Para aqueles que não sabem (e também para os que sabem), 25 de
julho é o Dia Nacional do Escritor.
Dia instituído por um decreto governamental em 1960 após a realização do I
Festival do Escritor Brasileiro, organizado pela União Brasileira de
Escritores. Em uma homenagem a esse dia, esta postagem espalha um artigo de
Afonso Borges intitulado "Quanto
custa a fala de um escritor?" publicado na edição de 17 de junho de
2016 do jornal O Globo. Segundo informação
apresentada no final do artigo, Afonso Borges é escritor, gestor cultural e
criador do Fliaraxá.
Quanto custa a fala de um escritor?
Ou talvez seria melhor quanto vale a fala de
um escritor? Há uns anos, no lançamento do livro do saudoso Bartolomeu Campos
de Queirós, uma senhora me abordou e disse:
- Há muito tempo estou para te procurar. Tenho
que te agradecer.
Na confusão do evento, quase não prestei
atenção. Mas ela foi incisiva:
- Preciso falar com você, agora, por favor.
Fomos para o canto da sala, ela, acompanhada
de seus familiares, contou que esteve presente ao debate de lançamento do livro
"1968, o ano que não terminou". As histórias libertárias e ao mesmo
tempo opressoras relatadas por Zuenir Ventura mudaram a vida daquela senhora.
Na época, era professora primária. Entrou para a universidade, formou-se, fez
mestrado, pós, doutorado. Ali conheceu seu marido, teve dois filhos. E
passaram-se 20 anos. Ela não me disse, exatamente, quais foram as palavras ou
qual foi o contexto que provocou a mudança. E talvez nem fosse necessário.
Num zap, mês passado, cinco mil pessoas se
acotovelavam na Praça Sete, em Belo Horizonte, para assistir ao trio Leonardo
Boff, Mario Sergio Cortella e Frei Betto, no lançamento do livro: "Felicidade,
foi-se embora?". No Cine Theatro Brasil só cabem mil e duzentas. O evento
virou cinema: duas sessões – uma às 19h30m, outra as 21h. Um primor de debate,
com um ingrediente divertido: eles se comprometeram a fazer falas diferentes.
Após centenas e centenas de autógrafos até uma hora da manhã.
Do palco, eu observava os olhares das pessoas
na plateia. Curiosidade, atenção, detalhes desse milagre que se opera quando um
ouve o outro. Quando pessoas se sentem integradas em uma espécie de comunhão. É
o milagre do ouvir, e bem. Raro, hoje em dia.
Volto à questão central: quanto vale a fala de
um escritor? As palestras de um executivo, de um administrador, de um técnico
ou especialista têm cifra determinada. Os profissionais liberais também: um
médico cobra de acordo com sua experiência, seu prestígio, sua credibilidade.
Em escala progressiva, claro.
A FORÇA DAS IDEIAS
Já a fala de um autor é inexata e, na maioria
das vezes, próxima de uma ajuda de custo, uma espécie de voluntariado cultural.
Rose Marie Muraro se dizia missionária da cultura. Passou a vida rodando o
país, nessa cruzada santa pelos direitos da mulher e pela literatura. O
escritor não vende informação, passa experiência de vida; não faz palestra,
fala ao coração; não dita regras ou fórmulas, ensina o humano que há em nós.
Tudo pelo código transcendental da leitura, pela força sem mensuração das
ideias. Talvez por isso Nietzche dizia que "ideias são forças".
Uma vez passei um domingo na casa de Millôr.
Ele cobrava cinco mil dólares por entrevista ou palestra. Dizia que se "eles
pagam por artigo, por que não pagar por entrevista? É a mesma coisa". Foi
criticado, chamado de mercenário. Naquela tarde, um programa de televisão o
convidou para participar, em São Paulo. Ele aceitou de cara. Combinou tudo:
data, horário, transporte, tema, tudo. Ao final, perguntou para a moça: "agora...
você sabe que meus honorários são cinco mil dólares, né?". A moça
desligou, imediatamente. Ele me olhou, piscou o olho e perguntou:
- Você acha que eu vou sair daqui, ir para São
Paulo, de graça, dar entrevista, e ainda ouvir o cara me chamar de "meu
garotinho"...? (Uma referência ao jornalista Osmar Santos).
E voltou pro computador, onde desenhava a
biblioteca de Jorge Luis Borges, imaginando quais seriam os títulos, um a um.
Isso tem preço? Ou valor?
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Quanto custa a fala de um escritor? Ou talvez seria melhor quanto vale a fala de um escritor? Com essas duas indagações Afonso
Borges inicia seu texto, com as duas a seguir ele o finaliza. Isso tem preço? Ou valor? Entre as indagações iniciais e as finais há um texto que pode
ajudar a respondê-las. (Os grifos são meus.)
"Preço ou valor?", eis a questão maior
que enxergo no texto de Afonso Borges. Questão que, há mais de um século, Oscar
Wilde (1854 - 1900), escritor e dramaturgo irlandês, responderia assim: "Hoje em dia, sabemos o preço de
tudo e não sabemos o valor de nada."
Será que a afirmação de Oscar Wilde
permanece válida nesta insana época na qual sobrevivemos? Será que faz sentido
acreditar que seja possível tornar o mundo em que vivemos um lugar que preste
sem sabermos o valor das coisas que nele existem? Será que é possível realizarmos
alguma coisa benéfica enquanto confundirmos preço
com valor? O que vocês acham? Vocês têm
resposta às indagações de Afonso Borges?
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