quinta-feira, 16 de julho de 2015

Reflexões provocadas por "Colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução"

"Colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução.", afirma Roman Krznaric, um dos fundadores de uma instituição denominada The School of Life (A Escola da Vida). Afirmação que, no meu entender, pode servir intitular uma das principais aulas de uma escola cuja intenção seja ensinar a viver e que pode ter em outra feita no decorrer da entrevista um ótimo complemento: "Fazendo esse exercício de se colocar no lugar do outro, é possível, sim, mudar o mundo.".
Mais do que ser possível, vejo o exercício de colocar-se no lugar do outro como a única maneira de mudar o mundo para melhor - se considerarmos todos os aspectos -, pois mudar ele sempre mudará, o problema é que enquanto em alguns aspectos ele muda para melhor, em outros muda para pior.
"Em um livro intitulado Sem olhos em Gaza, publicado em 1938, Aldous Huxley indaga sobre a possibilidade da paz, da bondade, do amor. Em suma, da solidariedade humana. A mais básica constatação é que isso tem de começar de dentro, em cada indivíduo: 'Estados e nações não existem como tais. O que há são apenas pessoas'. Se pessoas mudam, Estados podem mudar, como resultado cumulativo das mudanças individuais. É a única possibilidade. O inferno diz ele, 'é a incapacidade de sermos diferentes da criatura segundo a qual ordinariamente nos comportamos'."
O parágrafo acima foi extraído de um artigo intitulado Huxley e a tentação da glória publicado na edição de 11 de maio de 2002 do Jornal do Brasil, assinado pelo jornalista Marcus Penchel. Por que é citado nesta postagem? Por sua afinidade com o trecho da entrevista com Roman Krznaric apresentado no parágrafo abaixo.
"As pessoas acham que a paz e as revoluções são construções de acordos políticos. Mas acredito que é possível que isso seja feito nas raízes das relações humanas. Desmontando ignorâncias e preconceitos. Há um enorme potencial no diálogo para comandar mudanças profundas nas sociedades."
Que afinidade há entre Aldous Huxley e Roman Krznaric? Ao "indagar sobre a possibilidade da paz, da bondade, do amor, em suma, da solidariedade humana", Huxley chegou "a mais básica constatação de que isso tem de começar de dentro, em cada indivíduo", ou seja, a de que "a única possibilidade de mudar o mundo para melhor resulta do cumulativo das mudanças individuais". Em busca do que pode originar a verdadeira revolução, Krznaric chegou à constatação de que, diferentemente do que acham as pessoas, "a paz e as revoluções não são construções de acordos políticos", e sim de atuação "nas raízes das relações humanas". E que, "desmontando ignorâncias e preconceitos, há um enorme potencial no diálogo para comandar mudanças profundas nas sociedades.".
Ou seja, embora haja entre elas uma diferença de setenta e cinco anos, no meu entender, as afirmações de Huxley e de Krznaric, têm tudo a ver. Foi juntando suas afirmações que montei as seguintes frases: "A verdadeira revolução", isto é, a transformação radical que torne este mundo melhor, sob todos os aspectos, "tem de começar dentro de cada indivíduo", "nas raízes das relações humanas", pois "Estados e nações não existem como tais. O que há são apenas pessoas".
Concordo com Krznaric quando afirma que "há um enorme potencial no diálogo para comandar mudanças profundas na sociedade.", e sendo assim enxergo essa afirmação como um reforço àquela que é feita no título desta postagem, pois entendo que a condição imprescindível para que haja diálogo seja exatamente a disposição de cada interlocutor colocar-se no lugar do outro.
"Colocar-se no lugar do outro! Eis a única maneira de livrar este mundo do que Elie Wiesel (ganhador do Nobel da Paz em 1986) definiu como "a personificação do mal": a indiferença. "O oposto do amor não é nenhum ódio, é a indiferença. O oposto de arte não é a feiúra, é a indiferença. O oposto de fé não é nenhuma heresia, é a indiferença. E o oposto da vida não é a morte, é a indiferença. Indiferença, para mim, é a personificação do mal.", afirmou Wiesel.
