"O cientista tem o dever moral de alertar a população não só
para o lado luz, 'a ciência vai resolver os males do mundo', mas também mostrar o lado de que ela provoca vários desses
males."
(Marcelo Gleiser
[1959 – ....], físico brasileiro, em entrevista publicada em 29 de julho de
2001 no caderno mais! [suplemento dominical do jornal Folha de S.Paulo])
Nesta postagem cujo
título começa com a palavra esclarecimentos, o primeiro deles é sobre a
que comentário o título se refere. Afinal, não há no blog comentário algum
sobre a postagem
anterior. Não, ele não é fruto da minha imaginação, e sim de um e-mail
recebido de um dos integrantes de uma lista de destinatários composta de amigos
que preferem receber as postagens por e-mail em vez de lê-las no blog. Dito
isto, creio que esteja esclarecido a que comentário o título se refere.
Considerando que podem existir pessoas com opiniões parecidas com a do autor do
comentário, publico-o seguido por alguns esclarecimentos.
*************
Guedes, Bom Dia!
Em recente reportagem, semana passada no Jornal da Band, abordou-se esse tema, de uma outra forma onde já há o companheiro virtual, que é um robozinho. A matéria se estende e vale a pena acompanhá-la, inclusive já há uma rede de hotéis que utiliza esses recursos em 95% das atividades.
Fala-se, até 2030, da chegada de um robô com emoções... O risco é ele se apaixonar pela gente...
Abraços
*************
Ou seja, em resposta a uma postagem onde são apontados efeitos
nocivos provocados pelo fascínio pela tecnologia, recebi um comentário onde, fazendo
referência a uma reportagem na qual, "abordou-se
esse tema de outra forma", pelo que deduzi a partir do que foi dito
pelo remetente, é feita uma propaganda da tecnologia. Digo pelo que deduzi, pois,
minhas tentativas para encontrar a referida reportagem foram malsucedidas. É
por essas e outras que quando cito algo que pode ser encontrado na internet
informo o endereço onde pode ser achado.
Abordar um tema de várias formas, eis a atitude correta para lidar
adequadamente com qualquer tema que nos seja proposto nesta vida, até mesmo (e
principalmente) quando o tema for a própria vida. Abordar qualquer tema considerando
que entre as formas de abordagem, raramente, não haverá uma que mostre
malefícios provocados pelo referido tema, pois, no atual estágio evolutivo da
autodenominada espécie inteligente do universo, em qualquer coisa que ela se
mete, existirão sempre, pelo menos, dois lados: um bom e um ruim.
Um lado bom que será sempre propagandeado por aqueles que de
alguma forma tirem algum proveito de algo que foi inventado ou pelos fascinados
com determinada invenção. Um lado ruim que só será percebido por aqueles que
não tenham atingido aquele estágio citado por Flávio Tavares em seu artigo
espalhado pela postagem
anterior. O estágio em que "Já não vamos raciocinar nem pensar, menos
ainda indagar ou saber discernir ou analisar." Um lado ruim cuja identificação é imprescindível para nos prepararmos
para lidar com ele de modo que o estrago causado seja o menor possível. Um lado
ruim cujo desmascaramento caberá sempre aos mais lúcidos (identificados na
segunda frase deste parágrafo) e / ou àqueles que já tendo estado entre os
promotores de uma determinada invenção tenham, por algum motivo, mudado de lado
e passado a "abordar esse tema de
outra forma", como mostra o exemplo apresentado nos dois próximos
parágrafos.
Coincidentemente, no dia seguinte ao do recebimento da resposta
que provocara esta postagem, quando já trabalhava em sua elaboração, em uma bem-vinda
ocorrência de serendipity (uma feliz descoberta ao acaso), encontrei na edição de 06 de fevereiro de 2018 do jornal Folha de S.Paulo uma notícia publicada
com a indicação de ter sido extraída "do New York Times" e apresentada sob o seguinte título: "Ex-funcionários do Facebook e do Google se unem contra o vício em tecnologia".
"Notícia da qual extraí os seguintes trechos: "(...) alarmados
com os efeitos perversos das redes
sociais e dos smartphones, estão se unindo para desafiar as empresas que
ajudaram a construir. Esses especialistas, formaram uma organização chamada
Centro para Uma Tecnologia Humana. (...) A campanha, intitulada 'A Verdade Sobre a Tecnologia' (...) 'Nós estivemos do lado
de dentro', disse Tristan Harris, ex-encarregado de questões éticas do Google e
presidente da nova organização. 'Sabemos o que essas empresas medem. Sabemos
como elas falam, e sabemos como a engenharia funciona.'"
