terça-feira, 22 de agosto de 2017

Elucidando o problema da violência urbana

"Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado.", é uma afirmação de James Baldwin (1924-1987), escritor e ativista americano, da qual gosto muito e que uso aqui para fazer a seguinte paráfrase. "Nem tudo que se entende pode ser solucionado, mas nada pode ser solucionado até que seja entendido".
Com a intenção de contribuir para o entendimento do problema da violência urbana que a cada dia apavora mais esta civilização (sic) repleta de indivíduos inconscientes, elaborei uma pequena relação de afirmações feitas por algumas pessoas que tendo enxergado com bastante nitidez as causas de tal problema podem ajudar-nos a elucidá-lo. Uma relação que imprimo em pequenos bilhetes para oferecer a quem estiver disposto (a) a conversar comigo sobre a solução para o problema da violência urbana. Relação que é reproduzida abaixo.
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"É estranha essa situação do Rio de Janeiro. Essa cidade está degenerada. Não se pense que vamos resolver o problema da segurança botando mais soldados na rua. Para resolvê-la, temos que começar pela educação, saúde, emprego, exclusão social. Ou seja, pegar de todos os lados."
(Celso Furtado [1920 – 2004], economista e destacado intelectual brasileiro ao longo do século XX, em entrevista publicada na edição de 1º de março de 1995 da revista Isto É)
"Se não construirmos escolas agora, daqui a 20 anos faltará dinheiro para construir os presídios necessários."
(Darcy Ribeiro [1922 – 1997], antropólogo, escritor e político, em 1982)
"O analfabetismo, a falta de ocupação, a vida difícil e a miséria poderão criar uma grave situação de insegurança que evoluiria para uma criminalidade irreprimível."
(Alberto Pasqualini [1901 – 1960], advogado, professor, sociólogo e senador, em fevereiro de 1945)
"O carrasco pode suprimir o criminoso, mas a miséria mantém o crime."
(Coelho Neto [1864 – 1934], escritor, professor, e político)
"Por que consentir que os cidadãos se eduquem pessimamente e que seus costumes se vão corrompendo pouco a pouco desde seus mais tenros anos para castigá-los quando, já homens, cometerem delitos que se faziam esperar desde sua infância, que outra coisa é senão criar ladrões para depois castigá-los."
(Thomas Morus [1478 – 1535], estadista, escritor e homem de leis, em 1516)
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Eta problema antigo, hein! Entre a afirmação mais recente e a mais antiga, já se foram 479 anos! Feita esta constatação, passemos a algumas indagações e reflexões provocadas pelas afirmações.
"É estranha essa situação do Rio de Janeiro. Essa cidade está degenerada. Não se pense que vamos resolver o problema da segurança botando mais soldados na rua. Para resolvê-la, temos que começar pela educação, saúde, emprego, exclusão social. Ou seja, pegar de todos os lados.", diz Celso Furtado em 1995.
Ou seja, em 1995, Celso Furtado já enxergava a "cidade do Rio de Janeiro como degenerada" e alertava que "o problema da segurança não se resolve botando mais soldados na rua". Vinte e dois anos depois, em um estado de degeneração ainda maior, o que é que se viu nesta cidade no início deste mês? Algumas de suas ruas repletas de policiais e de soldados em mais uma das ineficazes ações que jamais resolverão o problema da segurança, pois como disse Celso Furtado, "para resolvê-lo temos que começar pela educação saúde e desemprego". Vocês concordam com a afirmação de que "para resolver o problema da segurança temos que começar pela educação"? Será que Darcy Ribeiro concordava?
"Se não construirmos escolas agora, daqui a 20 anos faltará dinheiro para construir os presídios necessários.", Diz Darcy Ribeiro, em 1982.
Feita em 1982, a previsão de Darcy Ribeiro venceu em 2002, correto? Vocês acham que tal previsão foi concretizada? Vocês acham que Darcy Ribeiro concordava com Celso Furtado quanto à afirmação de que "para resolver o problema da segurança temos que começar pela educação"? No meu entender, sim. Será que Alberto Pasqualini concordaria com os dois?
"O analfabetismo, a falta de ocupação, a vida difícil e a miséria poderão criar uma grave situação de insegurança que evoluiria para uma criminalidade irreprimível.", disse Alberto Pasqualini, em 1945.
Vocês conseguem enxergar, nos dias de hoje, a criminalidade irreprimível prevista por Alberto Pasqualini há 72 anos? Seria ele um profeta? Não, acertar previsões não é coisa de profetas, e sim de indivíduos conscientes; de indivíduos que tenham conseguido desenvolver a capacidade de interpretar corretamente o mundo em que vivem. Vocês conseguem perceber que o antídoto para os males apontados por Pasqualini como "possíveis criadores de uma grave situação de insegurança que evoluiria para uma criminalidade irreprimível." é a educação? Ou seja, será que Alberto Pasqualini concordaria com Celso Furtado e Darcy Ribeiro? O que vocês acham?
"O carrasco pode suprimir o criminoso, mas a miséria mantém o crime.", disse Coelho Neto, entre 1864 e 1934.
A miséria mantém o crime, disse Coelho Neto. A miséria (entre outros fatores) poderá criar uma criminalidade irreprimível, disse Alberto Pasqualini. Será que alguém consegue não ver que os dois disseram a mesma coisa? Será que uma criminalidade irreprimível significa que matar criminosos jamais resolverá o problema da violência urbana, pois, da mesma forma que enquanto houver milho haverá pipoca, enquanto houver miséria haverá criminalidade? O que vocês acham?
"Por que consentir que os cidadãos se eduquem pessimamente e que seus costumes se vão corrompendo pouco a pouco desde seus mais tenros anos para castigá-los quando, já homens, cometerem delitos que se faziam esperar desde sua infância, que outra coisa é senão criar ladrões para depois castigá-los.", disse Thomas Morus, em 1516.
"Consentir que os cidadãos se eduquem pessimamente desde seus mais tenros anos para castigá-los quando já forem homens; criar ladrões para depois castigá-los", disse Thomas Morus, em 1516. O grifo é meu e tem a intenção de chamar atenção para a afinidade da afirmação de Morus com as dos outros lúcidos indivíduos citados na postagem. Educação com qualidade, eis a solução para o problema da violência urbana.
Será que a pequena relação de afirmações apresentada nesta postagem conseguirá elucidar o problema da violência urbana que nos apavora cada vez mais?
Para ilustrar a postagem, segue uma charge que, embora assinada por Carlos Latuff com ano 2013, no meu entender, é uma ilustração perfeita para as palavras de Thomas Morus em 1516. "(...) cometerem delitos que se faziam esperar desde sua infância, que outra coisa é senão criar ladrões para depois castigá-los.".


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