terça-feira, 20 de junho de 2017

Na loja de flores

Com a intenção de reforçar o espalhamento da ideia de que qualquer coisa que preste jamais nos será simplesmente dada e que sua obtenção requererá nossa participação em processos de construção coletiva, esta postagem apresenta dois episódios que têm muito a ver com o que acabo de dizer. O primeiro é apresentado em um artigo de Paulo Coelho, publicado na edição de 1º de abril de 2007 da Revista O Globo, com o título Na loja de flores. O segundo em uma passagem do filme "A Volta do Todo Poderoso", lançado em junho de 2007.
Na loja de flores
A mulher caminhava por um centro comercial quando reparou no cartaz: "Uma nova loja de flores." Ao entrar, levou um susto; não viu nenhum vaso, nenhum arranjo, mas era Deus, em pessoa, quem estava atendendo no balcão.
- Pode pedir o que quiser, disse Deus.
- Quero ser feliz. Quero paz, dinheiro, capacidade de ser compreendida. Quero ir para o céu quando morrer. E quero que tudo isso seja também concedido aos meus amigos.
Deus abriu alguns potes que estavam na prateleira atrás dele, tirou vários grãos de dentro e estendeu para a mulher.
- Aí estão as sementes – disse. – Comece a plantá-las, porque aqui nós não vendemos os frutos.
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O segundo episódio coincidentemente também apresenta uma inesperada visão de Deus tida por uma mulher. O primeiro episódio eu já encontrei com o título Na loja de flores. O segundo foi intitulado por mim. Em um lampejo de espantosa criatividade, intitulei-o No restaurante.
No restaurante
A esposa de Noé estava em um restaurante quando se viu diante de Deus, em pessoa. Visão que a levou a fazer-lhe o seguinte pedido: que a família ficasse mais unida quando mudasse para a nova casa. Pedido que levou Deus a dirigir-se à esposa de Noé falando-lhe assim:
- Deixe-me fazer uma pergunta.
- Se alguém rezar pedindo paciência acha que Deus dará paciência? Ou Deus dará a oportunidade de ser paciente?
- Se pedimos coragem, Deus nos dará coragem ou a oportunidade de sermos corajosos?
- Se alguém pede que a família seja mais unida, acha que Deus une a família com amor e alegria? Ou dá a eles a oportunidade de se amarem?
E diante das perguntas que Deus lhe faz, a esposa de Noé fica bastante pensativa.
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Diante das perguntas que Deus lhe fez, a esposa de Noé ficou bastante pensativa. E vocês, como ficaram após a leitura dos dois episódios em que, estando diante de Deus, em pessoa, duas mulheres fazem-lhe pedidos? Será que as pessoas que acreditam na existência de Deus conseguiram, a partir de tal leitura, ter um novo entendimento do que Deus espera delas? Espero que sim, pois foi com essa intenção que decidi espalhar tais episódios. Por quê? Porque enxergo neles a possibilidade de chamar a atenção das pessoas para algo que considero imprescindível aprendermos: abandonar a ideia de esperar que Deus nos dê prontas coisas que cabe a nós construir e, consequentemente, passar a atuar na construção de tais coisas.
Que coisas são essas? Coisas que começam pela construção de famílias unidas (algo pedido a Deus pela esposa de Noé), passam pela construção de boas organizações que serão esteios para uma boa sociedade (conforme defendem Geraldo R. Caravantes e Wesley E. Bjur em seu livro Magia & Gestão) e culminam na construção de algo que possa fazer jus ao termo civilização. O parágrafo abaixo foi copiado do livro Magia & Gestão.
"A boa sociedade não é uma dádiva, mas trata-se de um processo de construção coletivo, em que as boas organizações (lembre-se de que vivemos em uma sociedade organizacional) serão seus esteios. Por outro lado, entendem os autores que estas ficções legais, que chamamos organizações, são decorrência, por sua vez, de indivíduos que nelas atuam e, muito especialmente de suas lideranças. Ou, raciocinando pelo inverso: não vemos como obter uma sociedade saudável sem organizações saudáveis; nem tampouco organizações com alto desempenho, povoadas por indivíduos infelizes, subutilizados, impossibilitados de preencherem seu potencial. Entendemos e compartilhamos a visão de Aldous Huxley de que 'o objetivo da vida humana é concretizar potencialidades individuais ao máximo de seus limites'."
Reforçar o espalhamento da ideia de que qualquer coisa que preste jamais nos será simplesmente dada e que sua obtenção requererá nossa participação em processos de construção coletiva, eis a intenção desta postagem, conforme é dito na sua primeira frase. Intenção que, "brincando de Deus", enxergo como uma semente a ser espalhada por meio deste blog esperando que algum dia ela frutifique. Afinal, como digo em meu perfil no blog, "sou alguém que acredita que a qualidade de uma sociedade é resultado das ações de todos os seus componentes".

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