"Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada
pode ser modificado até que seja enfrentado.", é uma
afirmação de James Baldwin (1924-1987), escritor e
ativista americano, da qual gosto muito e que uso aqui para fazer a seguinte
paráfrase. "Nem tudo que se entende pode ser solucionado,
mas nada pode ser solucionado até que seja entendido".
Com a intenção de
contribuir para o entendimento do problema da violência urbana que a cada dia
apavora mais esta civilização (sic) repleta de indivíduos inconscientes,
elaborei uma pequena relação de afirmações feitas por algumas pessoas que tendo
enxergado com bastante nitidez as causas de tal problema podem ajudar-nos a
elucidá-lo. Uma relação que imprimo em pequenos bilhetes para oferecer a quem
estiver disposto (a) a conversar comigo sobre a solução para o problema da
violência urbana. Relação que é reproduzida abaixo.
*************
"É estranha essa situação do Rio de
Janeiro. Essa cidade está degenerada. Não se pense que vamos resolver o
problema da segurança botando mais soldados na rua. Para resolvê-la, temos que
começar pela educação, saúde, emprego, exclusão social. Ou seja, pegar de todos
os lados."
(Celso Furtado [1920 – 2004], economista
e destacado intelectual brasileiro ao longo do século XX, em entrevista
publicada na edição de 1º de março de 1995 da revista Isto É)
"Se não
construirmos escolas agora, daqui a 20 anos faltará dinheiro para construir os
presídios necessários."
(Darcy Ribeiro [1922 – 1997], antropólogo, escritor e político, em
1982)
"O analfabetismo,
a falta de ocupação, a vida difícil e a miséria poderão criar uma grave
situação de insegurança que evoluiria para uma criminalidade
irreprimível."
(Alberto Pasqualini [1901 – 1960], advogado, professor, sociólogo e
senador, em fevereiro de 1945)
"O carrasco pode
suprimir o criminoso, mas a miséria mantém o crime."
(Coelho Neto [1864 – 1934], escritor, professor, e político)
"Por que consentir que os cidadãos se
eduquem pessimamente e que seus costumes se vão corrompendo pouco a pouco desde
seus mais tenros anos para castigá-los quando, já homens, cometerem delitos que
se faziam esperar desde sua infância, que outra coisa é senão criar ladrões
para depois castigá-los."
(Thomas Morus [1478 – 1535], estadista,
escritor e homem de leis, em 1516)
*************
Eta problema antigo, hein! Entre a afirmação
mais recente e a mais antiga, já se foram 479 anos! Feita esta constatação, passemos
a algumas indagações e reflexões provocadas pelas afirmações.
"É estranha essa situação do Rio de Janeiro. Essa cidade está degenerada. Não se pense que vamos resolver o problema da segurança botando mais soldados na rua. Para resolvê-la, temos que começar pela educação, saúde, emprego, exclusão social. Ou seja, pegar de todos os lados.", diz Celso Furtado em 1995.
Ou seja, em 1995,
Celso Furtado já enxergava a "cidade do Rio de Janeiro como degenerada"
e alertava que "o problema da segurança não se resolve botando mais
soldados na rua". Vinte e dois anos depois, em um estado de degeneração
ainda maior, o que é que se viu nesta cidade no início deste mês? Algumas de
suas ruas repletas de policiais e de soldados em mais uma das ineficazes ações
que jamais resolverão o problema da segurança, pois como disse Celso Furtado, "para
resolvê-lo temos que começar pela educação saúde e desemprego". Vocês
concordam com a afirmação de que "para resolver o problema da segurança
temos que começar pela educação"? Será que Darcy Ribeiro concordava?
"Se não construirmos escolas agora, daqui a 20 anos faltará dinheiro para construir os presídios necessários.", Diz Darcy Ribeiro, em 1982.
Feita em 1982, a previsão de Darcy
Ribeiro venceu em 2002, correto? Vocês acham que tal previsão foi concretizada?
Vocês acham que Darcy Ribeiro concordava com Celso Furtado quanto à afirmação
de que "para resolver o problema da segurança temos que começar pela
educação"? No meu entender, sim. Será que Alberto Pasqualini concordaria
com os dois?
"O analfabetismo, a falta de ocupação, a vida difícil e a miséria poderão criar uma grave situação de insegurança que evoluiria para uma criminalidade irreprimível.", disse Alberto Pasqualini, em 1945.
Vocês conseguem enxergar, nos dias de hoje, a
criminalidade irreprimível prevista por Alberto Pasqualini há 72 anos? Seria
ele um profeta? Não, acertar previsões não é coisa de profetas, e sim de indivíduos
conscientes; de indivíduos que tenham conseguido desenvolver a capacidade de
interpretar corretamente o mundo em que vivem. Vocês conseguem perceber que o
antídoto para os males apontados por Pasqualini como "possíveis criadores de uma grave situação
de insegurança que evoluiria para uma criminalidade irreprimível." é a
educação? Ou seja, será que Alberto Pasqualini concordaria com Celso Furtado e
Darcy Ribeiro? O que vocês acham?
"O carrasco pode suprimir o criminoso, mas a miséria mantém o crime.", disse Coelho Neto, entre 1864 e 1934.
A miséria mantém o crime, disse Coelho Neto. A
miséria (entre outros fatores) poderá criar uma criminalidade irreprimível,
disse Alberto Pasqualini. Será que alguém consegue não ver que os dois disseram
a mesma coisa? Será que uma criminalidade irreprimível significa que matar
criminosos jamais resolverá o problema da violência urbana, pois, da mesma
forma que enquanto houver milho haverá pipoca, enquanto houver miséria haverá
criminalidade? O que vocês acham?
"Por que consentir que os cidadãos se eduquem pessimamente e que seus costumes se vão corrompendo pouco a pouco desde seus mais tenros anos para castigá-los quando, já homens, cometerem delitos que se faziam esperar desde sua infância, que outra coisa é senão criar ladrões para depois castigá-los.", disse Thomas Morus, em 1516.
"Consentir que os cidadãos se eduquem pessimamente desde seus mais tenros anos para
castigá-los quando já forem homens; criar ladrões para depois castigá-los",
disse Thomas Morus, em 1516. O grifo é meu e tem a intenção de chamar atenção para
a afinidade da afirmação de Morus com as dos outros lúcidos indivíduos citados
na postagem. Educação com qualidade, eis a solução para o problema da violência
urbana.
Será que a pequena relação de afirmações
apresentada nesta postagem conseguirá elucidar o problema da violência urbana
que nos apavora cada vez mais?
Para ilustrar a
postagem, segue uma charge que, embora assinada por Carlos Latuff com
ano 2013, no meu entender, é uma ilustração perfeita para as palavras de Thomas
Morus em 1516. "(...) cometerem delitos que se faziam esperar desde sua
infância, que outra coisa é senão criar ladrões para depois castigá-los.".
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