terça-feira, 24 de novembro de 2015

No Planeta Marte

Não saciados pela colonização de países por eles propositadamente mantidos mais atrasados para melhor servirem aos seus egoísticos interesses, alguns dos países intelectualmente superiores (embora, muitas vezes, moralmente inferiores), há algum tempo, resolveram partir para voos mais altos. Em outras palavras, não saciados pela globocolonização resolveram partir para a galaxiacolonização. Colonização que, do ponto de vista de seres que se consideram na condição de os mais inteligentes de uma espécie autodenominada a inteligente do universo, torna-se algo bastante natural, pois, no seu entender, tal condição dá-lhes o direito de dispor não só de outros países, mas até mesmo de outros planetas da forma que melhor atenda seus caprichos.
E com a finalidade de exercer o direito citado na última frase acima, os terráqueos resolveram partir para outros planetas com o desejo de neles implantar sua equivocada maneira de conviver que até hoje não deu certo neste planeta. É considerando esse equivocado desejo que imagino tenha Frei Betto resolvido contar uma pequena e educativa história provocada por um fato ocorrido em 6 de agosto de 2012: a chegada do robô Curiosity ao planeta Marte. História publicada na edição de 19 de agosto de 2012 do jornal O Dia e reproduzida abaixo.
No Planeta Marte
Após pisar na Lua e fincar em seu solo a bandeira dos Estados Unidos, a Nasa aterrissa em Marte o robô Curiosity - após viajar 570 milhões de quilômetros em pouco mais de oito meses, a um custo de US$ 2,5 bilhões (R$ 5 bilhões).
Por fontes seguras, sei como os marcianos receberam o Curiosity.
- Que diabos caiu em nosso território? – indagou Elysium à sua mulher, Memnonia.
- Pelo aspecto, parece lixo do Planeta Água.
- Não me parece lixo, Memnonia. Repare, é um equipamento articulado.
- Talvez tenha vindo espionar a nossa civilização – suspeitou a mulher.
- Isso não me preocupa. Lembra quando, na década de 1950, nossos discos voadores foram até lá?
- Sim, Elysium, foi uma decepção. As imagens de TV captadas por nossas naves demonstraram que ali ainda não há vida inteligente. O que me impressionou – observou Memnonia – foi o contraste entre a sofisticação de certos equipamentos e a miséria em que vivia tanta gente. Enquanto uns trafegavam em veículos de luxo, outros rastejavam pelas calçadas suplicando por comida. Como é possível uma civilização que não prioriza a vida de seus semelhantes?
- Eu gostaria de repassar aos terráqueos um pouco de nossa história. Talvez isso os ajudasse a evoluir.
- Eles seriam mais felizes – enfatizou a mulher – se trocassem a devastação ambiental pela preservação; a guerra pela paz; a opressão pela justiça.
- Como foi positivo para nós trilhar esse caminho de sabedoria! Você está certa, Memnonia. O amor que nos une e nos faz feliz não poderá ser captado, pois os terráqueos ainda terão um longo percurso até conquistar a globoamorização que reina entre nós...
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"O que me impressionou foi o contraste entre a sofisticação de certos equipamentos e a miséria em que vivia tanta gente. Enquanto uns trafegavam em veículos de luxo, outros rastejavam pelas calçadas suplicando por comida. Como é possível uma civilização que não prioriza a vida de seus semelhantes?", diz Memnonia.
"Como é possível uma civilização que não prioriza a vida de seus semelhantes?", questiona Memnonia, uma marciana. "A civilização não tem como finalidade o progresso das máquinas, mas, sim o do homem.", afirma Alexis Carrel (1873-1944), cirurgião, fisiologista, biólogo e sociólogo que, em 1912, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia. Seria Alexis Carrel um marciano?
"Eu gostaria de repassar aos terráqueos um pouco de nossa história. Talvez isso os ajudasse a evoluir. Como foi positivo para nós trilhar esse caminho de sabedoria! Você está certa, Memnonia.," diz Elysium, um marciano. "Os povos inteligentes aprendem da experiência alheia; os medíocres aprendem por sua própria experiência; os ineptos simplesmente não aprendem.", diz Otto von Bismarck (1815-1898), o Chanceler de Ferro. "A lição mais direta do filme é que não aprendemos com o passado.", afirma Marcelo Gleiser, professor de física e astronomia do Dartmouth College, em Hanover (EUA), em seu artigo publicado na edição de 30 de junho de 2015, no qual opina sobre o filme "Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros", produzido por Steven Spielberg.
Mas enquanto "aprender da experiência alheia" é algo repugnante para a maioria dos equivocados seres da autodenominada espécie inteligente do universo, "não aprender com o passado", ou seja, não "aprender por sua própria experiência", está entre as práticas mais seguidas pela dita (bendita ou maldita) espécie. Sendo assim, em relação às três opções apresentadas na afirmação de Bismarck, em qual delas vocês colocam a autodenominada espécie inteligente do universo?
Uma espécie em um estágio evolutivo muito distante do citado na história contada por Frei Betto. Que estágio é esse? Aquele descrito por Elysium: "O amor que nos une e nos faz feliz não poderá ser captado, pois os terráqueos ainda terão um longo percurso até conquistar a globoamorização que reina entre nós...". Conquistar a globoamorização, eis a questão! Globoamorização, eis o estágio evolutivo a ser atingido!
E para terminar esta postagem, segue uma coincidência interessante. Para quem estiver atento a elas, é impressionante a quantidade de coincidências interessantes que a vida nos proporciona. O texto de Frei Betto é acompanhado de uma gravura onde aparecem os desenhos do robô Curiosity em Marte e o de uma criança dentro de um contorno com a forma do continente africano. O motivo que o levou a incluir tal gravura em seu artigo eu não exatamente qual foi, embora desconfie qual seja, mas o meu, para incluí-la nesta postagem, conto-lhes agora. Associar esta postagem com a anterior, pois, no meu entender, os conceitos de globoamorização, oriundo de Marte, segundo "fontes seguras de Frei Betto", e o de ubuntu (tema da postagem anterior), oriundo da África, têm tudo a ver. E é pelo pouco que têm a ver esses dois conceitos e a conduta humana que, a despeito da estupenda evolução tecnológica atingida, na questão moral esta civilização (sic) pouco evoluiu e de certa forma o homem até parece ainda continuar na época da caverna.

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