segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Reflexões provocadas por "Valeu a intenção da semente"

"Seu problema é que você só olha para a meta, mas esquece da caminhada. Tenha menos ansiedade e observe as coisas a sua volta. (...) Se você só olhar o fim, pode até chegar nele, mas não vai ter aprendido nada que o caminho pode oferecer".
Dizendo não lembrar se as palavras foram exatamente essas, Rafael Martí diz ser essa uma lição inesquecível que lhe foi oferecida pelo editor do jornal Essência Vital, e acrescenta. "Naquele momento, embora minha mente racional tenha compreendido sobre a necessidade de desacelerar meu tempo, eu não tinha efetivamente colocado em prática esse ensinamento. Ele ficou guardado durante alguns anos" até começar a ser colocada em prática.
Será que, mais do que uma lição inesquecível a ser gravada em sua mente racional, as palavras do editor podem ser interpretadas como uma semente esperançosa lançada no coração de um jovem jornalista no momento em que seus caminhos se encontraram? Será que o editor de um jornal intitulado Essência Vital acreditava que, se nada mais resultar da ação de semear algo que preste, pelo menos, dela valerá a intenção da semente? No meu entender, sim. Por que será que sempre vale a intenção da semente? Em resposta a esta questão segue o último parágrafo do maravilhoso texto de Rafael.
"Porque o que queremos é um mundo melhor. Mas se ele não for o melhor dos mundos, pelo menos estaremos nos dedicando a esse ideal com afinco. Afinal, como diria o saudoso Henfil, irmão do Betinho: 'Se não houver frutos, valeu a beleza das flores. Se não houver flores, valeu a sombra das folhas. Se não houver folhas, valeu a intenção da semente'."
Embora seja intitulado Valeu a intenção da semente e com essa afirmação seja encerrado, como se pode perceber desde o primeiro parágrafo, o texto de Rafael Martí tem como tema o caminhar.
"Sobre a caminhada muitos poetas escreveram. Eu gosto muito de uma música do Almir Sater na qual ele diz: 'ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais'. Em poucos versos de nossa língua um autor conseguiu ser tão profundo em tão poucas palavras. Todos nós somos apressados. E um dia chegaremos à sabedoria de andar devagar apenas para observar o caminho, sem nos preocupar com o fim em si mesmo, mas com a qualidade dos nossos passos até o ponto de chegada.", diz Rafael.
Também gosto muito da música citada por Rafael e concordo com quase tudo que é dito no parágrafo anterior. De que discordo? De que "Todos nós somos apressados". Afinal, se já existe quem "ande devagar porque já teve pressa", nem todos são apressados, não é mesmo? Mas é fato que a imensa maioria é apressada.
"Outro verso que me encanta é do poeta espanhol Antonio Machado. 'Caminhante não há caminho. Se faz o caminho ao caminhar.'. Esses versos mostram que muitas vezes o fim traçado se modifica com a nossa jornada. É fundamental que caminhemos com honestidade e amor ao caminho. Porque o fim dele não nos pertence."
"Mas sem dúvida alguma a frase mais perfeita sobre isso é de Mahatma Gandhi. Ele disse certa vez que 'a felicidade estava na luta e não na conquista em si. Por isso sacrifício total é vitória total'. Foi quando li essa frase que minha ficha caiu. Os fins não justificam os meios como diriam os maquiavélicos de plantão, mas os meios devem estar em sintonia com os fins. E mais do que isso. Se não alcançarmos a meta, ao menos que nos dediquemos a ela com toda nossa energia e amor."
Também extraídos do texto de Rafael, os dois parágrafos acima são aqui reproduzidos com a finalidade de "explicar" uma compilação feita com a intenção de associá-la a algo marcante que ouvi em um filme que assisti em 1992 (faz tempo, hein!) e que jamais esqueci.
"'Caminhante não há caminho. Se faz o caminho ao caminhar.' (...) 'muitas vezes o fim traçado se modifica com a nossa jornada. É fundamental que caminhemos com honestidade e amor ao caminho. Porque o fim dele não nos pertence.' (...) 'a felicidade estava na luta e não na conquista em si. Por isso sacrifício total é vitória total'. (...) 'Os fins não justificam os meios como diriam os maquiavélicos de plantão, mas os meios devem estar em sintonia com os fins. E mais do que isso. Se não alcançarmos a meta, ao menos que nos dediquemos a ela com toda nossa energia e amor'."
Será que é possível enxergar na compilação apresentada no parágrafo anterior alguma relação com o que no filme intitulado Cidade da Esperança é dito ser o Canto de Guerra Suaile: "Só a luta dá sentido à vida. O triunfo ou a derrota estão nas mãos dos deuses. Festejemos a luta!". Os grifos são meus e foram feitos com a intenção de facilitar a visão da relação que eu enxergo entre as palavras de Rafael Martí, as de Mahatma Gandhi e as do Canto de Guerra Suaile.
Entendendo que uma das melhores maneiras de assimilar algo novo que se ouça ou que se leia é fazendo associações com coisas anteriormente assimiladas, recorrer ao método das associações sucessivas é algo que faço o tempo todo, conforme já deve ter sido percebido por quem já tenha lido uma quantidade considerável de postagens deste blog. Sendo assim, segue uma associação que, no meu entender, eu não deveria deixar de compartilhar com vocês nesta postagem.
"O que educa uma criança é o caminho da escola, nem tanto a escola em si.", diz o premiado arquiteto e urbanista Paulo Mendes da Rocha, em uma reportagem-entrevista intitulada O mais indignado dos discursos, espalhada por este blog em 13 de outubro de 2017. "Se você só olhar o fim, pode até chegar nele, mas não vai ter aprendido nada que o caminho pode oferecer", diz Rafael Martí em um texto intitulado Valeu a intenção da semente, espalhado pela postagem anterior. Vocês concordam que as duas afirmações têm tudo a ver?
Em um texto cujo tema é o caminhar, originalmente publicado na edição de julho de 2006 da revista Mandala, onde Rafael Martí mantinha uma coluna, ele faz a seguinte afirmação:
"E aqui estou eu. Por isso que o nome dessa coluna é Caminhando. Nesse espaço nossa intenção é compartilhar com o leitor um modo mais lúdico de ver o mundo. Sem tanta pressa e com muita utopia."
Em uma postagem provocada pelo texto de Rafael Martí, publicada recentemente em um blog intitulado Espalhando ideias, parafraseando sua afirmação, digo o seguinte:
"E aqui estou eu. Por isso que o nome deste blog é Espalhando ideias. Nesse espaço minha intenção é compartilhar com o leitor um modo mais consciente de ver o mundo. Sem tanta pressa e com muita utopia."
"Sem tanta pressa e com muita utopia."! Será que são essas as condições imprescindíveis para o plantio de tâmaras? Plantio de tâmaras?! Que conversa estranha é essa?! Na postagem anterior, Valeu a intenção da semente. Nesta, essa estranha história de plantio de tâmaras. Será que este blog está sendo transformado em um blog agrícola? Será que em vez de Espalhando ideias ele terá seu nome mudado Semeando ideias? Será que espalhando e semeando têm alguma coisa a ver? Será que a próxima postagem será inspirada em um antigo ditado árabe que diz que Quem planta tâmaras não colhe tâmaras?
"Sem tanta pressa e com muita utopia", quem viver e continuar visitando este blog, a partir da próxima segunda-feira saberá. Evidentemente, se até lá o blogueiro também ainda estiver nesta dimensão. Afinal, como é dito no texto de Rafael Martí, "o fim do caminho não nos pertence", por mais sinistra que possa lhes parecer tal afirmação.

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