quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Reflexões provocadas por 'Aprendemos a alimentar as emoções com comida'

A entrevista da psicoterapeuta Rachel Handley intitulada Aprendemos a alimentar as emoções com comida dá o que pensar! E para iniciar estas reflexões, selecionei a seguinte afirmação: "Desde o berço, aprendemos a alimentar nossas emoções com comida, mas é inconsciente." Afirmação que reescrevo assim: "Desde o berço, nossas emoções são alimentadas com comida, mas é por comodidade." Afinal, quando se está no berço, com exceção daquilo que se faz nas fraldas, o atendimento de qualquer outra necessidade daquele que lá está (no berço) dependerá sempre de ações daqueles que estejam ao seu redor. Ações que, na maioria das vezes, são praticadas em conformidade com a famosa lei do menor esforço.
E assim, em uma analogia com a atitude daquele personagem do vaudeville que perde as suas chaves em uma rua escura e as procura em uma rua próxima porque "lá é mais claro", aqueles que interagem com bebês geralmente o fazem alimentando-lhes a fome emocional com comida. Obviamente, assim como as chaves jamais serão encontradas, a fome emocional jamais será saciada. E aí, considerando o quão difícil é livrar-se de aprendizados equivocados e nocivos, a maioria das pessoas segue pela via afora alimentando fome emocional com comida. Como diz Rachel Handley, "Se a gente está triste, come; estressado, entediado, come.". E são dela também as seguintes palavras:
"É muito importante a gente se conscientizar da diferença entre fome física e fome emocional. Quando alimentamos o corpo com comida, sentindo a fome emocional, causamos dois problemas: não lidamos com o sentimento e ingerimos calorias de que não precisamos."
Problemas dos quais resultam, respectivamente, os dois seguintes resultados: o raquitismo emocional e a obesidade corporal. E referindo-se ao tipo de comida que ingerimos, Rachel Handley diz o seguinte:
"O corpo não precisa de comidas requintadas, cheias de molho. A saúde precisa de coisas simples. Mas daí vêm nossos desejo e paladar, que estão deturpados com a industrialização da comida. (...) Hoje você não vê o brasileiro comendo tanto arroz e feijão. São lanchinhos, congelados, comidas processadas. É o fast-food, cheio de caloria, gordura. Ninguém tem tempo de ficar cozinhando. É o que está causando obesidade no mundo. Voltar às raízes é o mais saudável."
Voltar às raízes é o mais saudável, mas é também o mais difícil! E é ainda das palavras de Rachel que extraio uma explicação para a dificuldade de tal volta.
"É uma mudança de estilo de vida: aprender a comer para viver, e não viver para comer. Para isso, lançamos a meta 80 / 20: 80% do tempo comer o que o corpo precisa para ser saudável e 20% o que desejamos. Geralmente, as pessoas fazem o contrário."
Geralmente, as pessoas fazem o contrário! E entre fazer o contrário creio que seja válido incluir a seguinte prática: trocar o que faz bem pelo que é prático. Não, não é de hoje que, em nome da praticidade, a maioria das pessoas, optou pela prática de coisas que não lhe fazem bem. Praticidade que impede a volta defendida por Rachel Handley quando diz que "Voltar às raízes é o mais saudável". E ao juntar ser saudável com fazer o contrário do que deve ser feito, lembro o seguinte trecho de uma citação de Jim Brown que já vi atribuída ao Dalai Lama: "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde."
E para encerrar estas reflexões provocadas pela maneira equivocada como a autodenominada espécie inteligente do universo alimenta algo sem o qual, segundo o pesquisador francês Thierry Goater, "não podemos mudar o mundo" (ver 'Sem emoções não podemos mudar o mundo'), escolhi um trecho da introdução do livro O Ato da Vontade, de Roberto Assagioli, apresentado abaixo. (Os negritos são meus).
"Se um homem de uma civilização anterior à nossa – um grego da Antiguidade, digamos, ou um romano – aparecesse de súbito entre os seres humanos do presente, suas primeiras impressões o levariam a considerá-los uma raça de mágicos, de semideuses. Mas fosse um Platão ou um Marco Aurélio e se recusasse a ficar deslumbrado ante as maravilhas materiais criadas pela tecnologia avançada e examinasse a condição humana com mais cuidado, suas primeiras impressões dariam lugar a uma grande consternação. Verificaria que esse pretenso semideus que controla grandes forças elétricas com o mover de um dedo e inunda o ar de sons e imagens para divertimento de milhões de pessoas – é incapaz de lidar com as próprias emoções, impulsos e desejos."
Incapacidade que, (considerando a afirmação do pesquisador Thierry Goater de que 'Sem emoções não podemos mudar o mundo'), leva-me a concluir que, em seu atual estágio evolutivo, a tal da espécie inteligente do universo ainda não esteja apta para mudar o mundo. Mudá-lo para melhor, pois mudar é algo que, inevitavelmente, ocorrerá sempre como decorrência do somatório das ações, e das omissões, de todos os indivíduos que nele sobrevivem. E já que tal mudança depende de todos, que tal fazermos a parte que nos toca? Que tal aprendermos a lidar corretamente com as emoções?

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