quinta-feira, 9 de julho de 2015

Colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução

Neste blog onde a próxima ideia a ser espalhada geralmente é inspirada em algo dito na postagem anterior, a inspiração para esta postagem veio da seguinte afirmação feita por Raina Al-Abdullah em O avanço da tecnologia: "Como seria imensa a compreensão e a compaixão se nos colocássemos no lugar do outro" (os grifos são meus). Foi ao associá-la a algo dito no subtítulo de uma reportagem–entrevista publicada na edição de 16 de setembro de 2013 do jornal O Estado de S. Paulo, em uma página intitulada Direto da Fonte - Sonia Racy, assinada (naquela edição) por Marília Neustein, que escolhi o tema para esta postagem.
A reportagem é intitulada A ideia de felicidade ocidental, baseada no individualismo, falhou. O subtítulo é: "Fundador da The School of Life vem ao País dar palestras sobre compaixão e trabalho. Para o filósofo australiano, colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução". Os grifos são meus. O filósofo australiano é Roman Krznaric.
Sendo um dos fundadores da The School of Life, na Inglaterra, Roman Krznaric dedica-se a incentivar o que chama de "questionamentos sobre a vida". Autor dos livros Como encontrar o trabalho da sua vida e O Poder da Empatia (A arte de se colocar no lugar do outro para transformar o mundo), Roman veio ao Brasil em setembro de 2013 para dar palestras sobre compaixão e trabalho.
Na entrevista que originou a referida reportagem, Roman fala sobre trabalho e empatia, e para esta postagem dela extraí apenas o trecho final onde são apresentadas as perguntas e respostas referentes à empatia.
"Como seria imensa a compreensão e a compaixão se nos colocássemos no lugar do outro", diz a rainha que associa o progresso real ao "Retorno aos valores universais que nos ligam um ao outro.". Para o filósofo que veio ao Brasil para dar palestras sobre compaixão e trabalho, "colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução".
Será que apresentar a entrevista do filósofo Roman Krznaric na postagem que sucede a que apresentou o artigo da rainha Raina Ab-Abdullah está em conformidade com a prática do método das associações sucessivas citada no primeiro parágrafo? Para ajudá-los a responder tal questão selecionei para esta postagem apenas o trecho da reportagem onde é focalizada a ideia de colocar-se no lugar do outro. Os grifos no subtítulo são meus.
A ideia de felicidade ocidental, baseada no individualismo, falhou
Fundador da The School of Life vem ao País dar palestras sobre compaixão e trabalho. Para o filósofo australiano, colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução
(...) 
Crê que as sociedades contemporâneas continuam incentivando o sucesso por meio das conquistas individuais?
Perseguir o interesse próprio foi a grande propaganda do último século. Entretanto, ser humano não é apenas seguir os desejos individuais. A ideia de felicidade ocidental falhou. A introspecção, o interesse próprio, perseguir valores que não envolvam o coletivo... Temos a tendência a sentir compaixão uns pelos outros. Somos criaturas empáticas. Há estudos que mostram que compaixão dá prazer. Somos também coletivos. Formamos comunidades de todos os tipos, o tempo inteiro. As pessoas estão, cada vez mais, querendo fazer parte de algo maior do que elas mesmas.
O senhor tem a ideia de criar um Museu da Empatia. O que é esse projeto?
É a maior ambição da minha vida. Estamos em desenvolvimento ainda. Trata-se de um lugar onde você pode entrar e conversar com pessoas que não conhece. Fazer um "laboratório humano". Assim como você empresta livros de uma biblioteca, será possível "emprestar pessoas" para uma conversa. Nesse processo também quero criar uma plataforma online, em que será possível "baixar" exposições.
Como?
Você poderá estar em São Paulo e fazer parte do Museu da Empatia, dividindo histórias de como, por exemplo, você faz uma "conversa-refeição" – que é um conceito criado por nós na The School of Life. "Conversa-refeição" nada mais é do que estranhos que se sentam a uma mesa e, no lugar de um menu gastronômico, recebem um cardápio de ideais. Com questões sobre a vida do tipo: "De que maneira o amor mudou a sua história?", "Como ser mais corajoso?" ou "Como ter mais satisfação no trabalho". Meu objetivo é que as pessoas possam baixar esses menus, com instruções para fazer isso em suas comunidades.
O senhor diz que a "empatia", no sentido de compaixão, é algo capaz de criar uma revolução. Poderia explicar?
A ideia de empatia é, para mim, o ato de "calçar os sapatos de outra pessoa". Olhar o mundo pela visão do outro. E, normalmente, quando pensamos nessas coisas, sempre consideramos um relacionamento entre duas pessoas. Entretanto, se olharmos a história, em todo o mundo, vemos que movimentos de empatia coletiva tiveram momentos de grande êxito. Em outros, sofreram um colapso e desapareceram, como no Holocausto e no genocídio de Ruanda. As pessoas podem agir juntas. Fazendo esse exercício de se colocar no lugar do outro, é possível, sim, mudar o mundo.
Tem um exemplo de um desses momentos?
Na Europa e nos EUA, no século 18, quando houve um grande movimento contra a escravidão. Foi disseminada uma grande reflexão sobre o que era ser escravo. De tempos em tempos, surgem pessoas que se organizam para desafiar atitudes de injustiça. E muitas dessas pessoas são motivadas pela empatia. Hoje, no Oriente Médio, há muitas iniciativas para criar paz entre palestinos e israelenses. As pessoas acham que a paz e as revoluções são construções de acordos políticos. Mas acredito que é possível que isso seja feito nas raízes das relações humanas. Desmontando ignorâncias e preconceitos. Há um enorme potencial no diálogo para comandar mudanças profundas nas sociedades.
Como nutrir esse sentimento em épocas de extremismos?
Nutrir empatia em um local cheio de preconceitos é difícil. A saída para isso é alimentar a curiosidade pelo outro. Nós não conversamos com quem não conhecemos. Esse seria um belo exercício de sensibilização. Ficamos muito tempo com pessoas que são como nós.
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"As pessoas acham que a paz e as revoluções são construções de acordos políticos. Mas acredito que é possível que isso seja feito nas raízes das relações humanas. Desmontando ignorâncias e preconceitos. Há um enorme potencial no diálogo para comandar mudanças profundas nas sociedades.", afirma Roman Krznaric no final da penúltima resposta. Para quem ainda tenha a intenção de participar do que ele denomina "a verdadeira revolução", creio que a entrevista de Roman Krznaric dê o que pensar.

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