A entrevista da
psicoterapeuta Rachel Handley intitulada Aprendemos a
alimentar as emoções com comida dá o que
pensar! E para iniciar estas reflexões, selecionei a seguinte afirmação: "Desde o berço,
aprendemos a alimentar nossas emoções com comida, mas é inconsciente."
Afirmação que reescrevo assim: "Desde o berço, nossas emoções são
alimentadas com comida, mas é por comodidade." Afinal, quando se está no
berço, com exceção daquilo que se faz nas fraldas, o atendimento de qualquer
outra necessidade daquele que lá está (no berço) dependerá sempre de ações daqueles
que estejam ao seu redor. Ações que, na maioria das vezes, são praticadas em conformidade
com a famosa lei do menor esforço.
E assim, em uma analogia com a atitude daquele personagem do vaudeville que perde as suas chaves em uma rua escura e as procura
em uma rua próxima porque "lá é mais claro", aqueles que interagem
com bebês geralmente o fazem alimentando-lhes a fome emocional com comida. Obviamente,
assim como as chaves jamais serão encontradas, a fome emocional jamais será
saciada. E aí, considerando o quão difícil é livrar-se de aprendizados equivocados
e nocivos, a maioria das pessoas segue pela via afora alimentando fome
emocional com comida. Como diz Rachel Handley, "Se a gente está triste,
come; estressado, entediado, come.". E são dela também as seguintes
palavras:
"É muito importante a gente se conscientizar da diferença entre fome física e fome emocional. Quando alimentamos o corpo com comida, sentindo a fome emocional, causamos dois problemas: não lidamos com o sentimento e ingerimos calorias de que não precisamos."
Problemas dos quais resultam, respectivamente, os dois seguintes
resultados: o raquitismo emocional e a obesidade corporal. E referindo-se ao
tipo de comida que ingerimos, Rachel Handley diz o seguinte:
"O corpo não precisa de comidas requintadas, cheias de molho. A saúde precisa de coisas simples. Mas daí vêm nossos desejo e paladar, que estão deturpados com a industrialização da comida. (...) Hoje você não vê o brasileiro comendo tanto arroz e feijão. São lanchinhos, congelados, comidas processadas. É o fast-food, cheio de caloria, gordura. Ninguém tem tempo de ficar cozinhando. É o que está causando obesidade no mundo. Voltar às raízes é o mais saudável."
Voltar às raízes é o
mais saudável, mas é também o mais difícil! E é ainda das palavras de Rachel
que extraio uma explicação para a dificuldade de tal volta.
"É uma mudança de estilo de vida: aprender a comer para viver, e não viver para comer. Para isso, lançamos a meta 80 / 20: 80% do tempo comer o que o corpo precisa para ser saudável e 20% o que desejamos. Geralmente, as pessoas fazem o contrário."
Geralmente, as pessoas
fazem o contrário! E entre fazer o contrário creio que seja válido incluir a seguinte
prática: trocar o que faz bem pelo que é prático. Não, não é de hoje que, em
nome da praticidade, a maioria das pessoas, optou pela prática de coisas que
não lhe fazem bem. Praticidade que impede a volta defendida por Rachel Handley
quando diz que "Voltar às raízes é o mais saudável". E ao juntar ser saudável com fazer o
contrário do que deve ser feito, lembro o seguinte trecho de uma citação de Jim
Brown que já vi atribuída ao Dalai Lama: "Os homens perdem a saúde para
juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde."
E para encerrar estas reflexões provocadas
pela maneira equivocada como a autodenominada espécie inteligente do universo alimenta
algo sem o qual, segundo o pesquisador francês Thierry Goater, "não
podemos mudar o mundo" (ver 'Sem
emoções não podemos mudar o mundo'), escolhi um trecho da introdução do
livro O Ato da Vontade, de Roberto Assagioli,
apresentado abaixo. (Os negritos são meus).
"Se um homem de uma civilização anterior à nossa – um grego da Antiguidade, digamos, ou um romano – aparecesse de súbito entre os seres humanos do presente, suas primeiras impressões o levariam a considerá-los uma raça de mágicos, de semideuses. Mas fosse um Platão ou um Marco Aurélio e se recusasse a ficar deslumbrado ante as maravilhas materiais criadas pela tecnologia avançada e examinasse a condição humana com mais cuidado, suas primeiras impressões dariam lugar a uma grande consternação. Verificaria que esse pretenso semideus que controla grandes forças elétricas com o mover de um dedo e inunda o ar de sons e imagens para divertimento de milhões de pessoas – é incapaz de lidar com as próprias emoções, impulsos e desejos."
Incapacidade que, (considerando
a afirmação do pesquisador Thierry Goater de que 'Sem
emoções não podemos mudar o mundo'), leva-me a concluir que, em seu
atual estágio evolutivo, a tal da espécie inteligente do universo ainda não esteja apta
para mudar o mundo. Mudá-lo para melhor,
pois mudar é algo que, inevitavelmente, ocorrerá sempre como decorrência do
somatório das ações, e das omissões, de todos os indivíduos que nele
sobrevivem. E já que tal mudança depende de todos, que tal fazermos a parte que
nos toca? Que tal aprendermos a lidar corretamente com as emoções?
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