sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Albert Schweitzer - Um integrante da boa elite (II)

Continuação de domingo
Na semana santa de 1913, Albert e sua esposa Hélène deixaram Günsbach em direção a Bordéus e, de lá, em 26 de março, iniciaram viagem em direção ao Gabão. Chegando ao Gabão, a recepção foi cordial e logo a Missão se encarregou de levá-los a uma pequena barraca que, a partir daquele momento, seria o seu lar. No dia seguinte, ele defrontou-se com o primeiro obstáculo: a Missão não cumprira a promessa que lhe havia feito de construir um hospital onde ele pudesse dar início imediato a sua tarefa. Então, ele resolveu que passaria a atender os doentes ao ar livre, confiando em Deus.
À medida que o tempo foi passando, ficou evidente que os cuidados médicos não poderiam continuar a ser dados daquela maneira. Então, Schweitzer lembrou que a Missão tinha um velho galinheiro abandonado há muito tempo e não vacilou. Caiou as paredes e, com madeiras rústicas, improvisou uma maca e algumas prateleiras, dando início às consultas nesse acanhado local, consultas essas que se iniciavam pela manhã e se estendiam até a noite.
Considerando que a quantidade de enfermos não parava de crescer, Schweitzer não teve alternativa senão solicitar uma solução ao Centro da Missão, localizado a 55 km de distância. Entretanto, o sacrifício de ir até Samkita acomodado em uma pequena canoa teve um ótimo resultado. Após uma semana de conversação, ele voltou com a permissão de construir um hospital e mais 4.000 francos para dar início ao projeto. Depois, alguns amigos de Schweitzer ofereceram donativos. Superando as mais diversas dificuldades, enfim, foram construídas, primeiramente, duas grandes salas, depois, mais duas menores onde foram colocadas prateleiras para o estoque dos medicamentos. O assoalho era de cimento, o que facilitava a higienização do ambiente.
Em 1914, com o mundo às voltas com a Primeira Guerra Mundial, certo dia Schweitzer foi procurado por um comandante francês acompanhado de um pequeno grupo de indígenas armados. De fisionomia fechada, o comandante lhe disse secamente:
- Considerando que ambos (Albert e Hélène) são cidadãos alemães – um país inimigo – as autoridades decidiram que, a partir desse momento, suas atividades estão suspensas, e também não deverão manter contato com nenhum cidadão francês, seja negro ou branco. A seguir, atendendo às novas ordens, colocaram o casal sob a vigilância de um guarda armado.
Em um dos primeiros dias de 1915, Schweitzer foi surpreendido por uma ordem que chegara da Europa: "Todos os cidadãos alemães que estivessem no Gabão deveriam ser considerados prisioneiros de guerra, e, por isso, devolvidos à França." Dessa forma, ele e Hélène deveriam embarcar imediatamente escoltados por uma guarda armada. Dias depois foi assaltado por outra surpresa: chegando a Bordéus, foram enviados, imediatamente para um campo de concentração localizado nos Pirineus, onde as celas, em péssimo estado de conservação, com portas e janelas quebradas, mal podiam ser abertas.
O tempo prosseguiu em sua marcha inexorável e um dia, Albert e Hélène tiveram a impressão de que os tempos de dor começariam a ser aliviados ao serem notificados da transferência dos dois para o campo de concentração situado em Saint-Remy de Provence, o qual fora reservado para os prisioneiros alsacianos. Essa medida proporcionou ao casal uma imensa satisfação, pois ali encontrariam, naturalmente, muitos antigos amigos. Pouco tempo antes do armistício, houve uma troca de prisioneiros entre a França e a Alemanha, o que deu motivo à libertação dos que estavam aprisionados em Saint-Remy de Provence.
Em 14 de janeiro de 1919, Albert e Hélène viveram um momento de intensa felicidade com o nascimento da filha Rhena. Os tempos passados nos campos de concentração e o clima agressivo da África haviam abalado a saúde do casal, entretanto, contando com o auxílio de amigos, conseguiram vencer as dificuldades e logo lhes voltou o entusiasmo pelo trabalho. Após conseguir um emprego, Schweitzer voltou a pensar na sua volta a Lambaréné, pensando seriamente em fazê-lo baseado em um projeto mais ousado. Para alcançar seus objetivos, passou a percorrer a Europa realizando conferências a fim de apresentar as dificuldades existentes na África, onde havia uma premente necessidade de médicos. Ao final de tais conferências, passou a receber não somente ajuda, mas igualmente, encorajamento para prosseguir na realização de seus propósitos humanitários.
Certo dia chegou às suas mãos um convite para realizar um concerto na Suécia. Há muito tempo ele não tocava Bach, mas ao pensar que este convite era mais um auxílio para sua volta à Lambaréné, a fim de prosseguir na realização de seu ideal interrompido, decidiu vencer seus temores e o aceitou. O sucesso alcançado neste primeiro concerto o encorajou a falar àquele mesmo público sobre o Gabão, despertando ainda mais admiração em torno dele e criando, assim, oportunidade para novos concertos e conferências. Construída essa base – música e solidariedade – foi fácil criar uma Associação de Amigos de Lambaréné, cuja finalidade era angariar fundos para reorganizar o hospital, com a volta de Schweitzer ao Gabão.
Em meados de 1923, ele decidiu voltar à África. Para tanto, achou imprescindível especializar-se em obstetrícia e odontologia, além de aprofundar seus estudos em doenças tropicais. Pensando na reorganização do hospital, começou a pesquisar de que modo poderia encaminhar para Lambaréné todo o material necessário. Para isso, a Associação de Amigos de Lambaréné não economizou donativos, e, com todo esse auxílio, ele decidiu que tornaria realidade a sua volta, mas que Hélène só se reuniria a ela quando Rhena estivesse um pouco mais crescida e suficientemente forte para enfrentar o clima africano.
Continua, e termina, na próxima quinta-feira

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