Após alertar para a inconsequência de
perambular por aí sem notar que está sem a sua cabeça
e para os males advindos do desvio pelo torpor, este blog apresenta
a solução para os nossos conflitos.
Solução encontrada em um texto publicado na edição de OUT – DEZ / 2005 da revista SOPHIA, atribuído a Jiddu Krishnamurti (1895 – 1986), filósofo, educador e
conferencista indiano que, por quase sessenta anos, viajou pelo mundo falando
para grandes audiências sobre a necessidade de uma mudança radical no
comportamento da humanidade. Um texto no qual ele diz "que antes de agirmos e nos relacionarmos uns
com os outros – o que constitui a sociedade – é essencial começar a compreender
a nós mesmos; que antes que
possamos construir algo, precisamos saber o que somos".
Com a finalidade de não desanimar leitores de pouco fôlego, mais uma vez
recorro ao método Jack: vamos por partes. Sendo assim, segue a primeira de duas
postagens nas quais dividi o texto.
Solução para os nossos conflitos
É muito importante ser sincero no mais
alto grau. Eu gostaria de saber se há realmente um interesse sincero em ir de
um conferencista para outro, em passar de um guia para outro, em frequentar
grupos e organizações diferentes na busca de alguma coisa. Antes de avaliar o
que significa estar interessado, precisamos saber o que procuramos.
O que a maioria de nós procura? O que
desejamos? É muito importante definir isso. A maioria de nós provavelmente anda
à procura da paz e felicidade, num mundo atormentado por agitações, guerras e
disputas. Todos querem um refúgio onde se encontre um pouco de paz. Saímos, portanto,
em busca do que desejamos, indo ora a um guia, ora a outro, ora a uma
organização religiosa, ora a outra.
Estamos buscando a felicidade ou apenas
alguma espécie de satisfação, que esperamos que nos proporcione a felicidade?
Existe uma diferença entre felicidade e satisfação. Pode-se procurar a felicidade? É possível
encontrar satisfação, mas é impossível achar
a felicidade. A felicidade é derivada, é um subproduto de uma outra coisa.
Por isso, antes de empenhar a mente e o
coração em uma tarefa que exige grande atenção e cuidado, precisamos verificar
se o que procuramos é felicidade ou satisfação. Parece que a maioria de nós
está à procura de satisfação. Queremos nos sentir satisfeitos e encontrar um
sentimento de plenitude, no fim da nossa busca.
Pode-se procurar alguma coisa? Por que
razão as pessoas comparecem às minhas palestras? Eu gostaria de saber por que
elas se dão o incômodo de percorrer longas distâncias, em dias de calor, para
me ouvir falar. Com que propósito elas escutam? Estão procurando uma solução
para suas dificuldades? É isso que as faz ir de um conferencista a outro,
passar por várias organizações religiosas, ler livros, etc? Ou querem descobrir
a causa de todas as dificuldades, aflições, disputas e lutas? Para isso não é
preciso ler muitos livros, frequentar tantas reuniões ou andar à procura de um
instrutor.
O que se requer talvez seja,
simplesmente, clareza de propósito. Afinal quem busca a paz pode encontrá-la
facilmente. Qualquer um é capaz de se devotar cegamente a uma causa ou a uma
ideia, e nela se abrigar. Mas isso, naturalmente, não resolve o problema. O
isolamento ou enclausuramento numa ideia não significa libertação dos
conflitos. Portanto, precisamos saber o que cada um de nós deseja, tanto
interior quanto exteriormente.
Se temos clareza a esse respeito, então
não é necessário ir a parte alguma, a nenhum instrutor, igreja ou organização.
Nossa dificuldade é ter clareza sobre as nossas intenções. Podemos ter essa
clareza? Será que ela vem como resultado do que os outros dizem, seja o
instrutor mais sublime ou o pregador medíocre? Precisamos recorrer a alguém
para descobrir alguma coisa?
É isso, entretanto, o que estamos
fazendo. Lemos livros e mais livros, frequentamos reuniões, discutimos e
tentamos, dessa maneira, achar um remédio para os conflitos e as atribulações
da vida. Ou pensamos que já achamos uma organização, instrutor ou livro que nos
satisfaz, e aí ficamos, cristalizados e fechados.
Na verdade, temos que nos perguntar, com
real interesse e profundidade, se a paz, a felicidade, Deus, ou o que quer que
seja, pode nos ser dado por outra pessoa. Essa busca incessante, essa constante
aspiração, pode nos dar aquele extraordinário senso da realidade, aquele Ser
criador que se manifesta quando verdadeiramente compreendemos a nós mesmos? O
autoconhecimento vem como resultado da nossa busca, de seguir outra pessoa, de
pertencer a uma organização, de ler livros, etc?
Essa é, afinal de contas, a questão
principal: enquanto eu não compreender a mim mesmo, não terei base para o
pensamento, e a minha busca fracassará. Posso me refugiar em ilusões, fugir das
lutas e disputas, render culto a outro indivíduo, procurar a salvação em outra
pessoa. Mas enquanto desconhecer a mim mesmo, enquanto desconhecer todo o
processo da minha consciência, não terei base alguma para o pensamento, para o
afeto e para a ação.
Parece que o que menos desejamos é
conhecer a nós mesmos. Mas essa é a única base sobre a qual podemos construir
algo. Antes que possamos construir, precisamos saber o que somos.
"Parece que o que
menos desejamos é conhecer a nós mesmos. Mas essa é a única base sobre a qual
podemos construir algo. Antes que possamos construir, precisamos saber o que
somos."
Continua na próxima quinta-feira
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