quarta-feira, 6 de abril de 2016

All you need is love

Em 1967, a equipe do canal londrino BBC convidou os Beatles a participarem do primeiro evento transmitido mundialmente via satélite, ao vivo, simultaneamente para 26 países: o programa Our World. Esse trabalho envolveu redes de TV das Américas, Europa, Escandinávia, África, Austrália e Japão.
Foi então solicitado que o grupo escrevesse uma música cuja mensagem pudesse ser entendida por todos os povos do planeta. John Lennon e Paul McCartney começaram a trabalhar separadamente em diferentes letras, até que Lennon acabou escrevendo um clássico que se encaixou perfeitamente ao objetivo proposto, pois a mensagem de amor contida na canção poderia ser facilmente interpretada ao redor do mundo. O título da canção? All you need is love.
Os Beatles foram transmitidos ao vivo diretamente do Abbey Road Studios em 25 de junho de 1967. A canção foi gravada durante a apresentação, embora eles tivessem preparado antecipadamente – num período de cinco dias – as gravações e a mixagem antes da transmissão. A letra trazia uma mensagem de paz nos tempos da Guerra do Vietnã. Os Beatles convidaram vários amigos para participarem do evento, cantando o coro da canção, entre eles Mick Jagger, Eric Clapton, Marianne Faithfull, Keith Moon e Graham Nash. O programa foi visto por cerca de 350 milhões de pessoas e foi responsável por eternizar ainda mais o nome dos Beatles na História da Humanidade.
Os três parágrafos acima foram copiados da Wikipédia. Abaixo é apresentado o belo refrão da canção.
All you need is love             (Tudo que você precisa é de amor)
All you need is love             (Tudo que você precisa é de amor)
All you need is love, love  (Tudo que você precisa é de amor, amor)
Love is only you need          (Amor é tudo que você precisa)
Por que resolvi elaborar uma postagem intitulada All you need is love? Porque incomoda-me a constatação diária de que a bela mensagem escrita há 49 anos, com a intenção de poder ser entendida por todos os povos do planeta, embora tenha sido vista por cerca de 350 milhões de pessoas, em 26 países para os quais foi transmitida, por um programa intitulado Our World, até hoje não atingiu seu intento. Ou seja, 49 anos depois ela ainda não foi entendida pela maioria das pessoas, ou pior, ela foi mal entendida. Como assim?
Observando o comportamento de uma enorme quantidade de integrantes "de todos os povos do planeta", o que se constata é que o All you need is por ela entendido é outro. Qual? All you need is odium. Ódio que entre os fatores que o geram conta com mais um problema de entendimento: o da ideia expressa no título do programa no qual foi lançada a canção. Our World era o título. Sim, quem entende que o mundo seja nosso jamais será capaz de odiar, mas para quem, equivocadamente, acredite que o mundo seja seu, ódio é algo que talvez chegue até a lhe parecer algo natural.
Ódio que, pelo que é sabido (por aqueles que sabem), é algo que sempre existiu na convivência dos integrantes da autodenominada espécie inteligente do universo, mas que, pelo que pode ser percebido (por aqueles que percebem), é algo cada vez mais presente nesta civilização na qual o fascínio pelo estupendo desenvolvimento tecnológico nela apresentado leva a maioria de seus integrantes a enveredar por caminhos que a conduzem a uma estúpida exteriorização de seus piores sentimentos.
Estúpida exteriorização que, no meu entender, pode ser vista como resultado de uma maneira equivocada de enxergar a vida, pois não sendo uma operação de multiplicação, na vida a ordem dos fatores altera o produto. Ou seja, o produto obtido desenvolvendo primeiramente a tecnologia é completamente diferente do obtido desenvolvendo primeiramente a sabedoria, e, infelizmente, nesta civilização, o desenvolvimento tecnológico ocorreu primeiro. E ao ocorrer primeiro, e de forma fascinante, açambarcando o tempo dos fascinados, tal desenvolvimento acabou impedindo-os de sequer pensar em desenvolver sabedoria. Sabedoria que os levaria a usar a tecnologia para exteriorizar o amor, e não o ódio. Afinal, foi isso o que fez John Lennon: usando a tecnologia disponível, espalhou, via satélite, ao vivo, simultaneamente para 26 países, uma mensagem que pudesse ser entendida por todos os povos do planeta na qual ele dizia que All you need is love.
E nós – analogamente - o que estamos fazendo com a tecnologia disponível? Que tipo de mensagem estamos espalhando, via smartphone, ao vivo, simultaneamente para quantas pessoas desejarmos, em quantos países desejarmos: de amor ou de ódio? No entender de vocês, entre amor e ódio, o que predomina nesta civilização? O meu está explicado no sétimo parágrafo desta postagem. Mas se lá está o meu entender, aqui está o meu proceder. Proceder que está em conformidade com a seguinte afirmação de Frei Betto contida em um artigo publicado na edição de 10 de setembro de 2005 do jornal O Globo. "Sei que não haverei de participar da colheita. Mas faço questão de ficar ao lado dos que lançam, ainda que em terra árida, as sementes de um futuro melhor."
Portanto, embora entenda que hoje predomine o ódio, incluo-me entre aqueles que acreditam que algum dia, por mais remoto que seja esse dia, o amor predominará nesta dimensão deste planeta. E é por considerar-me integrante do grupo citado por Frei Betto que mantenho um blog a partir do qual procuro "lançar sementes de um futuro melhor". Vocês concordam que a publicação desta postagem, lembrando a belíssima mensagem escrita por aquele que ainda escreveria Imagine, pode ser considerada o lançamento de uma semente de um mundo melhor?
Não, a apologia de que "tudo que o ser humano precisa é de amor" não surgiu com John Lennon, pois ela é algo presente nos ensinamentos dos grandes mestres que passaram por esta dimensão. Mestres entre os quais existe um (popular na parte ocidental do planeta) a quem é atribuída a seguinte recomendação: "Amai-vos uns aos outros". Recomendação que vítima de mais um mal-entendido resultou em "Armai-vos uns contra os outros" como demonstra o comportamento da maioria da dita (bendita ou maldita) espécie inteligente do universo.
Porém, embora tal apologia não tenha surgido com os Beatles, a importância deles em sua propagação jamais poderá ser negada. Até porque, em termos de popularidade, os Beatles constituem um caso à parte. Em 1966, ou seja, um ano antes de escrever All you need is love, Lennon declarou em uma entrevista: "Nós somos mais populares que Jesus Cristo". Declaração que provocou um barulho estrondoso nos círculos religiosos. Alegando ter sido mal interpretado, Lennon pediu desculpas publicamente, explicando-se logo depois. Segundo ele, aquela frase poderia ser substituída por "a televisão é mais popular do que Jesus" que seria a mesma coisa e não faria tanto barulho.
Entendendo que ser mais popular não significa ser mais importante, e sim ter uma quantidade maior de seguidores, nada tenho contra a frase de Lennon e até vejo-a como uma oportunidade de usar a popularidade dos Beatles para espalhar uma mensagem que está em perfeita sintonia com os ensinamentos dos grandes mestres da humanidade. Sintonia que leva-me a encerrar esta postagem repetindo o refrão da bela canção escrita por John Lennon.
All you need is love             (Tudo que você precisa é de amor)
All you need is love             (Tudo que você precisa é de amor)
All you need is love, love  (Tudo que você precisa é de amor, amor)
Love is only you need          (Amor é tudo que você precisa)

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