Após uma postagem
intitulada All you need is love,
segue uma intitulada Apto para destruir.
Por que escolhi essa passagem do livro Vencendo
a competição (Winning through Cooperation), de autoria do Dr. Terry Orlick,
para suceder All you need is love?
Porque, no meu entender, ela apresenta um exemplo extremo dos efeitos decorrentes
de falta de amor e de uma consequente sobra de ódio.
Apto para destruir
"Eu sabia que era
certo, porque me senti bem quando estava fazendo aquilo", disse Susan
Atkins, um dos membros da Família Manson ao justificar o horrível assassinato
de sete pessoas. Ao descrever sua participação no assassinato de Sharon Tate,
uma talentosa atriz, que estava grávida de oito meses na época, disse Susan
Atkins: "Eu só a apunhalei e ela caiu; então eu a apunhalei novamente. Não
sei quantas vezes fiz isso... Sharon suplicou pela vida do seu bebê, e eu
mandei que calasse a boca. Não queria ouvir aquilo". Quando indagada a
respeito dos seus sentimentos para com suas vítimas, Susan respondeu: "Eu
não conhecia nenhuma delas. Como poderia sentir qualquer coisa se não conhecia
ninguém? Nem pareciam pessoas... Eu não pensava em Sharon Stone como outra
coisa que não fosse um manequim de loja... Sua voz parecia sair de uma máquina
IBM... Ela continuava pedindo e suplicando, pedindo e suplicando, eu fiquei
enjoada de ouvi-la e por isso a apunhalei".
Nenhum dos
participantes desse massacre cruel e sem sentido expressou qualquer sentimento
de culpa ou responsabilidade, nem demonstrou a mínima simpatia para com suas
vítimas inocentes. Eis um exemplo clássico da filosofia "cada um por
si", totalmente fora de controle.
Só podemos
"cuidar dos nossos próprios interesses" construtivamente se formos
socializados para nos sentirmos bem com eventos de cunho humanístico. Esse
certamente não foi o caso da Família Manson. Eles tinham individualmente uma
história precoce de alienação e rejeição. Faltaram-lhe na vida experiências de
calorosa cooperação humana e compaixão. Seus modelos eram violentos. Eram
frutos de uma sociedade que os criou de uma maneira distorcida, e mais tarde se
voltaram contra ela, para destruí-la. Estavam no mínimo, incrivelmente aptos
para destruir.
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Apto para destruir é uma daquelas coisas
que li e jamais esqueci, principalmente pela extraordinária lição trazida no
último de seus três parágrafos.
"Eles tinham individualmente uma história precoce de alienação e rejeição. Faltaram-lhe na vida experiências de calorosa cooperação humana e compaixão. Seus modelos eram violentos. Eram frutos de uma sociedade que os criou de uma maneira distorcida, e mais tarde se voltaram contra ela, para destruí-la. Estavam no mínimo, incrivelmente aptos para destruir."
"Faltaram-lhe na vida experiências de
calorosa cooperação humana e compaixão. Seus modelos eram violentos." Será
que é válido afirmar que faltaram-lhe também experiências de amor e sobraram-lhe
de ódio? No meu entender, sim.
"Eram frutos de uma sociedade que os
criou de uma maneira distorcida, e mais tarde se voltaram contra ela".
Frutos de uma sociedade repleta de adeptos da "filosofia 'cada um por si',
totalmente fora de controle". E ao ler "totalmente fora de
controle" lembro o seguinte vaticínio feito, em fevereiro de 1942, por
Alberto Pasqualini, que foi senador da República e que dá nome a uma refinaria
da Petrobras: "O analfabetismo, a falta de ocupação, a vida difícil e a
miséria poderão criar uma grave situação de insegurança que evoluiria para uma
criminalidade irreprimível".
"Uma grave situação de insegurança que
evoluiria para uma criminalidade irreprimível"! Passados setenta e quatro
anos, vocês concordam que o vaticínio de Pasqualini tornou-se realidade há alguns
anos? E que embora tenha sido feito para o Brasil, o vaticínio seria válido
para outros países?
Interessante! Sucedendo
uma postagem inspirada por uma canção – All you need is love – esta me faz lembrar de outra canção. Ao ler "Eram
frutos de uma sociedade que os criou de uma maneira distorcida, e mais tarde se
voltaram contra ela, para destruí-la.", imediatamente lembrei um trecho de
outra bela canção. Uma cuja letra já foi por mim usada em várias postagens,
pois inalterada ou mesmo alterando alguma palavra, ela se presta a fornecer
vários trechos capazes de proporcionar muitos ensinamentos. O parágrafo abaixo
apresenta um trecho que trocada uma palavra, considero perfeito para ser usado
nesta postagem. A canção? Será, da
Legião Urbana.
"Nos perderemos entre monstros da nossa própria criaçãoSerão noites inteirasTalvez por medo da escuridãoFicaremos acordadosImaginando alguma soluçãoPra que esse nosso egoísmoNão destrua nosso planetão, digo, coração"
Monstros da nossa
própria criação! Monstros criados com o assentimento de todos os que compõem a
sociedade, conforme poeticamente nos adverte Gibran Khalil Gibran em uma
passagem intitulada "Então, um dos juízes da cidade acercou-se e disse: 'Fala-nos do crime e do castigo'.", extraída de seu maravilhoso livro O Profeta.
"E da mesma forma que nenhuma folha amarelece senão com o silencioso assentimento da árvore inteira,Assim o malfeitor não pode praticar seus delitos sem a secreta concordância de todos vós."
Monstros da nossa própria criação! Monstros
criados por um tipo de sociedade sobre o qual, no ano 1516, Thomas Morus fazia
o seguinte questionamento: "Por que consentir que os cidadãos se eduquem
pessimamente e que seus costumes se vão corrompendo pouco a pouco desde seus
mais tenros anos para castigá-los quando, já homens, cometerem delitos que se
faziam esperar desde sua infância, que outra coisa é senão criar ladrões para
depois castigá-los." Será que exatos cinco séculos depois tal
questionamento ainda faz sentido? O que vocês acham?
"Eram frutos de uma sociedade que os
criou de uma maneira distorcida, e mais tarde se voltaram contra ela, para
destruí-la." Para destruir uma sociedade na qual um jovem delinquente, à
sombra da penitenciária, se vê no direito de escrever uma carta contendo uma espécie de exame de consciência para os "homens honestos" do mundo. Uma carta que vale a
pena ler, caso o desenvolvimento de seres aptos a construir algo que faça jus
ao termo sociedade, esteja entre as coisas que ainda se almeje. Se quiser lê-la
clique aqui.
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