quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Os mitos do progresso ameaçam o nosso futuro

"Tantos tentam salvar o mundo e ele continua insistentemente cada dia mais perto da destruição das condições de vida humana. (...) O engano está exatamente no foco em providências objetivas. (...) Só com o conhecimento da subjetividade seremos capazes de reverter o sentido que temos dado ao nosso "impulso evolutivo". Só mergulhando mais fundo em nós mesmos do que as raízes do comportamento destrutivo, poderemos inverter o processo."
Composto apenas de trechos extraídos do final da postagem anterior, o parágrafo acima tem a intenção de chamar atenção para a afinidade entre algumas ideias de Pedro Tornaghi e as de Rüdiger Dahlke escolhidas para serem espalhadas por este blog. Ideias externadas por Dahlke no texto usado como apresentação em seu livro "Qual é a Doença do Mundo? - Os mitos modernos ameaçam o nosso futuro", publicado, no Brasil, pela editora Cultrix.
Os mitos do progresso ameaçam o nosso futuro
Tudo vai melhorar se a gente se esforçar bastante. É mais ou menos assim que muitos exprimem sua esperança. E não deixa de ser esse o credo que os responsáveis pela economia e a política insistem em nos transmitir: se a economia crescer, tudo vai dar certo e o futuro que nos espera será cor-de-rosa; com o aumento do produto interno bruto, será possível financiar as melhoras necessárias; o livre mercado resolverá por si só todos os problemas - contanto que nos empenhemos e procuremos avançar juntos.
Mas aonde leva esse progresso? Eis uma pergunta que um número crescente de seres humanos faz a si mesmo ao perceber que a mudança cada vez mais rápida não atende aos interesses da grande maioria. O mito de um progresso que, sobretudo, faz bem passou a ser um tema frequente de discussão, e o mesmo ocorre com o mito das vantagens do livre mercado. É evidente que o progresso e o livre mercado mais abrem feridas do que ajudam a superar as dificuldades e criar novas perspectivas.
Via de regra, a esperança de generalizada melhora não se confirma, por maior que seja o fervor com que a promovem os devotos do progresso. É preciso um esforço ainda maior, ouvem dizer os céticos - conforme o surrado modelo "sempre dar mais de si", desmascarado por Paul Watzlawick. Geralmente, não se resolve nenhuma situação problemática aplicando ainda mais esforço do mesmo tipo. Com "sempre dar mais de si", não se solucionou um único problema fundamental. Quando muito, essa "estratégia" leva à escalada e ao colapso para um novo recomeço.
Para eliminar os mitos modernos, é necessário analisar mais exatamente os diversos fenômenos sociais e econômicos e seus efeitos sobre o indivíduo e sobre o conjunto da humanidade do ponto de vista espiritual, psicossomático e também social. Aliás, nesse aspecto, e sobretudo no que se refere às respostas essenciais às questões de significado humano, cada um de nós deve avaliar todos os fenômenos da vida cotidiana. Esse ponto de vista pode parecer estranho, já que vivemos em um mundo bastante alienado, para empregar uma expressão de Karl Marx.
Devido à sua própria natureza, a indústria e a economia pouco se interessam pela relação entre os fenômenos sociais e a situação espiritual. Seus objetivos são os índices de crescimento e o lucro, e, como a indústria e a economia dominam a nossa sociedade, todos os outros interesses e perspectivas da vida têm papel secundário. A mídia pouco fala neles, e, para nós, o que a mídia deixa de lado é como se não tivesse acontecido.
No entanto, fala-se muito em mudança de paradigmas. Na física e na matemática, faz tempo que ela já ocorreu; nas outras disciplinas, sobretudo nas ciências do espírito e da sociedade, ainda está por se verificar. Portanto, a antiga visão de mundo das ciências naturais, com sua noção de causalidade, continua definindo a nossa realidade. As velhas ciências naturais nos ensinam a procurar causas exclusivamente no passado. E essa obsoleta noção de mundo geralmente despreza as consequências sobre o futuro, principalmente quando elas são pouco edificantes. Contudo, já está passando da hora de colocar no nosso campo visual a causa finalis, a causa com efeito no futuro, da qual já falava Aristóteles: em busca de uma nova concepção de mundo eivada do conhecimento da sincronia.
Importante, nesse caminho, é o entendimento básico dos fenômenos sociais e ecológicos, tal como hoje se nos apresentam com toda a nitidez. A palavra grega óikos significa pátria. Ecologia seria, pois, o estudo do nosso planeta Terra. Só se passarmos a concebê-lo como a nossa única pátria e a compreender, em suas regras, as sociedades nele existentes é que conseguiremos perceber por que as esperanças unilaterais de progresso que constantemente nos inculcam nada têm de realistas.
