da alma"?
Será que ao afirmar que "Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual; somos seres espirituais vivendo uma experiência humana.", assim como Pascal e Borges, a intenção do padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881 – 1955) também foi nos alertar para a imprescindibilidade de enchermos nossa mala com informações sobre a inevitável viagem para o mundo de onde somos oriundos?
O subtítulo da reportagem fala em especialistas que nos orientam sobre cuidados e direitos em serviços relacionados a bagagens nas nossas corriqueiras viagens realizadas nesta dimensão. Será que em relação à viagem obrigatória para outra dimensão também existem indivíduos capazes de nos orientar sobre cuidados e direitos, e talvez até mesmo deveres, em serviços relacionados a bagagens e hospedagens? E para responder esta indagação o que imediatamente me veio à mente foi uma célebre afirmação de um autor desconhecido. Uma afirmação que constitui um antigo e mal interpretado ditado popular que diz que "O que se leva dessa vida é a vida que se leva".
Um antigo ditado que bem interpretado diz que o que se leva dessa vida são as ações e omissões nela praticadas, pois a condição em que viveremos após a inevitável viagem é determinada pelo que fizemos ou deixamos de fazer durante a nossa vida nesta dimensão. Um antigo ditado que mal interpretado leva as pessoas a caírem na gandaia por acharem que o que o ele nos diz é que aproveitemos a vida. Aproveitar a vida! Será que nós sabemos o que significa aproveitar a vida? Será que aproveitar uma coisa é usá-la de modo que seu uso nos propicie uma melhor condição em uma etapa posterior? Será que aproveitar a vida é agir de modo a obter uma melhor condição na etapa seguinte – nesta ou em outra dimensão?
E após indagar se sabemos o que significa aproveitar a vida, segue mais uma indagação: Será que nós sabemos o que é a morte? Vocês conhecem um antigo ditado que diz que "Tem gente que já morreu e não sabe."? Pois é! Mais um ditado com duas interpretações completamente diferentes. Bem interpretado o que ele diz é que, devido ao desconhecimento sobre o que seja o outro lado da vida, o indivíduo já está do outro lado, porém ainda não percebeu. Mal interpretado o que ele diz é que, indivíduos que não conseguem acompanhar o estupendo (ou seria estúpido?) desenvolvimento tecnológico atingido por esta pretensa civilização (sic), são seres que por não perceberem já terem passado para o outro lado da vida, esqueceram de lá se apresentarem. Percebem a diferença das interpretações?
Em uma época em que uma determinada companhia aérea esteve envolvida em vários acidentes surgiu uma piada que era mais ou menos assim. Se você deseja viajar para o velho mundo, viaje L; se deseja viajar para o novo mundo, viaje U; se deseja viajar para o outro mundo, viaje T. Onde L, U e T são as letras iniciais de três companhias aéreas.
Fazendo uma analogia com tal piada, com a intenção de prepará-los para uma viagem exitosa, digo-lhes o seguinte. Se você deseja viajar para algum lugar deste mundo, leia a reportagem de Ione Luques publicada na edição de 31 de dezembro de 2017 do jornal O Globo; se você – independentemente de seu desejo - algum dia você viajará obrigatoriamente para o outro mundo, reflita sobre o que é dito nesta postagem, e busque ainda mais informações para encher sua mala.
Acharam esta postagem sinistra para um início de ano? Ou será que sinistro será chegar ao final dessa coisa denominada vida sem refletir sobre o que é dito na postagem? Sem refletir sobre as informações que devem ser colocadas na mala a ser levada na derradeira e obrigatória viagem. Sem buscar a melhor maneira de agir durante a nossa passagem por esta dimensão. Afinal, como disse Pascal, "Todas as nossas ações e todos os nossos pensamentos devem tomar caminhos tão diferentes, conforme haja ou não bens eternos a esperar. (...) Assim, nosso primeiro interesse e nosso primeiro dever estão em esclarecer esse ponto - a imortalidade da alma -, do qual depende toda a nossa conduta."

