Cinema
é a maior diversão, mas pode ser convite à reflexão. Eis o título da
postagem publicada em 10 de agosto de 2011. "Concordando com 'Sir' Ben Kingsley,
o eterno Gandhi do cinema, meus filmes favoritos são aqueles que toquem o
coração e falem sobre a condição humana. Filmes que contribuam para nos tornar
pessoas superiores em termos espirituais, éticos e morais, e não apenas em
termos hierárquicos e financeiros. Tenho uma definição diferente para efeitos
especiais. Em minha opinião, efeitos especiais são aqueles cujo efeito seja a
transformação de pessoas comuns em seres humanos especiais.". Eis o texto que
coloquei no espaço a ser preenchido pelo mantenedor do blog com aqueles que
sejam seus filmes favoritos.
Dito isto, seguem as passagens do documentário
O Começo da Vida que, por terem me
tocado o coração, considero marcantes. A ordem de apresentação é a mesma em que
elas nele são exibidas. Obviamente, cada pessoa que assistir o documentário
descobrirá suas próprias passagens marcantes. Para quem quiser, segue o
endereço onde o assisti: https://www.youtube.com/watch?v=kQT-7AaphQk.
"Para os bebês, no nascimento e nos
primeiros anos de vida, o cérebro faz ligações entre os neurônios numa
velocidade impressionante. A cada segundo, o cérebro faz de setecentas a mil
conexões novas.", diz Jack P.
Shonkoff, M.D., diretor do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade
Harvard. "No cérebro dos bebês há muitas rotas e conexões possíveis
entre um neurônio e outro. Durante o desenvolvimento, as rotas que são muito
utilizadas são mantidas e reforçadas e as que são pouco utilizadas, pouco a
pouco, vão desaparecendo.", diz Alison
Gopnik, Ph.D., psicóloga e pesquisadora da Universidade da Califórnia. "O
afeto é a fita isolante das ligações entre os neurônios. Uma vez que você tenha
a ligação entre os neurônios, vem o afeto e faz com que aquela ligação seja tão
forte que ela nunca mais seja desfeita.", diz Flávio Cunha, Ph.D., economista da Universidade de Rice.
"A mãe é a principal responsável na
construção do capital humano investido no filho. E esse amor materno é
realmente uma parte importante da economia e que não é totalmente reconhecida
pela nossa sociedade.", diz James J.
Heckman, Ph.D., prêmio Nobel e professor de Economia da Universidade de Chicago.
"As pessoas perguntam pra mim – Vem cá! Quando
é que você volta... a trabalhar?! É como se você estivesse sem fazer... nada...
esse tempo todo, né! Mas você cuidar dos filhos, você dedicar um tempo...
considerável... da sua vida para cuidar dos seus filhos é considerado nada (!).
Cuidar dos seus filhos significa que você tá cuidando de pessoas que vão ser
futuros cidadãos,... se o sujeito vai votar,... se o sujeito vai botar fogo no
índio ou não vai botar fogo no índio. Você tá... você tá... simplesmente
trazendo gente,... tá formando a humanidade, cara (!),... e isso é nada (!), é
absolutamente nada (!) para a sociedade!", exclama uma mãe entrevistada.
"Esse mundo investe em satélites, enfim,
em diversas áreas para conhecer novos planetas e ir pra Marte, pra Lua, pra
Urano. A gente não vai investir na condição humana, na humanidade que está
nascendo?! Como é que a gente pode pensar num mundo de paz, de colaboração, de
bem-aventurança onde o começo da vida não é levado em conta?!", indaga Vera Cordeiro, M.D., física e fundadora da
Fundação Saúde da Criança.
"Uma das necessidades vitais da criança é
o enraizamento. Ela se sentir pertencente à vida, a uma família, a uma
história, a um chão. O avô, a avó, geralmente são os maiores contadores de
histórias. Ouvir essas histórias vai ampliando as margens da vida da criança e
o seu enraizamento, o seu pertencimento.", diz Severino Antônio, Ph.D., educador e escritor.
"Tem um provérbio africano que diz que é
necessária uma vila para criar uma criança. A criança chega com tanta energia,
com tanta criatividade que a mãe só não dá conta. Isso pro começo da vida. É
necessário o pai, a mãe, os avós, os vizinhos, a comunidade pra que essa
criança se desenvolva.", diz Vera
Cordeiro, M.D., física e fundadora da Fundação Saúde da Criança.
"Uma das grandes solidões do mundo
contemporâneo é a perda de comunidade. Perdemos esse sentido comunitário, a
criança precisa disso. Ela precisa de crianças, ela precisa de pessoas, não só
quando falta alguém da família, mas como um acréscimo; ela precisa dessa
ampliação. Isso muda tudo. Cada criança pertence à comunidade, pertence, na
verdade mesmo, pertence à humanidade inteira.", diz Severino Antônio, Ph.D., educador e escritor.
