Talvez o maior
infortúnio do ser humano tenha sido, em algum momento da sua jornada, ter
acreditado ser o centro da criação. Nossa inteligência nos proporcionou muitas
conquistas. Conseguimos um certo domínio sobre a matéria e com isso passamos a
agir como se a natureza existisse somente para nos servir. O ego, enquanto
símbolo da individualidade, tomou conta da nossa experiência na Terra. Essa
visão limitada nos conduziu ao esquecimento de quem somos e do que viemos fazer
aqui. E hoje sofremos de uma profunda doença chamada egoísmo, que nos leva a
manifestar um grau insustentável de desrespeito à natureza e aos outros seres
humanos, além de uma profunda ignorância em relação ao significado da vida.
No
decorrer dos séculos, temos usado nossa inteligência para reafirmar essa visão
autocentrada e para provar que somos superiores a tudo e a todos. O ego, que é
apenas um veículo para a experiência da alma neste plano, tornou-se o imperador
máximo, e o individualismo tomou proporções brutais. Perdemos a conexão com
nossa identidade espiritual e com a própria razão de estarmos aqui. Deixamos de
nos questionar sobre o sentido da vida, e isso aprofundou o esquecimento da
nossa essência e dos valores intrínsecos a ela.
A teoria
que considera o universo como o produto de um acidente cósmico (o Big Bang)
sustenta a visão materialista de que não existe um propósito para a vida. Se
somos produto de um acidente, estamos aqui por acaso. E se estamos aqui por
acaso, não há um propósito para a nossa existência. Essa ideia, porém, decorre
da nossa capacidade de explicar, através dos métodos científicos, o que está
por trás do mistério da criação. E isso é o que nos leva a negar o espírito e a
acreditar que não existe nada além do corpo e da matéria. Mas esse materialismo
é o que tem impedido a nossa evolução, não somente espiritual, mas também
material! Porque, dessa maneira, estamos nos tornando cada vez mais cegos e
ignorantes em relação ao nosso próprio poder.
A ideia de
que somos apenas um corpo combinada à crença de que somos superiores a tudo é o
que sustenta a indiferença diante da destruição do nosso planeta e o ceticismo
em relação à espiritualidade. Desconsiderando até mesmo as descobertas não tão
recentes da Física, continuamos cultivando uma visão estritamente materialista
da vida. Enquanto indivíduos e sociedade, seguimos negando a existência de um
espírito único que dá vida e interconecta todos os seres vivos e a natureza.
Tudo isso,
porém, faz parte dos desafios da experiência humana na Terra, pois nós estamos
aqui justamente para realizar a lembrança de quem somos e do que viemos fazer.
O esquecimento, apesar de ser um instrumento de aprendizado nesse jogo da vida,
quando levado ao extremo, se torna um grande obstáculo para a expansão da
consciência. E, neste momento, a humanidade está tomada pelo esquecimento. A
maioria não tem a mínima ideia do que veio fazer aqui e nem chega a se
perguntar.
Estamos
nos aproximando de um ponto crítico, no qual uma virada se faz necessária. É
como se estivéssemos mais perto do final de um grande projeto e estivéssemos
sendo pressionados a cumprir nossa missão. Alguns dizem que o prazo final já
passou e que não tem mais jeito. Outros acreditam que ainda temos chances de
realizar nossa meta. Eu acredito que, para sermos bem-sucedidos, precisaremos
passar por grandes transformações. Em primeiro lugar, precisamos nos abrir para
a verdade de que somos seres espirituais vivendo uma experiência material na
Terra e que nós todos temos uma missão comum, porque, sem essa consciência, estamos
fadados à extinção.
Quem sou eu? O que eu vim fazer aqui?
É parte da
nossa missão chegar à resposta para essas perguntas. Estamos constantemente
sendo levados a questionar e a encontrar soluções para questões como essas. O
tempo todo somos convidados a perceber e compreender o Mistério. A natureza tem
enviado mensagens bem claras de que chegou a hora de despertar do sonho do
esquecimento e de acordar para a realidade. Tornou-se inaceitável que, com
tanta informação disponível sobre a insustentabilidade do nosso estilo de vida,
continuemos agindo sem a mínima consciência ecológica. Tornou-se inconcebível
que ainda sejamos tão céticos e fechados para a percepção da realidade maior,
que transcende a matéria, pois é esse fechamento que nos impede de ter acesso
ao propósito da vida.
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O texto apresentado
acima é o início da introdução do excelente livro de Sri Prem Baba intitulado Propósito – A coragem
de ser quem somos, publicado pela editora Sextante. Um texto que me faz lembrar
várias ideias espalhadas por este blog e que as reforça muito bem. A intenção
era espalhá-lo acompanhado das reflexões por ele provocadas, porém,
considerando o tamanho atingido pela postagem, se assim fosse feito, creio que
o melhor a fazer seja compartilhá-las por meio de uma postagem do tipo Reflexões provocadas por "...".
Um comentário:
Belissimo texto. Se vc tiver mais trechos desse livro poderia me mandar por favor? raqrocha1@gmail.com
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