Continuação de quarta-feira
O idealismo, o
espírito que leva uma pessoa a acreditar que o mundo pode ser melhor, que as
coisas podem mudar, que um tempo novo há de vir, é hidropônico. Não cresce
naturalmente sem ajuda. Deve ser gerado pelo mesmo espírito que aprecia. Não só
porque quero que algo melhor aconteça, mas apenas porque vou acreditar que
existe o melhor na condição humana, até mesmo em seu pior. O mundo mudará
porque tem de mudar. O melhor simplesmente não pode ser. O idealismo é gerado
pelo idealismo.
A espiritualidade
judaica ensina que, se vivermos uma vida íntegra por tempo suficiente, no fim
seremos tão íntegros quanto parecemos. Ela nunca duvida da necessidade de
seguir em frente quando isso é o menos provável para ter sucesso. Onde muitos
criticam toda a noção da religião praticada por rotina, a comunidade judaica
simplesmente assume que, se fazemos algo com bastante frequência, no fim nos
tornaremos o que fazemos. "O coração é puxado pelas ações", dizem os rabinos. A
mensagem é clara: se fizermos algo por tempo suficiente, no fim seremos esse
algo. Se continuarmos fazendo, no fim entenderemos, no fim compreenderemos a
necessidade disso. Se formos em frente por bastante tempo, no fim nos daremos
por realizados. Interiorizaremos seu significado até que a ação e a intenção
sejam unas em nós e nós nelas. Então, aprenderemos a nos recusar a ser
desiludidos, a ser desencorajados, insistiremos em seguir em frente, seja "um
estardalhaço" ou não.
Mas, os rabinos também sabem, a união das duas não é a
única possibilidade. Não é a única coisa que pode acontecer e não é sempre que
acontece. Por quê? Porque, da mesma maneira que as ações podem mudar o coração,
também é verdade que o coração deve estar aberto para mais do que simplesmente
as próprias ações.
Em face a tal
idealismo impraticável – a noção de que posso me tornar aquilo em que acredito
simplesmente agindo como acredito por bastante tempo -, até o tradicionalista
mais comprometido, o pragmatista mais inflexível é forçado a pensar novamente.
(...) Todos nós consideramos
fácil fugir do ideal para o aceitável. É tão mais seguro, mais confortável,
saber que cumprimos as regras, que seguimos a doutrina, que andamos nos
caminhos das graças do mundo social, do que nos arriscar nas armadilhas do
profeta.
Perdemos um pedaço do
nosso idealismo a cada vez que escolhemos seguir as regras de uma sociedade em
vez de seus ideais. Toda vez que buscamos aprovação no lugar do entendimento,
no lugar da possibilidade, interrompemos outra parte da nossa alma. Começamos a
fazer o que é seguro em vez de fazer o que é sagrado. Começamos a defender o
que é aceitável em vez de insistir no que é necessário – para o pobre, para o
mundo.
(...) Dan está se saindo
bem, eu ouço. Estou certa de que Dan está até mesmo fazendo o bem. Se está
fazendo ou não o que precisa ser feito, dizendo o que precisa ser dito,
perguntando o que precisa ser perguntado, é outra questão. Essas coisas exigem
coragem. Essas coisas exigem um enorme esforço espiritual. Essas coisas exigem
imensa resiliência. Continuar dizendo "Por que não?" diante de um mundo que só
diz "Porque" – porque sempre foi assim, porque é desse jeito que as coisas são,
porque custaria muito dinheiro para fazer diferente, porque eu mandei – é
exaustivo. Pode ser até mesmo enlouquecedor. Pode ser desanimador, certamente.
Mas nunca pode ser inútil.
(...) Onde perdemos nosso
idealismo? Em nossa fome de aprovação. Como podemos reavivá-lo? Recusando-nos a
ignorar os gritos das pessoas por causa do sistema, recusando-nos sempre a
ficar calado.
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"O idealismo, o
espírito que leva uma pessoa a acreditar que o mundo pode ser melhor, que as
coisas podem mudar, que um tempo novo há de vir, é hidropônico. Não cresce
naturalmente sem ajuda.", afirma Joan Chittister. Sendo assim, creio que o que é dito em seu livro Bem-vindo à sabedoria do mundo – O que as grandes
religiões nos ensinam para viver melhor, no capítulo apresentado nesta postagem e na anterior, merece sérias reflexões.
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