"Eu tomo conta do meu irmão e da minha irmã, sozinha, diz uma menina. Uma menina que diante da pergunta
- O que você estava fazendo em cima do telhado naquele dia? -, responde assim: Naquele
dia estava chovendo. A telha caiu, fez uma goteira e eu estava tentando
consertar. Uma menina que ao responder a pergunta - Qual o seu maior sonho? – proporciona
uma das passagens mais tristes do documentário. "Não tenho sonhos.",
responde ela. É muito triste ouvir uma criança declarar que não
tem sonhos. Que mundo é esse que possibilita algo tão sinistro? – pergunto eu.
"Crianças não são criadas pelo governo, mas por pessoas; não são
criadas por instituições, mas por indivíduos. No final, grande parte disso é
como os adultos mais importantes na vida das crianças estão provendo o que elas
precisam. Mas o problema é quando a sociedade critica os adultos que não dão às
crianças o que elas precisam ou quer puni-los ou não quer ajudá-los. Posso
ajudar as crianças, mas não vou ajudar os adultos. A ciência diz que se não se
pode ajudar as crianças sem ajudar os adultos que cuidam delas. Crianças não
são ajudadas por programas, mas por pessoas. As consequências de não dar às
crianças o que precisam custam muito para a sociedade. E mesmo para as pessoas
que dizem - eu cuido bem dos meus filhos, eu dou duro, as coisas não vêem assim
tão fácil, mas eu estou cuidando bem deles, não é justo me pedir para me
responsabilizar pelo que os outros não fazem pelos filhos, eu estou preocupado
com os meus -, a resposta é: a vida dos seus filhos quando crescerem será mais
fácil ou difícil com base em quantas pessoas da idade deles estão contribuindo
ou na verdade são um peso para a sociedade.", diz Jack P. Shonkoff, M.
D., diretor do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade Harvard.
"Eu não acredito em criança negligenciada pela mãe, eu acredito em
criança negligenciada pelo ambiente. Se uma mãe negligencia a criança a ponto
de ela ficar sem saída, cadê as outras pessoas? Uma criança não é só filha de
uma mãe, ela é neta de alguém, ela é sobrinha de alguém, ela é vizinha de
alguém, ela é cidadã de algum lugar, ela tem uma nacionalidade. Quer dizer, a
gente nunca pode pensar na negligência só um pra um.", diz Vera
Iaconelli, Ph.D., psicóloga e diretora do Instituto GERAR.
"Uma vez Albert Einstein foi entrevistado por um jornalista e o
jornalista perguntou – Professor Einstein, se você tivesse apenas uma pergunta
a fazer sobre o Universo, qual seria ela? Ele esperava uma pergunta muito sofisticada
e Einstein respondeu que a pergunta seria – O Universo é amigável?", diz Stanislav Grof, M.D., psiquiatra do Instituto de Estudos Integrais da
Califórnia.
"Nos Estados Unidos fizemos um estudo que
mostra o benefício de um dólar investido nos primeiros anos na vida de uma
criança. Quais são os efeitos em termos de redução de crimes, na redução de
custos de encarceramento. Descobrimos que para cada dólar investido retornavam
por volta de sete dólares. A margem de rendimento é basicamente quanto se ganha
por ano para cada dólar investido. Uma caderneta de poupança pode ganhar três,
quatro, cinco por cento ao ano. O que descobrimos foi algo entre sete e dez por
cento, de rendimento ao ano, o que é um rendimento muito alto. Bem mais do que
a nossa bolsa de valores. É dar às pessoas a capacidade de serem autônomas, de
lidarem com os desafios da vida, ao mesmo tempo tornando-as mais produtivas e
assim reduzindo a desigualdade social.", diz James J. Heckman, Ph.D., prêmio Nobel e professor de Economia da Universidade
de Chicago.
"Então, quando ajudamos a criança e
quando investimos... na primeira infância estamos investindo... na sociedade
como um todo. Na verdade,... se mudarmos o começo da história mudamos a história
toda... pra melhor.", diz Raffi
Cavoukian, fundador do Centro para Honra das Crianças, encerrando o
documentário.
E para encerrar esta não curta postagem recorro
a uma indagação: Será que a concretização da esperança de que dias melhores virão depende da nossa participação
para "mudarmos a história toda... pra melhor"? Em uma antiga e belíssima
canção intitulada Depende de nós,
Ivan Lins responderia afirmativamente à indagação. E vocês, como a responderão?
Nenhum comentário:
Postar um comentário