sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Esclarecimentos provocados por comentário sobre a postagem anterior

"O cientista tem o dever moral de alertar a população não só para o lado luz, 'a ciência vai resolver os males do mundo', mas também mostrar o lado de que ela provoca vários desses males."
(Marcelo Gleiser [1959 – ....], físico brasileiro, em entrevista publicada em 29 de julho de 2001 no caderno mais! [suplemento dominical do jornal Folha de S.Paulo])
Nesta postagem cujo título começa com a palavra esclarecimentos, o primeiro deles é sobre a que comentário o título se refere. Afinal, não há no blog comentário algum sobre a postagem anterior. Não, ele não é fruto da minha imaginação, e sim de um e-mail recebido de um dos integrantes de uma lista de destinatários composta de amigos que preferem receber as postagens por e-mail em vez de lê-las no blog. Dito isto, creio que esteja esclarecido a que comentário o título se refere. Considerando que podem existir pessoas com opiniões parecidas com a do autor do comentário, publico-o seguido por alguns esclarecimentos.
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Guedes, Bom Dia!
Em recente reportagem, semana passada no Jornal da Band, abordou-se esse tema, de uma outra forma onde já há o companheiro virtual, que é um robozinho. A matéria se estende e vale a pena acompanhá-la, inclusive já há uma rede de hotéis que utiliza esses recursos em 95% das atividades.
Fala-se, até 2030, da chegada de um robô com emoções... O risco é ele se apaixonar pela gente...
Abraços
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Ou seja, em resposta a uma postagem onde são apontados efeitos nocivos provocados pelo fascínio pela tecnologia, recebi um comentário onde, fazendo referência a uma reportagem na qual, "abordou-se esse tema de outra forma", pelo que deduzi a partir do que foi dito pelo remetente, é feita uma propaganda da tecnologia. Digo pelo que deduzi, pois, minhas tentativas para encontrar a referida reportagem foram malsucedidas. É por essas e outras que quando cito algo que pode ser encontrado na internet informo o endereço onde pode ser achado.
Abordar um tema de várias formas, eis a atitude correta para lidar adequadamente com qualquer tema que nos seja proposto nesta vida, até mesmo (e principalmente) quando o tema for a própria vida. Abordar qualquer tema considerando que entre as formas de abordagem, raramente, não haverá uma que mostre malefícios provocados pelo referido tema, pois, no atual estágio evolutivo da autodenominada espécie inteligente do universo, em qualquer coisa que ela se mete, existirão sempre, pelo menos, dois lados: um bom e um ruim.
Um lado bom que será sempre propagandeado por aqueles que de alguma forma tirem algum proveito de algo que foi inventado ou pelos fascinados com determinada invenção. Um lado ruim que só será percebido por aqueles que não tenham atingido aquele estágio citado por Flávio Tavares em seu artigo espalhado pela postagem anterior. O estágio em que "Já não vamos raciocinar nem pensar, menos ainda indagar ou saber discernir ou analisar." Um lado ruim cuja identificação é imprescindível para nos prepararmos para lidar com ele de modo que o estrago causado seja o menor possível. Um lado ruim cujo desmascaramento caberá sempre aos mais lúcidos (identificados na segunda frase deste parágrafo) e / ou àqueles que já tendo estado entre os promotores de uma determinada invenção tenham, por algum motivo, mudado de lado e passado a "abordar esse tema de outra forma", como mostra o exemplo apresentado nos dois próximos parágrafos.
Coincidentemente, no dia seguinte ao do recebimento da resposta que provocara esta postagem, quando já trabalhava em sua elaboração, em uma bem-vinda ocorrência de serendipity (uma feliz descoberta ao acaso), encontrei na edição de 06 de fevereiro de 2018 do jornal Folha de S.Paulo uma notícia publicada com a indicação de ter sido extraída "do New York Times" e apresentada sob o seguinte título: "Ex-funcionários do Facebook e do Google se unem contra o vício em tecnologia".
"Notícia da qual extraí os seguintes trechos: "(...) alarmados com os efeitos perversos das redes sociais e dos smartphones, estão se unindo para desafiar as empresas que ajudaram a construir. Esses especialistas, formaram uma organização chamada Centro para Uma Tecnologia Humana. (...) A campanha, intitulada 'A Verdade Sobre a Tecnologia' (...) 'Nós estivemos do lado de dentro', disse Tristan Harris, ex-encarregado de questões éticas do Google e presidente da nova organização. 'Sabemos o que essas empresas medem. Sabemos como elas falam, e sabemos como a engenharia funciona.'"
