"Estamos
exaustos e correndo. Exaustos e correndo. Exaustos e correndo. E a má notícia é
que continuaremos exaustos e correndo, porque exaustos-e-correndo virou a
condição humana dessa época."
(Eliane Brum)
Esta postagem
apresenta um artigo de Guilherme Wisnik intitulado Superocupação improdutiva publicado na edição de 7 de março de 2016
do jornal Folha de S.Paulo.
Superocupação improdutiva
Por que é que nos sentimos cada vez mais
ocupados e, ao mesmo tempo, menos capazes de perceber o resultado palpável
daquilo que fazemos? Trata-se de uma estranha forma de vida em piloto
automático: quanto mais mensagens de e-mails você se dedicar a responder, mais
mensagens terá para responder de volta no dia seguinte.
Parece haver um sinistro paralelo entre a
desmaterialização das coisas sob a égide do capital financeiro e a
superocupação improdutiva do nosso cotidiano atual. Afinal, a economia
financeira não acrescenta riquezas ao mundo, mas, ao contrário, gera valor
especulando-o de forma predatória. Nós, igualmente, internalizamos o trabalho
em nosso cotidiano, colonizando os antigos momentos de ócio e de lazer com
atividades supostamente produtivas, e matando o tédio criativo com a permanente
e ansiosa comunicação de informações pela internet.
Esse é o tema do livro "Sociedade do
Cansaço" (Editora Vozes, 2015, 78 págs., R$ 22), de Byung-Chul Han,
filósofo sul-coreano radicado na Alemanha. Segundo Han, vivemos um momento de
importante quebra de paradigmas culturais, que vem substituindo os valores de
alteridade e de negatividade pela positividade homogeneizadora.
Assim, se o século 20 foi uma era
bacteriológica, baseada no paradigma bipolar da imunorreação do eu contra a
ameaça infecciosa do outro, as patologias contemporâneas são neuronais
(depressão, transtorno de déficit de atenção), causadas por excessos do próprio
eu contra si próprio.
Inaugurada pela queda de um muro, a nossa era
assiste à abertura desregulamentada do mundo para a promiscuidade da
globalização, em que tudo se equaliza.
Igualmente, o paradigma da sociedade disciplinar,
feita de hospitais, asilos, presídios, quartéis e fábricas, cede lugar a uma
sociedade do desempenho, povoada por academias fitness, torres de escritórios,
bancos, aeroportos e shopping centers. Empresários de si mesmos, seus
habitantes não são mais sujeitos da obediência, mas do desempenho e da produção
movidos pela energia motivacional: "Yes, we can". Incitados à
iniciativa pessoal, internalizam a disciplina sob a forma de uma aparente
liberdade de ação. Assim, enquanto a antiga sociedade gerava loucos e
delinquentes, a atual produz fracassados e depressivos, paralisados por uma
sociedade que crê que nada é impossível.
Daí a freqüente sensação de nos percebermos em
meio a uma bola de neve que cresce sem parar, na qual perdemos o controle das
ações. Respondendo sempre a coisas desencadeadas anteriormente, estamos fazendo
a roda da vida girar mas sem vislumbrar pontos de chegada, ou momentos
luminosos no caminho.
A atenção dispersa, na forma da multitarefa,
não é um progresso civilizatório, argumenta Han, e sim um retrocesso,
equivalente ao do animal que realiza suas tarefas sempre alerta ao regime da
sobrevivência. Frente ao sentimento atual de transitoriedade da vida e do
mundo, reagimos com a histeria hiperativa da produção, como uma forma de terapia
ocupacional. Mas a pura inquietação gerada pelo excesso de informações e de
estímulos é estéril. E, ao diminuir a atenção profunda, ela coloca em xeque o
lugar social da cultura e do pensamento que é também, no plano individual, o
lugar da constituição do sujeito.
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Ao livro no qual argumenta que a "A
atenção dispersa, na forma da multitarefa, não é um progresso civilizatório, e
sim um retrocesso, equivalente ao do animal que realiza suas tarefas sempre
alerta ao regime da sobrevivência.", o filósofo sul-coreano, radicado na
Alemanha, Byung-Chul Han dá o título Sociedade
do Cansaço.
Ao artigo elaborado a partir do livro Sociedade do Cansaço, Guilherme Wisnik
dá o título Superocupação improdutiva.
À "condição humana dessa época"
caracterizada pela insana prática de "estarmos exaustos e correndo,
exaustos e correndo, exaustos e correndo", a premiada jornalista e
escritora Eliane Brum dá a denominação "exaustos-e-correndo".
À sociedade em que sobrevivemos, e para a qual
considero válidos os títulos e a denominação citados nos parágrafos acima, também é válido
dar a denominação Sociedade da Insanidade?
O que vocês acham?
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