Bingo! Encontrar a referida notícia foi encontrar inesperados
aliados em relação à ideia de espalhar o que está no título da campanha citada
no parágrafo anterior: "A Verdade
Sobre a Tecnologia". Uma campanha criada pelos formadores de uma
organização chamada Centro para Uma
Tecnologia Humana. Uma organização que pela voz de seu presidente - o
ex-encarregado de questões éticas do Google - declara saber o que essas
empresas medem, como elas falam e como a engenharia funciona. Um Centro cuja
finalidade (buscar uma Tecnologia Humana) leva-me a fazer algumas indagações.
Será que em uma Tecnologia Humana haveria lugar para a empolgação com a
existência de "uma rede de hotéis que
já utiliza esses recursos em 95% das atividades"? Será que em uma Tecnologia Humana haveria lugar para a
empolgação com a expectativa de que "até 2030,
ocorra a chegada de um robô com emoções..."?
Em 18 de junho de 2015, ou seja, há dois anos e oito meses, no
endereço http://blog.panhoteis.com.br/inovacao-e-tecnologia/index.php/2015/06/18/e-quando-o-recepcionista-vira-robo/#.VYS2n0Y0ZOY,
foi publicada uma matéria intitulada "E quando o recepcionista vira robô?". Matéria que, no momento em que esta postagem foi
publicada, ainda estava disponível e da qual apresento aqui a frase inicial: "Falta menos de um mês
para a anunciada abertura do hotel Henn-na, integrado ao parque temático Huis
Ten, de Nagasaki no Japão, e que promete ser o primeiro hotel do mundo gerido
majoritariamente por robôs!!!"
De uma matéria publicada na mesma época, no endereço http://admin.geek.com.br/posts/23494-hotel-no-japao-tera-recepcionista-robo,
mas que no momento em que esta postagem foi publicada não foi encontrada (creio
que o site tenha sido extinto), transcrevi, na época supracitada, o seguinte
trecho: "O hotel deverá se chamar Henn-na
Hotel (Hotel Estranho) e deve ser inaugurado em
julho próximo. Ele terá três "actroiids" robôs com feições humanas
que servirão de recepcionistas, além de robôs porteiros e faxineiros. A ideia é
que os robôs sejam responsáveis por 90% dos serviços."
Um Hotel Estranho, a ser
inaugurado em uma Civilização Estranha,
pois como afirmou Alexis Carrel (1873
– 1944), "A civilização não tem como finalidade o
progresso das máquinas, mas, sim o do homem.". Afirmação cuja afinidade
com o trecho do Último Discurso proferido no filme O grande ditador (de 1940) pelo genial Charles Chaplin (1889 – 1977), e apresentado a seguir, considero perfeita. "Mais do que de máquinas,
precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem
essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.". Os grifos são meus. Portanto, menos empolgação, e mais reflexão! Afinal,
como já nos advertia o filósofo alemão Gunther Anders, em 1957, "O
fascínio pelo progresso nos faz cegos para o apocalipse.".
Perguntado sobre o que seus filhos pensavam do primeiro iPad, Steve Jobs, co-fundador da Apple,
respondeu assim: "Eles não o usam. Nós limitamos a quantidade de tecnologia
que nossos filhos usam em casa". E ao falar em "limitar a quantidade de tecnologia a ser usada" imediatamente me vem à mente uma afirmação de Amber Case citada
na postagem O desafio da tecnologia é ser útil, publicada
no blog Lendo e opinando em 23 de
agosto de 2016, na qual é apresentada uma reportagem homônima publicada no
jornal O
Estado de S. Paulo. Qual é a afirmação? "A quantidade ideal de tecnologia na
vida de uma pessoa é a mínima necessária.".
Limitar a quantidade
de tecnologia a ser usada, eis uma recomendação que me faz recorrer até a uma
afirmação bíblica. Uma afirmação feita há quase dois mil anos, atribuída a
Paulo de Tarso, que, obviamente, foi feita em relação à outra coisa, mas que,
no meu entender, é perfeitamente válida em relação ao relacionamento com a
tecnologia. "Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém".
Encerrando a postagem seguem os agradecimentos a alguns que para ela
colaboraram. O amigo que me enviou o e-mail com o comentário que a provocou. O
jornalista que elaborou a notícia que vai ao encontro de algumas coisas que eu
queria dizer em relação ao tema tecnologia. O jornal que publicou a referida
notícia, principalmente por tê-lo feito num dia em que me proporcionou mais um
exemplo de serendipity. Vocês
perceberam que nem foi preciso citar a série Black mirror? Pois é! Portanto, menos empolgação, e mais reflexão;
eis a recomendação!
Nenhum comentário:
Postar um comentário