Bingo! Encontrar a referida notícia foi encontrar inesperados aliados em relação à ideia de espalhar o que está no título da campanha citada no parágrafo anterior: "A Verdade Sobre a Tecnologia". Uma campanha criada pelos formadores de uma organização chamada Centro para Uma Tecnologia Humana. Uma organização que pela voz de seu presidente - o ex-encarregado de questões éticas do Google - declara saber o que essas empresas medem, como elas falam e como a engenharia funciona. Um Centro cuja finalidade (buscar uma Tecnologia Humana) leva-me a fazer algumas indagações. Será que em uma Tecnologia Humana haveria lugar para a empolgação com a existência de "uma rede de hotéis que já utiliza esses recursos em 95% das atividades"? Será que em uma Tecnologia Humana haveria lugar para a empolgação com a expectativa de que "até 2030, ocorra a chegada de um robô com emoções..."?
Em 18 de junho de 2015, ou seja, há dois anos e oito meses, no endereço http://blog.panhoteis.com.br/inovacao-e-tecnologia/index.php/2015/06/18/e-quando-o-recepcionista-vira-robo/#.VYS2n0Y0ZOY, foi publicada uma matéria intitulada "E quando o recepcionista vira robô?". Matéria que, no momento em que esta postagem foi publicada, ainda estava disponível e da qual apresento aqui a frase inicial: "Falta menos de um mês para a anunciada abertura do hotel Henn-na, integrado ao parque temático Huis Ten, de Nagasaki no Japão, e que promete ser o primeiro hotel do mundo gerido majoritariamente por robôs!!!"
De uma matéria publicada na mesma época, no endereço http://admin.geek.com.br/posts/23494-hotel-no-japao-tera-recepcionista-robo, mas que no momento em que esta postagem foi publicada não foi encontrada (creio que o site tenha sido extinto), transcrevi, na época supracitada, o seguinte trecho: "O hotel deverá se chamar Henn-na Hotel (Hotel Estranho) e deve ser inaugurado em julho próximo. Ele terá três "actroiids" robôs com feições humanas que servirão de recepcionistas, além de robôs porteiros e faxineiros. A ideia é que os robôs sejam responsáveis por 90% dos serviços."
Um Hotel Estranho, a ser inaugurado em uma Civilização Estranha, pois como afirmou Alexis Carrel (1873 – 1944), "A civilização não tem como finalidade o progresso das máquinas, mas, sim o do homem.". Afirmação cuja afinidade com o trecho do Último Discurso proferido no filme O grande ditador (de 1940) pelo genial Charles Chaplin (1889 – 1977), e apresentado a seguir, considero perfeita. "Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.". Os grifos são meus. Portanto, menos empolgação, e mais reflexão! Afinal, como já nos advertia o filósofo alemão Gunther Anders, em 1957, "O fascínio pelo progresso nos faz cegos para o apocalipse.".
Perguntado sobre o que seus filhos pensavam do primeiro iPad, Steve Jobs, co-fundador da Apple, respondeu assim: "Eles não o usam. Nós limitamos a quantidade de tecnologia que nossos filhos usam em casa". E ao falar em "limitar a quantidade de tecnologia a ser usada" imediatamente me vem à mente uma afirmação de Amber Case citada na postagem O desafio da tecnologia é ser útil, publicada no blog Lendo e opinando em 23 de agosto de 2016, na qual é apresentada uma reportagem homônima publicada no jornal O Estado de S. Paulo. Qual é a afirmação? "A quantidade ideal de tecnologia na vida de uma pessoa é a mínima necessária.".
Limitar a quantidade de tecnologia a ser usada, eis uma recomendação que me faz recorrer até a uma afirmação bíblica. Uma afirmação feita há quase dois mil anos, atribuída a Paulo de Tarso, que, obviamente, foi feita em relação à outra coisa, mas que, no meu entender, é perfeitamente válida em relação ao relacionamento com a tecnologia. "Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém".
Encerrando a postagem seguem os agradecimentos a alguns que para ela colaboraram. O amigo que me enviou o e-mail com o comentário que a provocou. O jornalista que elaborou a notícia que vai ao encontro de algumas coisas que eu queria dizer em relação ao tema tecnologia. O jornal que publicou a referida notícia, principalmente por tê-lo feito num dia em que me proporcionou mais um exemplo de serendipity. Vocês perceberam que nem foi preciso citar a série Black mirror? Pois é! Portanto, menos empolgação, e mais reflexão; eis a recomendação!

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