"Colocar-se no
lugar do outro é a verdadeira revolução.", afirma Roman Krznaric, um dos
fundadores de uma instituição denominada The School of Life (A Escola da Vida).
Afirmação que, no meu entender, pode servir intitular uma das principais
aulas de uma escola cuja intenção seja ensinar a viver e que pode ter em outra
feita no decorrer da entrevista um ótimo complemento: "Fazendo esse
exercício de se colocar no lugar do outro, é possível, sim, mudar o
mundo.".
Mais do que ser possível, vejo o exercício de
colocar-se no lugar do outro como a única
maneira de mudar o mundo para melhor - se considerarmos todos os aspectos -,
pois mudar ele sempre mudará, o problema é que enquanto em alguns aspectos ele
muda para melhor, em outros muda para pior.
"Em um livro intitulado Sem olhos em Gaza, publicado em 1938,
Aldous Huxley indaga sobre a possibilidade da paz, da bondade, do amor. Em
suma, da solidariedade humana. A mais básica constatação é que isso tem de
começar de dentro, em cada indivíduo: 'Estados
e nações não existem como tais. O que há são apenas pessoas'. Se pessoas
mudam, Estados podem mudar, como resultado cumulativo das mudanças individuais.
É a única possibilidade. O inferno diz ele, 'é a incapacidade de sermos
diferentes da criatura segundo a qual ordinariamente nos comportamos'."
O parágrafo acima foi extraído de um artigo
intitulado Huxley e a tentação da glória
publicado na edição de 11 de maio de 2002 do Jornal do Brasil, assinado pelo jornalista Marcus Penchel. Por que é
citado nesta postagem? Por sua afinidade com o trecho da entrevista com Roman
Krznaric apresentado no parágrafo abaixo.
"As pessoas acham que a paz e as
revoluções são construções de acordos políticos. Mas acredito que é possível
que isso seja feito nas raízes das relações humanas. Desmontando ignorâncias e
preconceitos. Há um enorme potencial no diálogo para comandar mudanças
profundas nas sociedades."
Que afinidade há entre Aldous Huxley e Roman
Krznaric? Ao "indagar sobre a possibilidade da paz, da bondade, do amor,
em suma, da solidariedade humana", Huxley chegou "a mais básica
constatação de que isso tem de começar de dentro, em cada indivíduo", ou
seja, a de que "a única possibilidade de mudar o mundo para melhor resulta
do cumulativo das mudanças individuais". Em busca do que pode originar a
verdadeira revolução, Krznaric chegou à constatação de que, diferentemente do
que acham as pessoas, "a paz e as revoluções não são construções de
acordos políticos", e sim de atuação "nas raízes das relações humanas".
E que, "desmontando ignorâncias e preconceitos, há um enorme potencial no
diálogo para comandar mudanças profundas nas sociedades.".
Ou seja, embora haja entre elas uma diferença
de setenta e cinco anos, no meu entender, as afirmações de Huxley e de
Krznaric, têm tudo a ver. Foi juntando suas afirmações que montei as seguintes
frases: "A verdadeira revolução", isto é, a transformação radical que
torne este mundo melhor, sob todos os aspectos, "tem de começar dentro de
cada indivíduo", "nas raízes das relações humanas", pois "Estados e nações não existem como tais. O que
há são apenas pessoas".
Concordo com Krznaric quando afirma que "há
um enorme potencial no diálogo para comandar mudanças profundas na
sociedade.", e sendo assim enxergo essa afirmação como um reforço àquela
que é feita no título desta postagem, pois entendo que a condição imprescindível para que
haja diálogo seja exatamente a disposição de cada interlocutor colocar-se no lugar
do outro.
"Colocar-se no lugar do
outro! Eis a única maneira de livrar este mundo do que Elie Wiesel (ganhador do
Nobel da Paz em 1986) definiu como "a personificação
do mal": a indiferença. "O oposto do amor não é
nenhum ódio, é a indiferença. O oposto de arte não é a feiúra, é a indiferença.
O oposto de fé não é nenhuma heresia, é a indiferença. E o oposto da vida não é
a morte, é a indiferença. Indiferença, para mim, é a personificação do
mal.", afirmou Wiesel.
