"A vida isolada é
a vida egoísta, a vida selvagem; a vida em comum é a vida moral, que faz nascer
o direito e o dever, a única para a qual o homem foi criado, na qual pode
desenvolver suas faculdades, descobrir as leis de justiça que regem as
sociedades e os mundos.", diz Léon Denis em um livro intitulado O Progresso. "Cidadão: indivíduo no
gozo de seus direitos civis e
políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este.", diz um antigo dicionário Aurélio que
me foi presenteado pelo ex-colega de trabalho e amigo Ricardo Wilson. Os grifos
são meus.
"Hoje em dia a rotina das crianças é o
que eu chamo de caixinhas. Está na caixinha que é a casa, entra na caixinha com
rodas que é o carro ou a van, vai para a escola, que é a caixa maior, e geralmente
só tem dez minutos para lanche e dez para brincar. Aí ela volta para casa e não
sai, porque é perigoso ou por falta de opção.", diz a arquiteta e
urbanista Irene Quintáns na reportagem-entrevista espalhada pela postagem anterior.
À luz do que é dito nos
dois parágrafos acima, será que faz sentido dizer que, hoje em dia, as crianças
são tratadas como cidadãs? Será que para, acertadamente, serem classificadas
como cidadãs é preciso que elas caminhem pela cidade, como defende Irene
Quintáns? Será que "Uma criança que não anda não convive com moradores de
rua, com situações e pessoas de cores diferentes", pode ser considera
cidadã? O que vocês acham?
"Um dia eu caminhava
com o meu filho e ele deu um sorrisão para um morador de rua e falou 'bom
dia!'. Como você vai fazer esse tipo de construção social se você é
transportado de uma caixa para outra?", diz a arquiteta e urbanista,
contando um episódio, que remete a algo defendido na primeira frase desta
postagem: a vida em comum. A vida em comum que leva ao pertencimento.
"É
superimportante tratar o tema do pertencimento. Se ela (a criança) não se sente
pertencente ao seu bairro, à cidade, como é que você vai ensinar coisas do tipo
'não se joga lixo na rua'? Através do tablet?", questiona Irene Quintáns fazendo-me
lembrar a seguinte passagem do documentário "O Começo da Vida", lançado em 5 de maio de 2016.
"Uma das grandes solidões do mundo contemporâneo é a perda de comunidade. Perdemos esse sentido comunitário, a criança precisa disso. Ela precisa de crianças, ela precisa de pessoas, não só quando falta alguém da família, mas como um acréscimo; ela precisa dessa ampliação. Isso muda tudo. Cada criança pertence à comunidade, pertence, na verdade mesmo, pertence à humanidade inteira.", diz Severino Antônio, Ph.D., educador e escritor.
E de lembrança em lembrança, ele, sempre ele,
o método das recordações sucessivas leva-me a comparar as duas seguintes
afirmações:
"Uma coisa que eu não gosto é que as pessoas falam: a criança é o cidadão do futuro. Não, ela é um cidadão de hoje, de ontem e de amanhã.", diz a arquiteta e urbanista espanhola Irene Quintáns.
"'Crianças não são o futuro. Crianças são o presente' ... precisamos dizer a elas que são o presente, que podem fazer do mundo um lugar melhor hoje mesmo.", diz a designer indiana Kiran Sethi.
Vocês concordam que Irene Quintáns e Kiran
Seth dizem a mesma coisa? Conseguem concordar com elas?
"Existem, em vários países, projetos de multas cidadãs. As crianças saem para as ruas com umas multas e, se um carro está estacionado na calçada, por exemplo, ela põe o papel, que diz: 'Você estacionou em um dos poucos lugares onde eu posso estar, por favor não faça mais. Assinado, Pedrinho, de 8 anos'.", diz Irene Quintáns em "Criança precisa caminhar pela cidade para ser cidadã.".
"Quando conseguimos estabelecer a mentalidade da capacidade de transformação desde a infância, as pessoas passam a se preparar desde cedo para viver em um mundo melhor, e não para prepará-lo no futuro.", diz Kiran Sethi em 'Crianças não são o futuro. Crianças são o presente'.
Vocês concordam que, mais uma vez, Irene
Quintáns e Kiran Sethi dizem a mesma coisa?
Encerrando esta sequência de postagens que
entre suas intenções inclui a semeadura da imprescindibilidade de oferecermos às
crianças a oportunidade de cooperarem na construção de um mundo melhor, um mundo
onde, pela ordem natural das coisas, elas passarão um tempo maior do que
nós, esta postagem é encerrada com a seguinte mensagem. Espalhar sementes de um
mundo melhor é algo que devemos fazer sempre, pois, mesmo que nós não cheguemos a colher algum fruto,
creio que a simples intenção da semente já terá valido a pena.
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