Com a intenção de evitar mais uma postagem do
tipo "Reflexões provocadas por", tentei incluir na própria postagem
contendo o artigo de Luiz Roberto Londres as reflexões provocadas por ele.
Tentativa que não obteve êxito, pois, devido à quantidade de reflexões, a postagem
ultrapassaria o tamanho limite por mim estabelecido com a finalidade de não
desestimular sua leitura nestes tempos em que, para uma grande quantidade de
pessoas, qualquer coisa que excede 140 caracteres é considerada um tratado.
Sendo assim, seguem as reflexões provocadas por 'Time is life'.
"Tempo é algo inerente à existência, é
nele que ela se realiza, é nele que ela se afirma. É, portanto, um conceito
fundamental que com ela se confunde, com ela se mistura.", diz Luiz
Roberto Londres em seu artigo publicado em maio de 2003. "O tempo
constitui uma das dimensões fundamentais da vida, a ponto de que podemos dizer
que se confunde com ela.", diz Márcia Tiburi, em um artigo publicado em abril
de 2015. Dá para discordar que as duas afirmações (feitas com um intervalo de doze
anos) estão em perfeita concordância? Creio que não. Gosto muito de buscar concordâncias
entre opiniões dadas em diferentes épocas, por pessoas diferentes, com a
finalidade de demonstrar não serem coisas de algum indivíduo sem noção e,
consequentemente, não merecedor de atenção. Seguem mais algumas buscas de
concordância.
"Já dinheiro é um meio, não tem valor em
si, é uma representação de valor, (...)", diz Luiz Roberto Londres. "Pedaços
de papel sem valor de que dependemos para nos alimentar, nos mover, nos
entreter. Dinheiro é simplesmente a ferramenta que eles usam para nos controlar.
Eles nos deram o dinheiro e em troca nós demos a eles o mundo.", diz Spencer
Cathcart, em A mentira que vivemos. Vocês
enxergam alguma concordância nas duas afirmações?
E ainda sobre o
dinheiro, segue mais um interessante trecho do artigo de Luiz Roberto Londres. "Na
realidade, o dinheiro é um grande tóxico da atualidade, vicia sem que as
pessoas se apercebam, justifica-se pela criação de riqueza material, solapa as
riquezas intangíveis, sejam elas intelectuais ou emocionais." Trecho que
me faz lembrar a seguinte afirmação de Vladimir Maiakovski (1893 – 1930), poeta
e dramaturgo russo: "Cada um, ao nascer, traz sua dose de
amor. Mas os empregos, o dinheiro, tudo isso, nos resseca o solo do coração." E na minha opinião, as duas coisas citadas por Maiakovski
podem ser vistas como apenas uma, pois na imensa maioria dos casos a finalidade
única dos empregos é ganhar dinheiro. Muitas vezes até fazendo coisas de
reconhecida nocividade. Vocês enxergam alguma concordância nas duas afirmações?
"Historicamente, o dinheiro determinava
os valores das coisas e, na atualidade o dinheiro determina o valor do próprio
dinheiro. E, como efeito colateral inerente à sua existência, tende a
estabelecer o valor de compra e venda das pessoas que aceitam se depreciar,
pois, qualquer que seja a quantia envolvida, sempre será menor que o preço da
dignidade.", são palavras de Londres. E ao falar em 'preço da dignidade',
Londres me faz lembrar o filósofo prussiano Immanuel Kant [1724 – 1804] que nos
ensinou que seres humanos têm dignidade,
não tem preço. E Londres acrescenta: "Pessoas passaram a ter preços.".
Ou seja, neste parágrafo o que parece haver é discordância entre Kant e Londres.
Ou será que há apenas uma sutil diferença provocada pelas palavras usadas por
eles, pois enquanto Londres refere-se a pessoas, Kant fala em seres humanos.
Sim, pessoas e seres humanos
não são a mesma coisa. Roberto Crema, um extraordinário ser humano que a tive a
felicidade de encontrar em alguns seminários da UNIPAZ, diz que os antigos
afirmavam que o ser humano ainda não nasceu; estamos sendo uma possibilidade.
Segundo eles, dependendo do que fizermos, em algum momento justo do caminho, poderemos
nos tornar seres humanos plenos. Ou seja, parafraseando Simone de Beauvoir que
diz "Não
nascemos mulheres, tornamo-nos mulheres", creio que seja extremamente válido
dizer que "Não nascemos humanos, tornamo-nos humanos". A postagem de
01 de setembro de 2011 tem o seguinte título: As
regras para Ser Humano.
Portanto, creio que os dois – Kant e Londres – estejam certos.
Como diz Kant, "seres humanos têm dignidade, não tem preço", mas como
diz Londres, "pessoas passaram a
ter preços" e, consequentemente, passaram a não ter dignidade.
Ao dizer que "na atualidade o dinheiro determina o valor do
próprio dinheiro. E, como efeito colateral inerente à sua existência, tende a
estabelecer o valor de compra e venda das pessoas que aceitam se depreciar
(...)", Londres me faz lembrar outro filósofo: Jean-Jacques Rousseau [1712 – 1778] e a seguinte afirmação feita por
ele: "Uma sociedade só é
democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja
tão pobre que tenha que se vender a alguém.". E ainda há quem saia
por aí dizendo que vivemos em uma democracia! Pensando bem, cada sociedade tem a democracia que merece, não é mesmo?
Voltando a falar sobre o tempo, segue uma frase da trilogia O Senhor dos Anéis que me tocou bastante:
"A única coisa a fazer é decidir como
usar o tempo que nos foi dado.". Frase que me levou a publicar em 01 de abril de
2011 uma postagem intitulada A
única coisa a fazer. Sim, tempo é a única coisa que todos recebem por igual nesta vida, portanto, a "única coisa a fazer é decidir como usar
o tempo que nos foi dado.".
Com a intenção de reforçar o que é dito
no parágrafo anterior, recorro à concordância entre as afirmações de Luiz
Roberto Londres e Márcia Tiburi: tempo e vida são duas coisas que se confundem.
O problema é que a maioria (sempre ela!), demonstrando não entender que tempo e
vida se confundem, acaba é se confundindo toda pela vida afora,
trocando, equivocadamente, o "time is
life" pelo "time is
money", e transformando este último "em verdade de vida",
como diz Luiz Roberto Londres. Será que fui suficientemente claro ou o
que consegui foi deixá-los suficientemente confusos?
Para Franklin, autor
da frase "time is money", a
verdade vivida foi outra: "time is
life", diz Luiz Roberto Londres no final do último parágrafo de seu
excelente artigo. Considerando que Benjamin Franklin não patenteava seus
inventos porque considerava o conhecimento um patrimônio comum da humanidade,
embora tenha sido o sido ele o inventor do aforismo "time is money", dá para discordar de Londres quanto diz
que para Franklin o tempo era vida, e
não dinheiro? O que vocês acham?
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