"Na condição de
ex-funcionário da Petrobras, recebi no dia 17.06.2016 um e-mail de uma
ex-colega de trabalho expressando para alguns amigos sua indignação diante de
um e-mail enviado pela Fundação Petros, no dia anterior. Intitulado Entenda as razões do déficit, tal e-mail comunica que "Para assegurar o equilíbrio
financeiro do plano, os participantes e a patrocinadora terão que fazer
contribuições adicionais. É o chamado
equacionamento, obrigatório por lei." É aquela velha história: Quando é
para ferrar (para não usar um verbo mais contundente) o trabalhador existe sempre
uma lei. Certo estava Otto von Bismarck quando disse: "Se o povo soubesse
como são feitas as salsichas e as leis, ninguém dormiria tranquilo."
E ao finalizar seu e-mail com a frase "Tô cansada desse país!", minha amiga me fez lembrar um
artigo publicado na edição de 12 de janeiro de 2016 do jornal Folha de S.Paulo na coluna de Mirian
Goldenberg, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Intitulado "Quero ir embora do
Brasil!", o artigo está reproduzido abaixo.
"Quero ir embora do Brasil!"
Uma matéria publicada
recentemente na Folha revelou que a crise
econômica aumentou os casos de problemas de saúde relacionados ao estresse.
Cresceu 37,5%, só no
primeiro semestre de 2015 (em comparação com o mesmo período de 2014), o número
de executivos, gerentes e empresários brasileiros com depressão. Cresceu também
o número de casos de ansiedade (60%), estresse (27,7%) e insônia (19%). O
consumo de antidepressivos e controladores de humor aumentou (11,6%).
A crise econômica elevou os casos de ansiedade, estresse,
insônia e também o uso de antidepressivos
A ansiedade, o
estresse, a depressão e a insônia estão contagiando um número cada vez maior de
brasileiros. A crise está afetando muita gente, como mostra uma psicóloga de 57
anos:
"O que eu mais
escuto é: 'Quero ir embora do Brasil!'. Pergunto: 'Para onde? ' e me respondem:
'Para qualquer lugar'. Algumas pessoas que estavam satisfeitas com a própria
situação financeira começaram a apresentar problemas de saúde: diarreias,
vômitos, insônias, dores musculares, depressão, irritabilidade. Elas falam de
uma tristeza enorme, de impotência, de falta de perspectiva. Não conseguem
enxergar saída, não têm mais esperança, acham que nada do que fazem tem significado.
Conheço muitos casos de ansiedade, e até de sintomas de pânico, relacionados à
atual crise política e econômica".
Uma médica de 64 anos
disse: "Todo mundo que conheço demonstra muito medo desta crise. Eles
sentem que perderam o controle da própria vida, estão paralisados pelo medo. O
jovem tem medo de não conseguir trabalho, os mais velhos têm medo do caos
social, alguns têm pesadelos com uma quebradeira geral do país. Tem gente que
está com pânico de perder todo o dinheiro, que sonha com a possibilidade de
morar em Portugal, nos Estados Unidos ou no Canadá só para ter mais segurança.
Ninguém sabe o que vai acontecer com o Brasil e como isso vai afetar a própria
vida".
Ela continua: "O
país está doente e o medo desta doença está contaminando todo mundo, até mesmo
aqueles que poderiam se proteger e se manter saudáveis. É uma epidemia, não
escapa ninguém. Os brasileiros não suportam mais tanta instabilidade,
insegurança e incerteza".
A médica conclui:
"Será que a única saída para a crise é fugir do país? Por que não
construir uma alternativa melhor aqui no Brasil?".
*************
Se a última frase do
e-mail da minha amiga me fez lembrar do artigo de Miriam Mirian Goldenberg,
pelo método das recordações sucessivas, a última frase do texto de Miriam me
fez lembrar do artigo de Rodrigo Bittencourt, diretor de cinema e músico da
banda Les Pops, publicado na edição de 5 de junho de 2011 da Revista O Globo,
na seção Colunista convidado,
com o título "Que país é esse?". Artigo espalhado
por este blog em 25 de janeiro de 2014 por uma postagem
homônima e do qual extraí alguns trechos para montar o parágrafo abaixo.
"Quem faz o país é quem mora dentro dele, somos nós os culpados pelo que há de bom e de ruim aqui. Não importa se chamamos de Brasil, de Vera Cruz, de Bulgária ou de Ugnab do Norte. Essa fórmula escapista nos trouxe e ainda nos trará muitos problemas, porque é muito mais fácil jogar a culpa num símbolo do que resolver de fato as coisas. Não adianta fugir disso. Se as ruas do Rio estão sujas é porque nós sujamos. Se o trânsito de São Paulo é insuportável é porque nós compramos carros demais e colocamos nas ruas," (...). "Não, não é a Suíça que é um lugar incrível, os suíços é que fizeram a Suíça se tornar incrível. Se assumirmos, podemos transformar o Brasil numa Suíça melhorada.".
E falar em "se
assumirmos" me faz lembrar um filme intitulado Cidade da Esperança (lançado em 1992) no qual há uma cena em que
uma personagem diz algo mais ou menos assim: "Na vida temos três opções:
fugir, observar, participar". Infelizmente, a terceira é a que possui menos
adeptos. E ao ver que fugir está entre as opções, inevitavelmente, lembro de duas
indagações que há muito tempo me perseguem. A primeira: Onde estava o autor da
frase "Verás que um filho teu não foge à luta" quando a
elaborou? A segunda: A que espécie de luta ele se referia? Vocês têm respostas
para tais indagações?
O artigo de Mirian
Goldenberg é encerrado com duas indagações de uma médica: Será que a única
saída para a crise é fugir do país? Por que não construir uma alternativa
melhor aqui no Brasil?
Esta postagem é
encerrada com uma indagação minha: Será que fugir do país pode ser encarado
como fugir à luta? E com a reiteração da segunda indagação da médica: Por que não
construir uma alternativa melhor aqui no Brasil?
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