quinta-feira, 20 de julho de 2017

O valor da amizade

Com a intenção de postar mensagens alusivas a datas comemorativas que eu considere significativas, neste Dia do Amigo, este blog espalha um artigo de Betty Milan, psicanalista e escritora, publicado na edição de 23 de dezembro de 2009 da revista Veja com o título O valor da amizade. Decorridos quase oito anos considero-o tremendamente válido.
O valor da amizade
"O amigo vê e ouve o que não somos capazes de ver nem ouvir. Assim sendo, pode fazer por nós o que não temos como fazer por nós mesmos"
A mesma palavra tem significados diferentes de acordo com o texto ou o discurso em que figura. A importância disso é capital, pois significa que, para interpretar uma palavra, precisamos nos debruçar sobre o contexto do qual ela faz parte ou escutar verdadeiramente quem a profere. Do contrário, não a entendemos. O ensinamento básico de Sigmund Freud é esse e bastaria para justificar a psicanálise, se isso ainda fosse necessário.
A maioria das pessoas, no entanto, não se dispõe a escutar. Poucos nascem com essa capacidade, que pode e precisa ser desenvolvida. Escutar é um ato generoso. Implica que eu deixe momentaneamente de falar e esteja aberto para o que o outro tem a dizer.
A escuta é a característica do psicanalista e também do verdadeiro amigo – que não impõe a sua presença, não diz o que não deve ser dito e, assim, faz com que a amizade floresça. Ou seja, o amigo sabe se conter, exercita-se na ética da contenção. Por isso, ele é de paz e a sua maneira de ser pode servir de modelo para todas as outras relações: marido e mulher, pais e filhos e irmãos.
O que o filósofo e historiador grego Xenofonte escreveu 2.400 anos atrás poderia ter sido escrito hoje: "Um bom amigo é o mais precioso de todos os bens. Está sempre pronto a auxiliar... Há homens, contudo, que investem toda a sua energia no cultivo de árvores para colher frutos, e são negligentes com o amigo, o bem que mais frutifica". O amigo vê e ouve o que não somos capazes de ver nem ouvir. Assim sendo, pode fazer por nós o que não temos como fazer por nós mesmos. Como o analista ele ilumina o caminho.
Ele sabe suspender o seu desejo para que o do outro se manifeste. O que ele mais quer é o acordo. Está menos interessado nos eventuais benefícios materiais que a amizade pode trazer do que no fortalecimento desta. Visa sobretudo ao contentamento do outro e não deve ser confundido com o cúmplice, que visa ao próprio interesse e se liga a alguém em função do que deseja alcançar.
O elo de cumplicidade tende a ser efêmero, enquanto o da amizade é para sempre. Em outras palavras, o amor dos amigos nunca é de agora, e sim para a vida inteira. Também por isso, há milênios a amizade inspira escritores, que se perguntam de que modo escolher um amigo, quais as características de um amigo verdadeiro e o que devemos a ele. Os escritores – os melhores, entre eles, - sabem que a amizade nasce espontaneamente, mas só dará os seus melhores frutos se for cultivada.
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"A maioria das pessoas não se dispõe a escutar. Poucos nascem com essa capacidade, que pode e precisa ser desenvolvida. Escutar é um ato generoso. Implica em deixar momentaneamente de falar e estar aberto para o que o outro tem a dizer. A escuta é a característica do psicanalista e também do verdadeiro amigo – que faz com que a amizade floresça.", afirma Betty Milan.
Provocada pela afirmação da psicanalista, deixo-lhes uma indagação. Será que uma sociedade tagarela em que todos falam e ninguém escuta constitui um ambiente propício ao florescimento da amizade?
"O verdadeiro amigo visa sobretudo ao contentamento do outro e não deve ser confundido com o cúmplice, que visa ao próprio interesse e se liga a alguém em função do que deseja alcançar. O elo de cumplicidade tende a ser efêmero, enquanto o da amizade é para sempre.", afirma Betty Milan.
Provocada por mais uma afirmação da psicanalista, deixo-lhes mais uma indagação. Em uma sociedade fissurada pelo descartável e pelo efêmero, qual dos dois elos tem maior probabilidade de ser criado: o de cumplicidade ou o da amizade?
"O elo de cumplicidade tende a ser efêmero, enquanto o da amizade é para sempre. Em outras palavras, o amor dos amigos nunca é de agora, e sim para a vida inteira. Também por isso, há milênios a amizade inspira escritores, que se perguntam de que modo escolher um amigo, quais as características de um amigo verdadeiro e o que devemos a ele. Os escritores – os melhores, entre eles, - sabem que a amizade nasce espontaneamente, mas só dará os seus melhores frutos se for cultivada", diz Betty Milan.
Ao falar em escritores e seu conhecimento de que a amizade só dará os seus melhores frutos se for cultivada, Betty me faz lembrar o extraordinário Antoine de Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe. "As pessoas já não têm tempo de conhecer nada. Preferem comprar tudo pronto nas lojas. Como não existem lojas que vendem amigos, as pessoas não têm mais amigos.". O que vocês acham dessa mensagem por ele deixada?
O valor da amizade, eis o título do artigo de Betty Milan apresentado nesta postagem. Título que, no meu entender, provoca mais duas indagações.
Será que nesta sociedade onde "a maioria das pessoas não se dispõe a escutar, é fissurada pelo descartável e pelo efêmero e, em nome da praticidade, prefere comprar tudo pronto", se a entendermos como algo que "só dará os seus melhores frutos se for cultivado", faz sentido considerarmos a amizade uma coisa que nela (nesta sociedade) é valorizada?
Será que nos dias de hoje faz sentido acreditar que a maioria das pessoas concorde com a afirmação feita por Betty Milan a partir de uma referência feita a Xenofonte? "O que o filósofo e historiador grego Xenofonte escreveu 2.400 anos atrás poderia ter sido escrito hoje: 'Um bom amigo é o mais precioso de todos os bens'.".
Será que, após a leitura do excelente artigo de Betty Milan e das indagações por ele provocadas, além de comemorativo devemos usar o Dia do Amigo também como um dia indagativo e reflexivo? Um dia para indagar – será que, para mim, a amizade é algo que, realmente, tem valor? E haja reflexão!

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