2 comentários:

Áurea disse...

Eu creio na imortalidade da alma.porquê vi.minha mae desencarnada apareceu para mim.de madrugada.para que eu fosse socorrer meu pai.obs;(ela nao falou comigo)eu que penseu:minha mae,uma hora dessas,e meu pai,ela cuidou dele 20 anos em uma cadeira de rodas)e tinha um ano e dois meses que ela tinha desencarnado.sai correndo e quando cheguei na casa dele.ele estava agonizando no chão tendo uma convulsão.causada por um AVC,e tantas pessoas negam a existência da vida após a morte e a maioria são seguidores da bíblia.ou pelo menos usam nas suas igrejas. sabe se lermos a bíblia sem paixão.Sem fanatismo.iremos aprender muito.tem um capítulo que falta com exatidão que a morte não interrompe a vida.(1 Samuel-capitulo 28,o próprio Jesus deu provas suficiente com sua"ressureição"e com seus exemplos.como um dos tantos ensinamentos"Tenho vos dito isto,para que tenhais paz;no mundo tereis aflições,mas tende bom animo,Eu venci o mundo"um livro que me ensinou muito do que Jesus quis dizer foi " Fernão capelo gaivota"aliás o filme.chorei do começo ao fim(risos)fazer parte do mundo sem "pertencer"é uma tarefa árdua.e esse ditado"o que a gente leva da vida.é a vida que a gente leva"é muito profundo e verdadeiro.se levarmos uma vida digna .levaremos conosco nossa dignidade.se levarmos uma vida frívola.levaremos nossa frivolidade."a semeadura é voluntária.a colheita é obrigatória e a vida é maravilhosa."so se vê bem as coisas com o coração.o essencial é invisível aos olhos"sait Exupéry)
Nota;meu pai foi internado e veio a desencantar 15 dias depois e nunca mais vi minha mãe....

Guedes disse...

Prezada Áurea,

Concordo com você quando diz que se lermos a bíblia de forma adequada aprenderemos muito. E entre as muitas coisas que aprenderemos uma delas é a de que a morte não interrompe a vida, e sim apenas a passagem por esta dimensão para que a vida continue em outra. Vida e morte são duas coisas com as quais a maioria das pessoas não aprende a lidar durante essa coisa "denominada vida", pois saber lidar com uma coisa requer que se entenda o que ela seja.

E aprenderemos também que aprender a viver, e principalmente a conviver, com lições extraídas da vida exemplar do maior mestre que já esteve nesta dimensão é o principal aprendizado que se pode tirar da leitura da bíblia.

Sim, Fernão Capelo Gaivota é um grande filme embalado por uma linda canção. Um filme propagador de belíssimas mensagens extraídas de um extraordinário livro. Um livro do qual selecionei as três mensagens apresentadas abaixo.

"Para as pessoas que inventam as suas próprias leis quando sabem ter razão; para as que têm um prazer especial em fazer coisas bem feitas, nem que seja só para elas; para as que sabem que a vida é algo mais do que aquilo que os nossos olhos vêem [...] Fernão Capelo Gaivota é uma história com sentido. Para todas as outras, ela será na mesma uma aventura sobre a liberdade e o vôo para além de limites provisórios."

"Chega um dia em que aprendemos que na vida há muito mais que comer, lutar ou conseguir poder. Existe algo, chamado perfeição e a meta da vida é encontrar essa perfeição e refleti-la.

"Não quero honrarias. Não almejo ser líder. Só desejo compartilhar o que encontrei e mostrar esses novos horizontes."

Sim, "Só se vê bem as coisas com o coração, o essencial é invisível aos olhos.". Será que foi com o coração que você viu sua mãe desencarnada naquele momento em que ser comunicada sobre o que estava ocorrendo com seu pai era algo essencial? Eu creio que sim. Aliás, considerando os seus comentários neste blog, a impressão que você me passa é a de ser alguém que procura ver a vida com o coração. Continue assim.

Abraços,
Guedes