Após duas postagens alusivas a dias comemorativos, este blog volta
a focalizar o tema da postagem que as antecedeu. E volta também às
coincidências, pois o texto apresentado abaixo, coincidentemente, foi obtido no
mesmo lugar de onde fora extraído o da referida postagem, quatro dias antes.
Publicado na edição de 21 de junho de 2016 do jornal O Globo, no espaço intitulado Conte
algo que não sei, o texto apresenta uma reportagem-entrevista onde Rachel
Handley, psicoterapeuta, é a entrevistada, Lucas Moretzsohn é o entrevistador e
é intitulado 'Aprendemos a alimentar as emoções
com comida'.
'Aprendemos a alimentar as emoções com comida'
Especialista em compulsão alimentar esteve no Rio a convite do centro de bem-estar Rituaali, em Penedo, para apresentar programa para controle da mente
"Sou de Curitiba e moro em Las Vegas há
mais de 30 anos. Comecei o curso de Serviço Social aqui e terminei lá, pela
Universidade de Nevada, onde fiz também mestrado em psicoterapia. Tenho
pós-graduação em dependências químicas. Sou especializada em bariatria. Há 12
anos, trabalho com obesidade e emagrecimento."
(Rachel Handley, psicoterapeuta)
Conte algo que não sei.
A maioria das pessoas é compulsiva com a
alimentação, mas nem sabe disso. Com a industrialização da comida, estamos viciados
em guloseimas e só quando há um problema de saúde prestamos atenção. O problema
de as pessoas engordarem e se tornarem obesas não está no estômago e na boca,
mas na mente. É nossa caixa de comando.
O que está por trás de uma compulsão alimentar?
A compulsão alimentar
virou um vício, uma dependência da qual a pessoa não está nem ciente.
Geralmente, tem a ver com as emoções. Desde o berço, aprendemos a alimentar nossas
emoções com comida, mas é inconsciente. Levou um tombo, brigou com alguém, vêm
logo mãe, tio, avó ou pai e dão uma bala, um chocolate. Se a gente está triste,
come; estressado, entediado, come. Já tivemos muitos pacientes que chegaram a
perder 150 kg
com cirurgia bariátrica e, depois de quatro anos, recuperaram tudo. A mente é
que precisa da cirurgia.
É mais difícil do que fechar a boca?
É muito importante a gente se conscientizar da
diferença entre fome física e fome emocional. Quando alimentamos o corpo com
comida, sentindo a fome emocional, causamos dois problemas: não lidamos com o
sentimento e ingerimos calorias de que não precisamos. A fome física acontece
três vezes por dia, geralmente, que é o tempo que leva a digestão, de quatro a
cinco horas. Se almocei e depois de duas horas estou com fome, eu penso que
estou com fome. Não é fome física, é fome emocional. Durante anos, até entender
isso, a gente se alimenta inconscientemente e, então, vira uma compulsão. Aí é
difícil mudar isso.
Mas há médicos que indicam comer há cada três horas.
Há muitos estudos nos Estados Unidos e no
Brasil comprovando que isso não é saudável. Até o Conselho Nacional de Nutrição
já fala veementemente que não é saudável. O argumento é simples: quem precisa
de exercício físico é o seu corpo. Basicamente, o que você faz quando come a
cada três horas é colocar o sistema digestório na academia, o que vai fazer o
metabolismo e queimar gordura. O sistema digestório vai trabalhar dobrado.
Recomenda alguma dieta para enfrentar a compulsão?
Não, o foco do trabalho é a mente. Para dieta,
há muita informação, até na internet. É uma mudança de estilo de vida: aprender
a comer para viver, e não viver para comer. Para isso, lançamos a meta 80 / 20:
80% do tempo comer o que o corpo precisa para ser saudável e 20% o que
desejamos. Geralmente, as pessoas fazem o contrário.
É tudo uma questão de equilíbrio?
É o tal do equilíbrio. O corpo não precisa de
comidas requintadas, cheias de molho. A saúde precisa de coisas simples. Mas
daí vêm nossos desejo e paladar, que estão deturpados com a industrialização da
comida. O desejo alimentar não é fome física, é emocional. Estudos comprovam
que quatro bocados pequenos satisfazem um desejo.
O brasileiro come bem?
Hoje você não vê o brasileiro comendo tanto
arroz e feijão. São lanchinhos, congelados, comidas processadas. É o fast-food,
cheio de caloria, gordura. Ninguém tem tempo de ficar cozinhando. É o que está
causando obesidade no mundo. Voltar às raízes é o mais saudável. Desde o início
do mundo, até cem anos atrás, o que o povo comia? O que a terra dava. Hoje,
não. Tem criança que nem sabe que fruta nasce em árvore.
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"Desde o berço,
aprendemos a alimentar nossas emoções com comida, mas é inconsciente.",
afirma a psicoterapeuta Rachel Handley. E quando o equívoco cometido é causado
por inconsciência, parar de cometê-lo passa, inevitavelmente, por reflexões feitas
a partir de algo que (por algum motivo que desconhecemos) nos seja oferecido
para ler ou para ouvir.
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