Um de meus desejos é mostrar nas páginas seguintes quais são os erros fundamentais do sistema (de pensamento) convencional e quais os mitos modernos que nos entranham cada vez mais em velhos e novos becos sem saída. E, assim, espero deixar claro por que é preciso tomar um outro rumo caso ainda queiramos salvar o nosso planeta-pátria.
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Por que os mitos do progresso ameaçam o nosso futuro? Porque são verdadeiros exemplos de uso do equivocado foco apontado por Pedro Tornaghi: o foco em providências objetivas. O parágrafo abaixo, elaborado exclusivamente com trechos do texto apresentado acima, tem a intenção de evidenciar a afinidade entre as ideias de Tornaghi e de Rüdiger Dahlke.
"Tudo vai melhorar se a gente se esforçar bastante. (...) se a economia crescer, tudo vai dar certo e o futuro que nos espera será cor-de-rosa; com o aumento do produto interno bruto, será possível financiar as melhoras necessárias; o livre mercado resolverá por si só todos os problemas - contanto que nos empenhemos e procuremos avançar juntos. (...) É preciso um esforço ainda maior, ouvem dizer os céticos - conforme o surrado modelo 'sempre dar mais de si', desmascarado por Paul Watzlawick. Geralmente, não se resolve nenhuma situação problemática aplicando ainda mais esforço do mesmo tipo. Com 'sempre dar mais de si', não se solucionou um único problema fundamental. Quando muito, essa 'estratégia' leva à escalada e ao colapso para um novo recomeço."
"Com 'sempre dar mais de si', não se solucionou um único problema fundamental", diz Dahlke. E jamais se solucionará, digo eu, pois solucionar um problema fundamental é algo que só é possível após se chegar à causa fundamental. Causa essa que talvez seja única para todos os problemas fundamentais deste planeta: o equivocado comportamento do homem. Conserte-se o homem e o mundo estará consertado, eis a ideia passada em O homem como o centro do Universo, espalhada por este blog em 21 de outubro de 2011.
E uma vez admitido que a causa fundamental única é o comportamento do homem, o que nos resta é por em prática a seguinte afirmação de Pedro Tornaghi: "Só com o conhecimento da subjetividade seremos capazes de reverter o sentido que temos dado ao nosso "impulso evolutivo". Só mergulhando mais fundo em nós mesmos do que as raízes do comportamento destrutivo, poderemos inverter o processo.".
"Reverter o sentido que temos dado ao nosso 'impulso evolutivo'", diz Tornaghi. "Um de meus desejos é mostrar (...) quais são os erros fundamentais do sistema (de pensamento) convencional e quais os mitos modernos que nos entranham cada vez mais em velhos e novos becos sem saída. E, assim, espero deixar claro por que é preciso tomar um outro rumo caso ainda queiramos salvar o nosso planeta-pátria.", diz Dahlke como encerramento do texto usado como introdução em seu livro.
Reverter o sentido que temos dado ao nosso "impulso evolutivo", pois é preciso tomar um outro rumo caso ainda queiramos salvar o nosso planeta-pátria.", eis a junção das palavras de Tornaghi e de Dahlke. Faz sentido para vocês? Por onde vocês acreditam que deverá passar o outro rumo sugerido por Dahlke? Eu (e creio que também Tornaghi, quando sugere a mudança interna), acredito que seja pelo interior do ser humano. E vocês?
"É evidente que o progresso e o livre mercado mais abrem feridas do que ajudam a superar as dificuldades e criar novas perspectivas.", afirma Dahlke. Ou seja, são mitos que (para o bem de todos e felicidade geral da nação, digo, do planeta) precisam ser eliminados, mas cuja eliminação só ocorrerá se conseguirmos perceber que as esperanças unilaterais de progresso que constantemente nos inculcam nada têm de realistas. Isso faz sentido para vocês? Espero que sim. Afinal, por mais que a imensa maioria demonstre não perceber, a probabilidade de salvação da parte (cada um de nós) é diretamente proporcional a probabilidade de salvação do todo. E aqui o todo é o que Dahlke denomina o nosso planeta-pátria.
Planeta-pátria que, por meio de oito vídeos com duração de no máximo dois minutos, produzidos por Conservation International e que podem ser vistos no You Tube buscando "A Natureza Está Falando", nos adverte sobre as ameaças que pairam sobre a continuidade da incauta espécie humana como inquilina de um espaço que insiste em não aprender a preservar. Será que tais vídeos têm alguma coisa a ver com a afirmação de que os mitos do progresso ameaçam o nosso futuro? Será que vale a pena assisti-los? Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? E depois de lembrar duas frases da bela música da Legião Urbana, segue uma terceira que, no meu entender, tem tudo a ver com o futuro da espécie humana neste planeta, caso não consiga livrar-se da persistência em seu equivocado comportamento. Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação.

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