A ideia de elaborar esta postagem surgiu de algo que ouvi
em uma palestra apresentada em 20 de agosto de 2017 pela TV Escola em sua edição dominical do programa Café Filosófico. Proferida pelo psicólogo e doutor em psicologia
clínica Cláudio Mello Wagner, lá pelas tantas, ele diz o seguinte: "Eu
queria fazer uma diferenciação entre saída e solução. A saída para um conflito,
para uma angústia, eu vou colocar ao nível do individual. E vou colocar a
palavra solução para resolução de algum conflito ao nível coletivo". E
prosseguindo ele dá o seguinte exemplo.
"O meu filho tem uma escola pública que fica a duas quadras de casa. Então, ele pode ir a pé. Mas essa escola não é muito forte e eu tenho conhecimento que a três quilômetros tem uma escola pública que é muito boa. Então, eu penso. Eu posso dar uma saída que é uma solução individual. Vou lá, vejo se arranjo uma vaga pro meu filho nessa escola boa, dou um jeito de levá-lo ou alugar uma perua ... pagar uma perua... qualquer coisa.... Eu arrumo um jeito pra resolução de um problema individual. Então, é uma saída.
Agora a questão que seria. Bom, se aquela escola é boa, é uma referência, e essa escola aqui é meio fraquinha, podemos aqui, a coletividade dos pais daqui que estão insatisfeitos, em vez de cada um querer resolver o seu problema, como é que a gente faz... de ir lá e ver porque é que aquilo funciona bem e trazer pra cá?. Isso é solução."
Ficou clara e nítida a diferenciação entre saída e solução? Será
que a não diferenciação entre essas duas coisas tem alguma coisa a ver com a
maioria dos males que nos afligem? Será que olhar de um ponto de vista individual
que leve a optar por uma saída que possibilite a fuga do enfrentamento de um
problema que atinge uma coletividade, em vez de olhar do ponto de vista coletivo
que leve a unir forças capazes de levar à solução do problema, é algo que faz
algum sentido? Será que faz algum sentido fugir dos problemas que nos afligem?
"Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser
modificado até que seja enfrentado.", é uma
afirmação de James Baldwin (1924-1987), escritor e
ativista americano, da qual gosto muito e que uso aqui para fazer a seguinte
paráfrase. "Nem tudo que se enfrenta pode ser solucionado,
mas nada pode ser solucionado até que seja enfrentado". Ou seja, não é fugindo dos problemas que eles serão
solucionados.
E após a lembrança da
afirmação de James Baldwin, lembro também de uma inesquecível afirmação de
Peter M. Senge (1947-....) usada como título de uma passagem de seu consagrado
livro A Quinta Disciplina. "Os
problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem.". Afirmação que, em
conformidade com a ideia espalhada por esta postagem, fica assim: "Os
problemas de hoje provêm das saídas de ontem."
E de lembrança em
lembrança, o método das recordações sucessivas leva-me a uma afirmação de
Friedrich Nietzsche (1844-1900) que, embora tenha sido feita em outro contexto,
entendo que cabe perfeitamente nesta postagem. "O que não me mata me
fortalece.". Vocês concordam que problemas que não sejam mortos por
soluções ficarão cada vez mais fortes e consequentemente mais difíceis de
solucionar? Não sei porque..., talvez devido a algum delírio..., a afirmação de
Nietzsche me faz lembrar da cada vez mais forte violência urbana que assola
esta civilização (sic). A postagem publicada neste blog em 26 de fevereiro de
2012 é intitulada "O que não me mata me fortalece" ou "Os problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem".
Enxergar
a diferenciação entre saída e solução, eis a questão! E uma vez enxergada - sem
hesitação - abandonar a habitual inclinação de optar pelo que é fácil – a saída
– e passar a optar pelo que é certo – a solução -, pois como diz Dumbledore, o mago barbudo do filme Harry
Potter e o Cálice de Fogo, "Tempos
difíceis estão por vir. Em breve, teremos que escolher entre o que é certo e o que
é fácil." Compreendido?
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