"Tornou-se
inconcebível que ainda sejamos tão céticos e fechados para a percepção da
realidade maior, que transcende a matéria, pois é esse fechamento que nos
impede de ter acesso ao propósito da vida." Por que inicio esta postagem
com a última frase do texto de Sri Prem Baba espalhado duas
postagens atrás? Porque, enquanto tal frase faz referência à realidade
maior, que transcende a matéria,
esta postagem focaliza a realidade, digamos, menor; a realidade que, embora
esteja ao nosso redor, é por nós ignorada.
O texto apresentado a seguir é a íntegra de
uma reportagem de Daniel Buarque, publicada na edição de 14 de dezembro de 2016
do jornal Folha de S.Paulo.
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Mundo é ignorante sobre realidade, diz pesquisa
Brasil é
6º pior em estudo em 40 países com perguntas sobre o perfil da população
No ano em que o termo "pós-verdade"
se tornou um dos mais repetidos – em referência ao menosprezo da opinião
pública por fatos objetivos -, uma pesquisa realizada em 40 países revela um
amplo desconhecimento das pessoas sobre a realidade vivida por elas mesmas.
A pesquisa "Os Perigos da Percepção",
realizada pelo instituto Ipsos Mori, avaliou o conhecimento geral e a
interpretação que as pessoas fazem sobre o país em que vivem e comparou esta
percepção com dados oficiais de cada país. O resultado indica que as pessoas
têm uma interpretação muito equivocada da realidade.
Entre os temas abordados, o levantamento
mostra que a maioria dos países acredita que a riqueza é mais bem distribuída
do que ela de fato é. Além disso, pensam que a população do lugar onde vivem é
menos feliz do que elas dizem ser, acham que a proporção de muçulmanos na
sociedade é bem maior do que a realidade e que as pessoas são menos tolerantes
em relação à homossexualidade, aborto e sexo antes do casamento do que elas de
fato são.
Segundo um dos diretores do Ipsos, Bobby
Duffy, os erros na percepção podem ser justificados por uma sobrevalorização
dos temas que preocupam a sociedade.
A partir dos dados coletados no levantamento e
da sua comparação com dados reais, a pesquisa traçou o "índice de
ignorância", listando os países em que a percepção é mais distante da
realidade. A Índia aparece em primeiro lugar na lista, seguida pela China e por
Taiwan. Na ponta oposta do índice, Holanda, Reino Unido e Coreia do Sul
aparecem como países menos ignorantes. O Brasil aparece em sexto lugar, logo
após os EUA.
O levantamento ouviu 27.250 pessoas entre
setembro e novembro deste ano em 40 localidades usando uma combinação de
métodos, incluindo pesquisas online, pelo telefone e presencial.
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"Mundo
é ignorante sobre realidade", diz pesquisa realizada pelo instituto
Ipsos Mori entre setembro e novembro de 2016. O levantamento ouviu 27.250
pessoas situadas em 40 países usando uma combinação de métodos, incluindo
pesquisas online, pelo telefone e presencial. Intitulada Os Perigos da Percepção, "o resultado da pesquisa indica que
as pessoas têm uma interpretação muito equivocada da realidade", diz
Daniel Buarque, autor da reportagem.
Será que para fazer
tal descoberta era necessário entrevistar tanta gente? Creio que não, e
explico. Se os profissionais do referido instituto conhecessem Carlos Alberto
Parreira ou tivessem lido uma entrevista concedida por ele ao jornal Folha
de S.Paulo, publicada na
edição de 15 de agosto de 1994 (após
a conquista da copa do mundo), teriam feito
tal descoberta sem trabalho algum, baseando-se apenas nas seguintes palavras de
Parreira.
Folha – O que sentia quando era xingado de burro?
Parreira – Era para eu ter ficado abatido, mas
criei forças interiores. Continuo afirmando: a população é uma caixa de
ressonância sem opinião própria, reflete o que ouve. O cara vai ao Maracanã,
está vendo o jogo, mas fica com o radinho de pilha na orelha. É importante que
alguém diga a ele o que ele está vendo. Ele não tem condições de analisar, acha
que o Flamengo está jogando bem porque o rádio está dizendo.
Ou seja, há 22 anos, o referido técnico já conhecia a ignorância sobre realidade "descoberta"
pela pesquisa citada na reportagem. De futebol, Parreira pode até não entender
muito (o fiasco na copa de 2006 aponta para isso), mas de população ele entende
bastante, como demonstra sua afirmação: "A população é uma caixa de
ressonância sem opinião própria, reflete o que ouve". E por não ter
opinião própria ela propicia as condições ideais para a existência de um
nefasto tipo de profissionais: os formadores de opinião. Formadores de opinião
e ignorância da população, tudo a ver! Por quê? Porque ignorância combate-se
com estimuladores de reflexão e não com formadores de opinião.
"Mundo é ignorante
sobre realidade", diz pesquisa. Ignorância, em enorme parte, produzida
e mantida por formadores de opinião atuantes em meios de comunicação a serviço
dos que se consideram os donos do mundo. De um mundo que, convenientemente para
tais donos, "é ignorante sobre a realidade", pois, a partir do
momento em que uma parcela significativa deste mundo adquirir consciência da
realidade em que sobrevive, creio que dificilmente ela deixará de envidar
esforços no sentido de mudá-la.
Refletir sobre tudo que se vê; que se ouve; que se lê, eis a
prática sugerida para livrar o mundo da ignorância da realidade. E como um
exercício para a prática sugerida, que tal refletir sobre tudo que é dito nesta
postagem, pois, no meu entender,
aceitar o que quer que seja, vindo de quem quer que venha, sem a prática da
reflexão, jamais contribuirá para afastar deste mundo a ignorância sobre a
realidade. No meu entender! E no de
vocês? Ou seja, eis mais uma afirmação que requer reflexão, não é mesmo?
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