Que afinidade há entre Aldous Huxley e Roman Krznaric? Huxley, ao indagar sobre a possibilidade da paz, da bondade, do amor, em suma, da solidariedade humana, chegou "a mais básica constatação de que isso tem de começar de dentro, em cada indivíduo", ou seja, a de que a única possibilidade de mudar o mundo para melhor resulta do cumulativo das mudanças individuais. Krznaric, em busca do que possa originar a verdadeira revolução, chegou à constatação de que, diferentemente do que acham as pessoas, "a paz e as revoluções não são construções de acordos políticos", e sim de atuação "nas raízes das relações humanas". E que, "desmontando ignorâncias e preconceitos, há um enorme potencial no diálogo para comandar mudanças profundas nas sociedades.".
Indiferença dos aquinhoados com melhores condições intelectuais e / ou financeiras em relação à desigualdade social que alastra-se como uma praga por este planeta onde a vida foi reduzida ao plano econômico. Indiferença que, no entender de Padre Zezinho scj, está na origem da criminalidade que tanto inferniza nossas vidas. "Em cada ladrãozinho prepotente que inferniza nossas vidas está um pouco de nossa indiferença, que nada fez pelas crianças que eles um dia foram...", diz ele, em seu livro Pensando como Jesus pensou.
E ao falar em indiferença e em inferno, lembro uma afirmação de Franz Kafka (1883 - 1924): "Existem dois principais pecados humanos a partir dos quais derivam todos os outros: impaciência e indiferença. Por causa da impaciência fomos expulsos do Paraíso, por causa da indiferença não podemos voltar.".
Padre Zezinho, Jesus, pecados, inferno, Paraíso. Será que isso nos lembra religiões? A mim, sim. E ao lembrar-me, leva-me a lembrar também de uma regra que, no meu entender, resume toda e qualquer religião. Que regra é essa? Aquela que muitos chamam de regra áurea: "Não faça aos outros o que você não quer que seja feito a você." Regra que (assim como foi dito em um parágrafo acima) eu enxergo como um reforço ao título desta postagem: colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução. E talvez a verdadeira religião.
Colocar-se no lugar do outro para nessa posição poder olhar para nós mesmos sem recorrer a imagens refletidas em espelhos, e sim observando os reflexos de nossas ações, e omissões, no rumo tomado por esta civilização (sic) em sua viagem suicida pós-moderna. Olhar de uma posição que seja capaz de nos proporcionar reflexões sobre como somos, como vivemos, ou melhor, como convivemos. Enfim, como afetamos esta insana sociedade da qual somos parte atuante, seja por ações ou por omissões.
Não, colocar-se no lugar do outro não é, como pode sugerir a mentalidade competitiva que assola este planeta, tomar fisicamente o lugar do outro, e sim, em um sentido figurado, "'calçar os sapatos de outra pessoa'. Olhar o mundo pela visão do outro (usando palavras de Roman Krznaric).".
Sim, colocar-se no lugar do outro talvez seja o que há de mais imprescindível nesta civilização (sic) onde, em termos de colocar-se em relação ao outro, o comportamento da imensa maioria de seus integrantes ocorre segundo os dois modos descritos a seguir. Acima do outro, quando se trata de tirar proveito de vantagens, em conformidade com algo denominado meritocracia. Afinal, na vida as coisas devem ser dadas a quem as merece, não é mesmo? Abaixo do outro, quando se trata de ser responsável por corrigir ou eliminar qualquer coisa que haja de ruim nesta insana sociedade onde a culpa é sempre do outro.
Sim, colocar-se no lugar do outro é, no meu entender, a única maneira de tornar o mundo um lugar onde, algum dia, os seres desta dita espécie inteligente do Universo, justificando tal denominação, consigam, finalmente, conviver ao lado do outro, em um ambiente onde reinem a paz, a bondade e o amor. Em suma, onde reine a solidariedade humana (repetindo aqui as palavras de Aldous Huxley citadas no terceiro parágrafo).
E colocando-me no lugar do outro, sabendo que cada vez mais as pessoas dedicam menos tempo a leituras de textos que excedem uma determinada, e pequena, quantidade de linhas, aqui termino estas Reflexões provocadas por – colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução.

Nenhum comentário: