domingo, 4 de setembro de 2016

Albert Schweitzer - Um integrante da boa elite (I)

Soa-lhes estranho o título? Pela grafia do sobrenome de Albert ou pela adjetivação de elite? Sim, no meu entender, existem dois tipos de elite, e eu explico. Segundo um antigo dicionário Aurélio que me foi presenteado pelo ex-colega de trabalho e amigo Ricardo Wilson, existem dois significados para elite. "O que há de melhor em uma sociedade ou num grupo. / Minoria prestigiada e dominante no grupo, constituída de indivíduos mais aptos e / ou mais poderosos.". Entre os dois, enxergo uma brutal diferença. Enquanto ser o que há de melhor em uma sociedade, no meu entender, remete a alguém que coloque suas maiores capacidades a serviço dos menos aquinhoados; ter mais aptidão e mais poder, (considerando a quase totalidade dos que têm tais capacidades) remete a indivíduos que coloquem suas maiores capacidades a serviço da exploração dos menos aquinhoados. Sendo assim, entendendo que existem esses dois tipos de elite, classifico-os como boa elite e má elite, ok?
A intenção desta postagem é, a partir de algumas exemplares passagens de sua vida, explicar como Albert Schweitzer tornou-se um dos melhores seres que já passaram por esta dimensão deste planeta. Ou seja, como ele tornou-se um integrante da boa elite. Por que foi publicada neste dia? Porque foi em um dia 4 de setembro (de 1965) que Schweitzer deixou esta dimensão para ir praticar sua elite moral em outra. Daqui em diante, o texto é uma compilação de trechos do livro Albert Schweitzer – Uma Vida Chamada Amor, de Brunilde Mendes do Espírito Santo. Um texto que, considerando que seria publicado em um blog, foi dividido em três partes originando, digamos, uma trilogia.
Em 14 de janeiro de 1875, nascia, na pequena cidade de Kaysersberg, na Alsácia superior (Região da Europa que, durante anos, pertenceu ora à França, ora à Alemanha, e que na época pertencia à Alemanha), um menino que deixaria no mundo a marca indelével da luta de um homem para atingir seu ideal. Filho do pároco (e professor) da pequena comunidade evangélica da cidade na qual a maioria dos habitantes era católica, aos oito anos, Albert Schweitzer pediu ao pai um exemplar do Novo Testamento. A partir daí, todos os dias lia uma parte com muita atenção, fazendo íntimas indagações que já revelavam um raciocínio lúcido e um sentimento de compaixão que, através do tempo, se desenvolveria, estruturando futuros ideais.
Em torno dos dezoito anos, Schweitzer passou a ocupar-se com planos de assistência humanitária. Dado a devaneios e meditações, muitas vezes idealizava dedicar-se aos pobres e desvalidos do mundo. Ao completar 21 anos, na época das férias do Pentecostes, decidiu passá-las em Günsbach, no vale do Münster, lugar para onde, na qualidade de pároco, seu pai fora transferido com a família quando Albert tinha apenas seis meses. Lugar onde passara a infância e ao qual sentiu desejo de voltar. Precisava de silêncio e de meditação a fim de descobrir por que, desde pequeno, seus pensamentos e sua vontade irreprimível se movimentavam numa só direção: abrir os braços aos indiscriminados, aos abandonados, enfim, aos que passavam invisíveis aos olhos da sociedade. Encontrado o estado de silêncio e de meditação pretendido, lembrou de marcantes episódios de sua infância, e murmurou:
- Como foi bom eu ter nascido numa aldeia pobre. Essas lembranças me levam a refletir que, por ter convivido com a pobreza, aprendi a não ter pretensões de grandeza e a não me sentir melhor que os demais, reconhecendo até, que muitos dos mais pobres eram mais inteligentes do que eu e bem superiores a mim em muitas matérias que juntos estudávamos.
E como fruto de suas meditações, chegou a duas conclusões:
O reconhecimento que é na vida simples, no conhecimento da Verdade revelada pelo Cristo e no contato com os pobres, os sofredores e os tristes, que aprendemos a ser verdadeiramente irmãos uns dos outros, porquanto todos quantos conheceram a angústia e a dor física estão unidos, no mundo inteiro, por um laço misterioso. Que talvez a simplicidade de tudo que o rodeara até então tenha sido a inspiradora do desejo incontido de abraçar os que se sentem esquecidos.
Que todas as sementes de bondade que um homem espalha pelo mundo brotarão um dia nos corações e pensamentos de outros homens. Que incorremos nula tola perda de tempo se não ousamos instituir, decididamente, o regime da bondade. E aquele que está coberto de benefícios na vida deve repartir, por seu turno, na mesma medida.
Duas conclusões que implicariam na decisão de como seria o seu amanhã: até a idade de trinta anos, se entregaria à ciência e à arte para, a partir de então, colocar sua vida a serviço direto ao próximo.
Em 1903, com vinte e oito anos, quando passou a ser Diretor do Instituto Teológico, decidiu cooperar com o pároco Augusto Ernst de São Tomé em um trabalho de socorro aos ex-condenados e pedintes necessitados de abrigo. Entretanto, Schweitzer foi percebendo que tal socorro dependia da constante colaboração de organizações, embora fosse seu desejo agir mais livremente, isto é, exercer uma atividade à qual ele pudesse se entregar, obedecendo apenas a sua inspiração.
Em uma manhã do ano de 1904, dirigiu-se ao Instituto São Tomé, e lá viu sobre uma mesa um fascículo da Sociedade Missionária de Paris, pela qual ele sempre se interessara. Embora o abrisse um tanto distraído, seus olhos caíram sobre um artigo: "As necessidades da missão no Congo", o qual havia sido escrito por Alfred Boegner, diretor da Sociedade Missionária de Paris. Artigo no qual Alfred lastimava a falta de pessoas para sustentar o serviço de amor aos enfermos e demais necessitados. Concluída a leitura, Schweitzer voltou ao trabalho, mas, a partir daquele momento, sua busca havia terminado.
Em outubro de 1905, Schweitzer escreveu aos seus pais e a alguns amigos para lhes comunicar sua decisão de estudar medicina, especializar-se em doenças tropicais e, mais tarde, oferecer seus préstimos na África Equatorial. Retornando a Estrasburgo, inscreveu-se na faculdade e, de 1905 a 1911, dividiu seu tempo entre o estudo e o trabalho, pois sua família era pobre e ele não podia depender de seu auxílio. De vez em quando o chamavam para consertar algum velho órgão, um serviço que jamais recusava. Em outras ocasiões, era convidado para dar concertos em diversos lugares, pois era conhecida a perfeição com que ele interpretava as músicas de Bach. Na mesma época, Hélène de Bresslau, sua noiva, que acompanhara todas as suas lutas, formou-se em Enfermagem, casando-se com ele logo depois, no dia 18 de junho de 1911.
Continua na próxima sexta-feira

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