Lidar inadequadamente com o que é colocado ao seu dispor, eis um dos
grandes equívocos cometidos frequentemente pela imensa maioria da pretensa
espécie inteligente do universo. Achar que toda e qualquer novidade vem para
substituir tudo o que já existe, e não para ser uma opção a ser usada
conforme as circunstâncias. Acreditar, tolamente, que toda e qualquer novidade
lhe trará apenas vantagens esquecendo que, assim como na contabilidade, nessa coisa
denominada vida também há sempre uma contrapartida. Em outras palavras, nada tem
apenas prós ou apenas contras.
Dito isto, após uma postagem
provocada por um comentário recebido por e-mail, segue uma na qual são
focalizados o uso, a utilidade e a sobrevivência do e-mail. Publicada na edição
de 27 de janeiro de 2018 do jornal O Globo sob o título 'E o e-mail,
hein?', a reportagem apresentada a seguir é assinada por Liv Brandão.
E o e-mail, hein?
Faça um teste. Abra seu e-mail pessoal e dê uma olhada na caixa de
entrada. Quantas mensagens de fato pessoais você encontra? E qual a
proporção delas em relação àquelas automáticas, aos recibos de transporte, às
confirmações de compras on-line? Pois é. A forma como as pessoas lidam com o
e-mail mudou significativamente nos últimos tempos, levando os teóricos do
apocalipse a vaticinar o fim da ferramenta, que perdeu espaço para mensageiros
instantâneos como WhatsApp e Messenger, do Facebook. Será?
- O e-mail foi uma das principais funções de consolidação da
importância da internet. Quando ela se popularizou, a ferramenta representava
uma forma de comunicação rápida, sem fronteiras, quase instantânea. Mas a
percepção sobre sua finalidade mudou – analisa Carlos Affonso Souza, diretor do
Instituto de Tecnologia & Sociedade do Rio de Janeiro, cuja mensagem de
status no WhatsApp é "melhor que e-mail".
Souza, que até o momento da entrevista, anteontem, acumulava 160.481
mensagens não lidas em sua caixa, também acha que o e-mail é considerado démodé
pelas novas gerações:
- Não tendo sido apresentados à carta e ao telegrama, os mais jovens
acham o e-mail uma forma de contato muito formal, demorada e protocolar.
Com a palavra, os millennials.
- Nunca troquei mensagens pessoais pelo e-mail. Para mim, é apenas um
meio de comunicação de massa das empresas com seus clientes, como uma loja, que
usa a ferramenta para se comunicar – diz a estudante universitária Maria Clara
Piragibe, de 19 anos.
Outro fator apontado por jovens é a falta de confirmação de recebimento
e visualização (os famosos tiques azuis do "zap") e até mesmo o roubo
de protagonismo das redes sociais ("até para reclamar com SAC de empresa,
o Twitter e o Facebook, são mais efetivos que o e-mail", avalia a aprendiz
de advogada Juliana Brito, de 21 anos).
- Houve um tempo em que eu raramente checava o e-mail, mas, a partir do
começo da faculdade, ele foi ganhando espaço na minha vida – conta Victor Tulli,
de 19 "quase 20" anos. – É por e-mail que recebo minhas notas e falo
com os professores. Mas, dificilmente, troco mensagens pessoais. Quando acesso,
geralmente é para resolver um problema ou ver como está o andamento de outro.
Nem tudo está perdido para o pobre do e-mail. Ferramenta muito popular
na internet de raiz, a newsletter voltou com força total. Com base em curadoria
de conteúdo feita por canais dos mais diversos, assinantes encontram um nicho
efetivo de comunicação em tempos de cacofonia nas redes sociais.
- As pessoas querem valorizar seu tempo on-line, e a newsletter é um
recurso que entrega conteúdo relevante e com fácil acesso. Na confusão das
redes sociais, em que postagem do nascimento do filho do amigo, vídeo de gato e
breaking news se confundem, a newsletter parece-me um quarto silencioso
onde a pessoa pode se dedicar a ler e se aprofundar sobre determinado assunto –
analisa Souza.
Pioneiro na internet no Brasil (e no mundo), o sérvio-brasileiro
Aleksandar Mandic não concorda com as previsões apocalípticas.
