Continuação de domingo
Na semana santa de
1913, Albert e sua esposa Hélène deixaram Günsbach em direção a Bordéus e, de
lá, em 26 de março, iniciaram viagem em direção ao Gabão. Chegando ao Gabão, a
recepção foi cordial e logo a Missão se encarregou de levá-los a uma pequena
barraca que, a partir daquele momento, seria o seu lar. No dia seguinte, ele
defrontou-se com o primeiro obstáculo: a Missão não cumprira a promessa que lhe
havia feito de construir um hospital onde ele pudesse dar início imediato a sua
tarefa. Então, ele resolveu que passaria a atender os doentes ao ar livre,
confiando em Deus.
À medida que o tempo
foi passando, ficou evidente que os cuidados médicos não poderiam continuar a
ser dados daquela maneira. Então, Schweitzer lembrou que a Missão tinha um
velho galinheiro abandonado há muito tempo e não vacilou. Caiou as paredes e,
com madeiras rústicas, improvisou uma maca e algumas prateleiras, dando início
às consultas nesse acanhado local, consultas essas que se iniciavam pela manhã
e se estendiam até a noite.
Considerando que a
quantidade de enfermos não parava de crescer, Schweitzer não teve alternativa
senão solicitar uma solução ao Centro da Missão, localizado a 55 km de distância.
Entretanto, o sacrifício de ir até Samkita acomodado em uma pequena canoa teve
um ótimo resultado. Após uma semana de conversação, ele voltou com a permissão
de construir um hospital e mais 4.000 francos para dar início ao projeto.
Depois, alguns amigos de Schweitzer ofereceram donativos. Superando as mais
diversas dificuldades, enfim, foram construídas, primeiramente, duas grandes
salas, depois, mais duas menores onde foram colocadas prateleiras para o
estoque dos medicamentos. O assoalho era de cimento, o que facilitava a
higienização do ambiente.
Em 1914, com o mundo
às voltas com a Primeira Guerra Mundial, certo dia Schweitzer foi procurado por
um comandante francês acompanhado de um pequeno grupo de indígenas armados. De
fisionomia fechada, o comandante lhe disse secamente:
- Considerando que
ambos (Albert e Hélène) são cidadãos alemães – um país inimigo – as autoridades
decidiram que, a partir desse momento, suas atividades estão suspensas, e
também não deverão manter contato com nenhum cidadão francês, seja negro ou
branco. A seguir, atendendo às novas ordens, colocaram o casal sob a vigilância
de um guarda armado.
Em um dos primeiros dias de 1915,
Schweitzer foi surpreendido por uma ordem que chegara da Europa: "Todos os
cidadãos alemães que estivessem no Gabão deveriam ser considerados prisioneiros
de guerra, e, por isso, devolvidos à França." Dessa forma, ele e Hélène
deveriam embarcar imediatamente escoltados por uma guarda armada. Dias depois
foi assaltado por outra surpresa: chegando a Bordéus, foram enviados,
imediatamente para um campo de concentração localizado nos Pirineus, onde as
celas, em péssimo estado de conservação, com portas e janelas quebradas, mal
podiam ser abertas.
O tempo prosseguiu em sua marcha inexorável e um dia, Albert e
Hélène tiveram a impressão de que os tempos de dor começariam a ser aliviados
ao serem notificados da transferência dos dois para o campo de concentração
situado em Saint-Remy de Provence, o qual fora reservado para os prisioneiros
alsacianos. Essa medida proporcionou ao casal uma imensa satisfação, pois ali
encontrariam, naturalmente, muitos antigos amigos. Pouco tempo antes do
armistício, houve uma troca de prisioneiros entre a França e a Alemanha, o que
deu motivo à libertação dos que estavam aprisionados em Saint-Remy de Provence.
Em 14 de janeiro de 1919, Albert e
Hélène viveram um momento de intensa felicidade com o nascimento da filha
Rhena. Os tempos passados nos campos de concentração e o clima agressivo da
África haviam abalado a saúde do casal, entretanto, contando com o auxílio de
amigos, conseguiram vencer as dificuldades e logo lhes voltou o entusiasmo pelo
trabalho. Após conseguir um emprego, Schweitzer voltou a pensar na sua volta a Lambaréné,
pensando seriamente em fazê-lo baseado em um projeto mais ousado. Para alcançar
seus objetivos, passou a percorrer a Europa realizando conferências a fim de
apresentar as dificuldades existentes na África, onde havia uma premente
necessidade de médicos. Ao final de tais conferências, passou a receber não
somente ajuda, mas igualmente, encorajamento para prosseguir na realização de
seus propósitos humanitários.
Certo dia chegou às suas mãos um
convite para realizar um concerto na Suécia. Há muito tempo ele não tocava
Bach, mas ao pensar que este convite era mais um auxílio para sua volta à Lambaréné,
a fim de prosseguir na realização de seu ideal interrompido, decidiu vencer
seus temores e o aceitou. O sucesso alcançado neste primeiro concerto o
encorajou a falar àquele mesmo público sobre o Gabão, despertando ainda mais
admiração em torno dele e criando, assim, oportunidade para novos concertos e
conferências. Construída essa base – música e solidariedade – foi fácil criar
uma Associação de Amigos de Lambaréné, cuja finalidade era angariar fundos para
reorganizar o hospital, com a volta de Schweitzer ao Gabão.
Em meados de 1923, ele decidiu voltar
à África. Para tanto, achou imprescindível especializar-se em obstetrícia e
odontologia, além de aprofundar seus estudos em doenças tropicais. Pensando na
reorganização do hospital, começou a pesquisar de que modo poderia encaminhar
para Lambaréné todo o material necessário. Para isso, a Associação de Amigos de
Lambaréné não economizou donativos, e, com todo esse auxílio, ele decidiu que
tornaria realidade a sua volta, mas que Hélène só se reuniria a ela quando
Rhena estivesse um pouco mais crescida e suficientemente forte para enfrentar o
clima africano.
Continua, e termina, na
próxima quinta-feira
Nenhum comentário:
Postar um comentário