Que afinidade há entre Aldous Huxley e Roman
Krznaric? Huxley, ao indagar sobre a possibilidade da paz, da bondade, do amor,
em suma, da solidariedade humana, chegou "a mais básica constatação de que
isso tem de começar de dentro, em cada indivíduo", ou seja, a de que a única
possibilidade de mudar o mundo para melhor resulta do cumulativo das mudanças
individuais. Krznaric, em busca do que possa originar a verdadeira revolução,
chegou à constatação de que, diferentemente do que acham as pessoas, "a
paz e as revoluções não são construções de acordos políticos", e sim de
atuação "nas raízes das relações humanas". E que, "desmontando
ignorâncias e preconceitos, há um enorme potencial no diálogo para comandar
mudanças profundas nas sociedades.".
Indiferença dos
aquinhoados com melhores condições intelectuais e / ou financeiras em relação à
desigualdade social que alastra-se como uma praga por este planeta onde a vida
foi reduzida ao plano econômico. Indiferença que, no entender de Padre Zezinho
scj, está na origem da criminalidade que tanto inferniza nossas vidas. "Em
cada ladrãozinho prepotente que inferniza nossas vidas está um pouco de nossa
indiferença, que nada fez pelas crianças que eles um dia foram...", diz ele,
em seu livro Pensando como Jesus pensou.
E ao falar em indiferença
e em inferno, lembro uma afirmação de Franz Kafka (1883 - 1924): "Existem
dois principais pecados humanos a partir dos quais derivam todos os outros:
impaciência e indiferença. Por causa da impaciência fomos expulsos do Paraíso,
por causa da indiferença não podemos voltar.".
Padre Zezinho, Jesus,
pecados, inferno, Paraíso. Será que isso nos lembra religiões? A mim, sim. E ao lembrar-me,
leva-me a lembrar também de uma regra que, no meu entender, resume toda e
qualquer religião. Que regra é essa? Aquela que muitos chamam de regra áurea: "Não faça aos outros o que você não quer que seja feito a você."
Regra que (assim como foi dito em um parágrafo acima) eu enxergo como um
reforço ao título desta postagem: colocar-se
no lugar do outro é a verdadeira revolução. E talvez a verdadeira religião.
Colocar-se no lugar do outro para nessa posição
poder olhar para nós mesmos sem recorrer a imagens refletidas em espelhos, e
sim observando os reflexos de nossas ações, e omissões, no rumo
tomado por esta civilização (sic) em sua viagem suicida pós-moderna. Olhar de uma posição que seja capaz de nos
proporcionar reflexões sobre como somos, como vivemos, ou melhor, como convivemos.
Enfim, como afetamos esta insana sociedade da qual somos parte atuante, seja por ações ou por omissões.
Não, colocar-se no lugar do outro não é, como
pode sugerir a mentalidade competitiva que assola este planeta, tomar
fisicamente o lugar do outro, e sim, em um sentido figurado, "'calçar os sapatos de outra pessoa'.
Olhar o mundo pela visão do outro (usando palavras de Roman Krznaric).".
Sim, colocar-se no lugar do outro talvez seja
o que há de mais imprescindível nesta civilização (sic) onde, em termos de
colocar-se em relação ao outro, o comportamento da imensa maioria de seus
integrantes ocorre segundo os dois modos descritos a seguir. Acima do outro,
quando se trata de tirar proveito de vantagens, em conformidade com algo denominado
meritocracia. Afinal, na vida as coisas devem ser dadas a quem as merece, não é
mesmo? Abaixo do outro, quando se trata de ser responsável por corrigir ou
eliminar qualquer coisa que haja de ruim nesta insana sociedade onde a culpa é
sempre do outro.
Sim, colocar-se no lugar do outro é, no meu
entender, a única maneira de tornar o mundo um lugar onde, algum dia, os seres
desta dita espécie inteligente do Universo, justificando tal denominação, consigam,
finalmente, conviver ao lado do outro, em um ambiente onde reinem a paz, a bondade e o amor. Em suma, onde reine a solidariedade
humana (repetindo aqui as palavras de Aldous Huxley citadas no terceiro parágrafo).
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