- Com o advento dos instant messengers, a coisa apenas se
modificou. O e-mail hoje está posicionado para negócios – explica Mandic, que
se antecipou à tendência e abriu uma empresa para e-mails corporativos em 2002.
– Ninguém manda um contrato por WhatsApp e nem negocia os termos dele por
Facebook. A caixa de entrada permite a organização em pastas, divisão por
temas.
Para ele, é fácil localizar um e-mail de dez anos atrás, diferentemente
de uma conversa de WhatsApp.
- Este novo mundo de mensagens rápidas descarregou do e-mail uma função
para a qual ele não foi feito, afinal, ele é uma forma de comunicação
assíncrona. Por isso, afirmo: o e-mail não vai morrer, assim como o rádio, que
ainda está em alta, mesmo com o Spotify.
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"O e-mail foi uma das principais funções de consolidação da
importância da internet. Quando ela se popularizou, a ferramenta representava
uma forma de comunicação rápida, sem fronteiras, quase instantânea. Mas a
percepção sobre sua finalidade mudou." – analisa Carlos Affonso Souza,
diretor do Instituto de Tecnologia & Sociedade do Rio de Janeiro, cuja mensagem
de status no WhatsApp é "melhor que e-mail".
"Quando ela (a internet) se popularizou, a ferramenta (o e-mail) representava
uma forma de comunicação" bastante usada inadequadamente. "Mas a
percepção sobre sua finalidade mudou" e, felizmente, parece-me que a
finalidade correta conseguiu ser percebida por algumas pessoas – analisa Manuel
Pinheiro Guedes, analista de sistemas durante 3,5 décadas, testemunha do uso
inadequado do e-mail em seu surgimento, cuja mensagem a lhes passar – por este
blog - é a seguinte: "nem melhor nem pior do que qualquer outra forma de
comunicação, e-mail é apenas uma excelente opção, quando usado adequadamente".
Lembro, como se fosse hoje, de telefonemas que recebia de colegas de
trabalho perguntando se eu havia visto a mensagem por eles enviada. Respondendo
que eu não entrava no correio eletrônico diariamente e solicitando-lhes
que revelassem o conteúdo da mensagem, espantados com o meu comportamento, eles
respondiam que eu deveria ler a mensagem para saber do que se tratava. Ou seja,
fascinados pela novidade, a impressão que aqueles colegas me passavam era a de
quererem tornar o e-mail sua única forma de comunicação, independentemente das
circunstâncias em que a comunicação se fizesse necessária e do tipo de informação
que se desejasse compartilhar. Seria esse o uso adequado da nova ferramenta? No
meu entender, não.
"Não tendo sido apresentados à carta e ao telegrama, os mais
jovens acham o e-mail uma forma de contato muito formal, demorada e protocolar.",
eis mais uma afirmação de Carlos Affonso Souza.
Será que se tivessem
sido, adequadamente, apresentados à carta e ao telegrama, os mais jovens
entenderiam que o e-mail e o twitter são as versões eletrônicas da carta
e do telegrama, respectivamente? Vocês sabiam que o tamanho máximo das
mensagens postadas no twitter (140 caracteres) é o mesmo das mensagens que
eram enviadas por telegrama? Que coincidência, hein! Será que se tivessem sido,
adequadamente, apresentados à carta e ao telegrama, os mais jovens entenderiam
que, assim como o advento do telegrama não matou o uso da carta, (afinal, suas finalidades
eram diferentes) o advento dos instant messengers não deve matar o uso
do e-mail? Vocês perceberam que na reportagem há o exemplo de um jovem que diz
ter passado a usar o e-mail a partir do começo da faculdade, por ser uma
forma de comunicação funcional para falar com os professores? Pois é!
"Este novo mundo de mensagens rápidas descarregou do e-mail uma
função para a qual ele não foi feito, afinal, ele é uma forma de comunicação
assíncrona. Por isso, afirmo: o e-mail não vai morrer, assim como o rádio, que
ainda está em alta, mesmo com o Spotify.", eis a afirmação de Aleksandar
Mandic (pioneiro na internet no Brasil [e no mundo]) escolhida por Liv Brandão
para encerrar sua reportagem. Afirmação que também escolho para encerrar esta
postagem.
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